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Parentesco e aliança entre os Kalapalo do Alto Xingu - Comunidade ...

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Vê-se assim que é perfeitamente p<strong>os</strong>sível integrar <strong>os</strong> casament<strong>os</strong> de noiv<strong>os</strong> e de<br />

namorad<strong>os</strong> em um mesmo sistema de casamento <strong>entre</strong> prim<strong>os</strong> cruzad<strong>os</strong> veicula<strong>do</strong> através de<br />

uma terminologia iroquesa. Esta formulação, a princípio, deixaria de fora <strong>os</strong> casament<strong>os</strong> com<br />

não-parentes; mas, se levarm<strong>os</strong> em conta <strong>os</strong> comentári<strong>os</strong> feit<strong>os</strong> no começo deste capítulo<br />

sobre a assimilação de pessoas não-aparentadas a parentes dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> das<br />

relações interpessoais, vê-se que na verdade <strong>os</strong> casament<strong>os</strong> <strong>entre</strong> pessoas que não mantêm<br />

relações genealógicas também podem se adequar ao modelo <strong>do</strong> casamento de prim<strong>os</strong>. Mas<br />

este fato c<strong>os</strong>tuma exigir a mediação de uma figura de para-parentesco: <strong>os</strong> amig<strong>os</strong> (ato).<br />

Casament<strong>os</strong> <strong>entre</strong> não-parentes parecem ocorrer de duas formas, às vezes<br />

complementares (mas não necessariamente): através da troca de irmãs e das relações<br />

intermediadas pel<strong>os</strong> “amig<strong>os</strong>” (ato) de um homem. A primeira, em tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> cas<strong>os</strong> que foram<br />

registrad<strong>os</strong> <strong>entre</strong> <strong>os</strong> antig<strong>os</strong> habitantes de Aiha, se realizou <strong>entre</strong> homens cuj<strong>os</strong> descendentes<br />

afirmam não ter si<strong>do</strong> parentes, sugerin<strong>do</strong> que a troca restrita através da troca de irmãs parece<br />

ser um meio de incorporação da alteridade, e a participação d<strong>os</strong> “amig<strong>os</strong>” neste processo de<br />

“captação” de não-parentes parece fundamental. Ao se situarem no pólo mais distante da<br />

op<strong>os</strong>ição <strong>entre</strong> consangüinidade e afinidade (pois em muit<strong>os</strong> cas<strong>os</strong> não há relações de<br />

cognação <strong>entre</strong> “amig<strong>os</strong>”), <strong>os</strong> “amig<strong>os</strong>” se colocam no pólo da afinidade potencial, que, como<br />

afirma Viveir<strong>os</strong> de Castro (2002), comporta relações <strong>entre</strong> estas pessoas que são relações de<br />

afinidade desprovidas de conteú<strong>do</strong> matrimonial (como se f<strong>os</strong>sem relações <strong>entre</strong> afins que não<br />

trocaram mulheres, mas que trocam outras coisas – objet<strong>os</strong>, rit<strong>os</strong>, etc.). No caso kalapalo,<br />

“amig<strong>os</strong>” trocam presentes, mas estas relações podem servir para a produção de<br />

p<strong>os</strong>sibilidades matrimoniais. Os amig<strong>os</strong> de outras aldeias servem como via de acesso a<strong>os</strong><br />

homens em visita a estes grup<strong>os</strong> para diferentes grup<strong>os</strong> <strong>do</strong>méstic<strong>os</strong> e redes de relações,<br />

articulan<strong>do</strong> <strong>os</strong> encontr<strong>os</strong> amor<strong>os</strong><strong>os</strong> de seus amig<strong>os</strong> “estrangeir<strong>os</strong>” com suas “namoradas”<br />

(ajo), que podem resultar em casament<strong>os</strong>. E amig<strong>os</strong> em uma mesma aldeia também podem<br />

fazer o mesmo, facilitan<strong>do</strong> o acesso a suas irmãs ou primas. Portanto, mesmo as <strong>aliança</strong>s <strong>entre</strong><br />

não parentes c<strong>os</strong>tumam ser articuladas por pessoas às quais Ego já devia estar relaciona<strong>do</strong><br />

através de laç<strong>os</strong> de afinidade potencial (como aqueles existentes <strong>entre</strong> “amig<strong>os</strong>”, ato), mas<br />

que são relações de “para-parentesco” (VIVEIROS DE CASTRO, 1986, 2002). E muitas<br />

vezes estes “para-parentes”, <strong>os</strong> “amig<strong>os</strong>”, são assimilad<strong>os</strong> a prim<strong>os</strong> cruzad<strong>os</strong>, como qualquer<br />

um que faça pesquisa no <strong>Alto</strong> <strong>Xingu</strong> em situações de contato de etnias distintas deve saber, ou<br />

a irmã<strong>os</strong> de longe, dependen<strong>do</strong> da distância social <strong>entre</strong> amb<strong>os</strong>, ligada à residência. Portanto,<br />

casament<strong>os</strong> <strong>entre</strong> não-parentes podem ser articulad<strong>os</strong> por meio de homens classificad<strong>os</strong> como<br />

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