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Parentesco e aliança entre os Kalapalo do Alto Xingu - Comunidade ...

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enquanto na teoria “clássica” das Estruturas Elementares <strong>do</strong> <strong>Parentesco</strong> (LÉVI-STRAUSS,<br />

1976; <strong>do</strong>ravante referida como EEP) a <strong>aliança</strong> só pode ser vista como um fato a p<strong>os</strong>teriori às<br />

relações de unifiliação a grup<strong>os</strong> corporad<strong>os</strong> de natureza sociocêntrica (metades, classes, sub-<br />

classes, clãs, linhagens, etc.), Dumont m<strong>os</strong>trou que, <strong>entre</strong> <strong>os</strong> pov<strong>os</strong> dravidian<strong>os</strong> <strong>do</strong> sul da<br />

Índia, a <strong>aliança</strong> pode ser transmitida genealogicamente tanto quanto a própria<br />

consangüinidade, de mo<strong>do</strong> que a <strong>aliança</strong> de casamento não depende da existência de qualquer<br />

princípio sociocêntrico de classificação, o que tem ti<strong>do</strong> um rendimento analítico muito<br />

grande na América <strong>do</strong> Sul desde então.<br />

Viveir<strong>os</strong> de Castro (1993a, 1993b, 1995) sugeriu que a maioria das sociedades<br />

amazônicas p<strong>os</strong>sui, de fato, sistemas dravidian<strong>os</strong> (isto é, cuja op<strong>os</strong>ição <strong>entre</strong> parentes<br />

paralel<strong>os</strong> e cruzad<strong>os</strong> é equivalente à op<strong>os</strong>ição <strong>entre</strong> consangüíne<strong>os</strong> e afins e está associada a<br />

formas de transmissão da <strong>aliança</strong> e casamento de prim<strong>os</strong> cruzad<strong>os</strong>), inclusive <strong>os</strong> pov<strong>os</strong> alto-<br />

xinguan<strong>os</strong>. Mas <strong>entre</strong> elas a op<strong>os</strong>ição <strong>entre</strong> consangüinidade e afinidade não seria<br />

eqüistatutária como Dumont havia sugeri<strong>do</strong> sobre <strong>os</strong> pov<strong>os</strong> dravidian<strong>os</strong> da Índia: na América<br />

<strong>do</strong> Sul esta seria uma op<strong>os</strong>ição hierárquica produzida pela aplicação de um gradiente de<br />

distância sobre todas as classificações de parentesco (o que produziria uma fratura na<br />

afinidade que faria com que <strong>os</strong> term<strong>os</strong> ficassem separad<strong>os</strong> das relações, e a afinidade “real”<br />

ficasse separada da “affinibility”, da qual já haviam fala<strong>do</strong> Rivière e Basso em context<strong>os</strong><br />

etnográfic<strong>os</strong> distint<strong>os</strong>).<br />

De acor<strong>do</strong> com o modelo de Viveir<strong>os</strong> de Castro (Ibid.), tal distinção freqüente <strong>entre</strong> a<br />

afinidade real e a “affinibility” estaria relacionada à presença generalizada nas sociedades<br />

ameríndias de princípi<strong>os</strong> laterais de distância social na classificação d<strong>os</strong> parentes, que<br />

interfeririam decisivamente na bipartição categorial das terminologias de parentesco. Isto é, a<br />

op<strong>os</strong>ição <strong>entre</strong> parentes paralel<strong>os</strong> e cruzad<strong>os</strong>, consangüíne<strong>os</strong> e afins (característica d<strong>os</strong><br />

sistemas dravidian<strong>os</strong>, <strong>entre</strong> <strong>os</strong> quais figurariam <strong>os</strong> sistemas alto-xinguan<strong>os</strong>), seria matizada em<br />

função de formas de classificação que obedecem a uma lógica concêntrica <strong>do</strong> próximo e <strong>do</strong><br />

distante, produzin<strong>do</strong> “uma estrutura hierárquica em que o englobamento da afinidade pela<br />

consangüinidade no interior da esfera d<strong>os</strong> cognat<strong>os</strong> ‘inverte a ordem superior <strong>do</strong> valor’”<br />

(SOUZA, 1995, p. 159), pois no exterior desta esfera ocorre o inverso: a afinidade engloba a<br />

consangüinidade. Mais <strong>do</strong> que isto, esta pre<strong>do</strong>minância da afinidade n<strong>os</strong> limites <strong>do</strong> parentesco<br />

faz com que ela opere sua abertura para o “exterior”, isto é, que a afinidade seja a ponte <strong>entre</strong><br />

o “interior” <strong>do</strong> parentesco e uma “exterioridade” sociopolítica, o que permite tanto a<br />

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