Parentesco e aliança entre os Kalapalo do Alto Xingu - Comunidade ...
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A partir destas distinções <strong>entre</strong> SE, SSC e SC feitas por Héritier, Viveir<strong>os</strong> de Castro<br />
(1990, p. 45) introduziu uma questão trazida pelo material etnográfico sul-americano e<br />
indiano que o levou a formular uma questão de ordem teórica mais geral:<br />
Ora, se tomarm<strong>os</strong> como demonstra<strong>do</strong> que há sistemas de troca restrita (com terminologia<br />
“prescritiva”) que não exibem unifiliação nem grup<strong>os</strong> corporad<strong>os</strong>, funcionan<strong>do</strong> em sociedades<br />
relativamente grandes – Índia <strong>do</strong> Sul – ou onde as “unidades” de troca são contextuais<br />
(poden<strong>do</strong>, no caso limite, se reduzir a grup<strong>os</strong> de german<strong>os</strong> ou mesmo a indivídu<strong>os</strong> – América<br />
<strong>do</strong> Sul), então a diferença <strong>entre</strong> SE “restrit<strong>os</strong>” e SC deve ser redefinida.<br />
A solução <strong>do</strong> autor foi “redividir a partição SE ‘restrit<strong>os</strong>’ / SC” (Id. Ibid.), quebran<strong>do</strong> o<br />
primeiro tipo em sistemas de troca restrita exclusiva (<strong>entre</strong> 2n classes) e sistemas de troca<br />
restrita inclusiva (EKEH, 1974), n<strong>os</strong> quais cada grupo estabelece <strong>aliança</strong>s com um número<br />
indetermina<strong>do</strong> de parceir<strong>os</strong> segun<strong>do</strong> a fórmula AB, mas onde o número de parceir<strong>os</strong> não é<br />
redutível a <strong>do</strong>is. Entre este último tipo estariam <strong>os</strong> sistemas de troca multibilateral e <strong>os</strong> SC em<br />
geral 132 .<br />
Um sistema multibilateral poderia ser descrito minimamente por um sistema de três<br />
parceir<strong>os</strong> que casam bilateralmente <strong>entre</strong> si, de mo<strong>do</strong> que tod<strong>os</strong> se vêem como aliad<strong>os</strong>. Desta<br />
forma, rompe-se com a equação comutativa “alia<strong>do</strong> de alia<strong>do</strong> é consangüíneo” e instaura-se<br />
uma equação não-comutativa: “alia<strong>do</strong> de alia<strong>do</strong> é (ou pode ser) alia<strong>do</strong>”.<br />
Um sistema como este teria como base a troca patrilateral (VIVEIROS DE CASTRO,<br />
1990, 1993b): pois, das três fórmulas de casamento de prim<strong>os</strong>, aquela que p<strong>os</strong>tula o<br />
casamento com a FZD é a única que comporta trocas simétricas (porém diferidas) <strong>entre</strong> n<br />
parceir<strong>os</strong> onde n não é redutível a <strong>do</strong>is. Em um esquema de troca patrilateral, um <strong>do</strong>a<strong>do</strong>r em<br />
uma geração torna-se receptor na outra; e em sistemas desse tipo a troca de irmãs em gerações<br />
consecutivas é proibida, pois, caso contrário, teríam<strong>os</strong> um sistema de troca restrita exclusiva<br />
(AB elementar). Entretanto, retiran<strong>do</strong>-se esta proibição e duplican<strong>do</strong> <strong>os</strong> casais de um irmão e<br />
uma irmã em cada unidade de troca, um sistema patrilateral pode ser transforma<strong>do</strong> em um<br />
sistema multibilateral semi-complexo; manten<strong>do</strong>-se o impedimento, então o des<strong>do</strong>bramento<br />
espacial das unidades (o “achatamento geracional”) se torna desnecessário, sen<strong>do</strong> substituí<strong>do</strong><br />
132 Um sistema multibilateral pode ser tanto um SC quanto um SSC.<br />
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