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Parentesco e aliança entre os Kalapalo do Alto Xingu - Comunidade ...

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se então<br />

Admitin<strong>do</strong>-se a preferência d<strong>os</strong> <strong>Kalapalo</strong> pelo casamento com parentes distantes, tem-<br />

um sistema que, em primeiro lugar, quebra a classe d<strong>os</strong> ‘cruzad<strong>os</strong>' em duas: a afinidade virtual<br />

é como que absorvida, de um la<strong>do</strong>, pela consangüinidade, de outro, pela afinidade potencial -<br />

pois o cruza<strong>do</strong> distante vai ser incluí<strong>do</strong> numa categoria cujo conteú<strong>do</strong> fundamental de<br />

alteridade é sobredeterminante em relação ao conteú<strong>do</strong> "de parentesco”. (SOUZA, 1992, p.<br />

111)<br />

A terminologia geracional a<strong>do</strong>tada pel<strong>os</strong> <strong>Kalapalo</strong> seria, assim, uma forma de tornar<br />

produtiva a distinção <strong>entre</strong> afins virtuais, efetiv<strong>os</strong> e potenciais, de mo<strong>do</strong> que através da<br />

assimilação terminológica d<strong>os</strong> afins virtuais próxim<strong>os</strong> a consangüíne<strong>os</strong> o sistema produziria<br />

um arremesso das <strong>aliança</strong>s para a periferia da parentela e para o campo d<strong>os</strong> não-parentes, cuja<br />

conseqüência óbvia “é a quebra da estrutura diádica da op<strong>os</strong>ição terminológica, o<br />

concentrismo <strong>do</strong> modelo da cognação sen<strong>do</strong> potencialmente ternário: o afim de um afim não é<br />

necessariamente um consangüíneo (cf. Viveir<strong>os</strong> de Castro, 1990: 22-9)” (SOUZA, 1992, p.<br />

112).<br />

A utilização de terminologias geracionais é ampla no escopo d<strong>os</strong> sistemas dravidian<strong>os</strong><br />

da Amazônia, e Viveir<strong>os</strong> de Castro dividiu-as em <strong>do</strong>is “tip<strong>os</strong> ideais”: as formas “fortes” (que<br />

exprimem um conceito p<strong>os</strong>itivo de exogamia) e “fracas” (que conservam a bipartição em G +1 ,<br />

restringem-se apenas a uma parcela <strong>do</strong> campo terminológico e mantêm a p<strong>os</strong>sibilidade <strong>do</strong><br />

casamento de prim<strong>os</strong> cruzad<strong>os</strong> próxim<strong>os</strong>). A terminologia kalapalo encontra-se a meio<br />

caminho <strong>entre</strong> estes tip<strong>os</strong>, pois ela mantém o cruzamento na geração d<strong>os</strong> pais de Ego, é<br />

relacional (de mo<strong>do</strong> que <strong>os</strong> prim<strong>os</strong> cruzad<strong>os</strong> próxim<strong>os</strong> nunca deixam de ser propriamente<br />

cruzad<strong>os</strong>) mas tende a afirmar, pela preferência pelo casamento com parentes distantes, uma<br />

prescrição de “exogamia” da parentela reconhecida, mas sem proibir o casamento de prim<strong>os</strong><br />

cruzad<strong>os</strong> de primeiro grau (desde que observada a condição da transformação da distância<br />

geográfica em distância social).<br />

Mas a presença de cálcul<strong>os</strong> iroqueses ainda poderia ser um obstáculo a uma leitura<br />

dravidiana <strong>do</strong> sistema kalapalo. De acor<strong>do</strong> com alguns autores (cf. TRAUTMANN;<br />

BARNES, op. cit.), <strong>os</strong> tip<strong>os</strong> de cruzamento operad<strong>os</strong> pelas terminologias iroquesas e<br />

dravidianas seriam incompatíveis <strong>entre</strong> si e estariam relacionad<strong>os</strong> a sistemas de <strong>aliança</strong><br />

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