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Parentesco e aliança entre os Kalapalo do Alto Xingu - Comunidade ...

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um problema para Galvão que pessoas classificadas como “irmã<strong>os</strong>” se casassem, sobretu<strong>do</strong><br />

talvez pelo fato <strong>do</strong> casamento de prim<strong>os</strong> parecer não importar ao autor, já que ele afirma não<br />

haver encontra<strong>do</strong> senão rar<strong>os</strong> exempl<strong>os</strong> desta forma de <strong>aliança</strong>, afirman<strong>do</strong> que “êsses<br />

casament<strong>os</strong> não constituem a maioria d<strong>os</strong> cas<strong>os</strong> observad<strong>os</strong>, antes, a minoria.” (GALVÃO,<br />

op. cit., p. 28), in<strong>do</strong> em direção op<strong>os</strong>ta à descrição de Oberg que afirma a prescritividade <strong>do</strong><br />

casamento de prim<strong>os</strong>.<br />

Em momento algum de sua obra Oberg havia feito qualquer menção à p<strong>os</strong>sibilidade<br />

d<strong>os</strong> prim<strong>os</strong> cruzad<strong>os</strong> de Ego serem classificad<strong>os</strong> como seus german<strong>os</strong> e que, em função disto,<br />

o casamento <strong>entre</strong> essa categoria de parentes f<strong>os</strong>se pr<strong>os</strong>crito. A questão da “havaianização”<br />

geracional e da quase inexistência <strong>do</strong> casamento de prim<strong>os</strong>, em contradição com <strong>os</strong> dad<strong>os</strong> de<br />

Oberg, aparece exclusivamente com o trabalho de Galvão. Na visão de Oberg, a correlação<br />

<strong>entre</strong> o casamento prescritivo de prim<strong>os</strong> cruzad<strong>os</strong> e a terminologia cruzada seria óbvia, visto<br />

que o tipo de terminologia descrita por ele designaria para Ego seus afins imediatamente<br />

p<strong>os</strong>síveis, o que não seria compatível com as descrições feitas por Galvão e explicaria a<br />

raridade <strong>do</strong> casamento de prim<strong>os</strong> registrada por este último autor.<br />

Apesar de não conferir ao casamento de prim<strong>os</strong> um lugar relevante no sistema de<br />

parentesco, Galvão nota algo sobre as relações <strong>entre</strong> prim<strong>os</strong> cruzad<strong>os</strong> que não aparece no<br />

trabalho de Oberg, dizen<strong>do</strong> que <strong>os</strong> Kamayurá às vezes utilizariam term<strong>os</strong> para “cônjuges”<br />

para se referir a seus prim<strong>os</strong> cruzad<strong>os</strong>, e que esta prática seria mais comum <strong>entre</strong> crianças e<br />

jovens. O autor não chega a mencionar a existência de casament<strong>os</strong> arranjad<strong>os</strong>, n<strong>os</strong> quais <strong>os</strong><br />

cônjuges, mesmo quan<strong>do</strong> ainda crianças, passam a utilizar term<strong>os</strong> de afinidade (BASSO,<br />

1973a, 1975), e talvez f<strong>os</strong>se p<strong>os</strong>sível que as crianças ou jovens observad<strong>os</strong> por Galvão<br />

estivessem noiv<strong>os</strong> quan<strong>do</strong> ele realizou a pesquisa, sem que ele soubesse disso – o que<br />

explicaria a citação <strong>do</strong> fato sem qualquer especulação sobre ele. Mas independentemente<br />

disto, o da<strong>do</strong> traz problemas interessantes ao sugerir a eventual coincidência <strong>entre</strong> as<br />

categorias de “prim<strong>os</strong> cruzad<strong>os</strong>” e “cônjuges” - o que torna tenta<strong>do</strong>ra a comparação com <strong>os</strong><br />

sistemas ego-centrad<strong>os</strong> de casamento de prim<strong>os</strong> bilaterais e transforma materiais etnográfic<strong>os</strong><br />

contraditóri<strong>os</strong> em um problema teórico mais complexo. Trata-se de questionar como é<br />

(sócio)logicamente p<strong>os</strong>sível que exista um sistema de casamento de prim<strong>os</strong> que identifique,<br />

no plano d<strong>os</strong> vocativ<strong>os</strong>, <strong>os</strong> prim<strong>os</strong> cruzad<strong>os</strong> a cônjuges mas que, simultaneamente, <strong>os</strong><br />

equacione a “irmã<strong>os</strong>” e “irmãs” no plano d<strong>os</strong> term<strong>os</strong> de referência.<br />

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