Parentesco e aliança entre os Kalapalo do Alto Xingu - Comunidade ...
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afirma que talvez f<strong>os</strong>se p<strong>os</strong>sível encontrar um sistema de <strong>aliança</strong> “Tipo B” <strong>entre</strong> <strong>os</strong> alto-<br />
xinguan<strong>os</strong>, retoman<strong>do</strong> a favor desta hipótese uma citação de Gregor sobre <strong>os</strong> Mehináku, de<br />
acor<strong>do</strong> com a qual “sex and marriage is only proper for the grandchildren of opp<strong>os</strong>ite-sex<br />
siblings” (GREGOR, 1985, p. 62 apud SOUZA, 1995, p. 174; grifo da autora). Uma vez que<br />
<strong>os</strong> cálcul<strong>os</strong> presentes <strong>entre</strong> <strong>os</strong> Mehináku são “iroqueses” (filh<strong>os</strong> de prim<strong>os</strong> cruzad<strong>os</strong> de mesmo<br />
sexo são paralel<strong>os</strong>, de sexo op<strong>os</strong>to são cruzad<strong>os</strong>), isto implicaria dizer que o ideal de<br />
casamento Mehináku em geral e o ideal d<strong>os</strong> casament<strong>os</strong> arranjad<strong>os</strong> <strong>entre</strong> <strong>os</strong> <strong>Kalapalo</strong> e<br />
Kuikuro seriam <strong>entre</strong> filh<strong>os</strong> de prim<strong>os</strong> cruzad<strong>os</strong> de sexo op<strong>os</strong>to, <strong>os</strong> únic<strong>os</strong> que se<br />
encontrariam em uma p<strong>os</strong>ição simultaneamente cruzada e suficientemente “distante” para a<br />
realização da <strong>aliança</strong>. Se for este o caso, a aproximação <strong>entre</strong> o sistema Mehináku, e<br />
provavelmente <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> sistemas xinguan<strong>os</strong>, à variante Aguaruna de Taylor é bastante<br />
tenta<strong>do</strong>ra e sua leitura como sistemas de troca restrita “Tipo B” aparentemente exata. Mas esta<br />
aproximação seria apenas um primeiro passo na direção <strong>do</strong> conhecimento destes sistemas de<br />
<strong>aliança</strong>, pois deixaria de fora (a princípio) <strong>os</strong> casament<strong>os</strong> com não-parentes e outras<br />
importantes questões referentes ao senti<strong>do</strong> de realização das <strong>aliança</strong>s.<br />
Os casament<strong>os</strong> “de namorad<strong>os</strong>” seriam cas<strong>os</strong> diferentes das uniões arranjadas e mais<br />
complicad<strong>os</strong> de se pensar em term<strong>os</strong> de alguma estrutura de replicação de <strong>aliança</strong>s (SOUZA,<br />
Ibid.). Estes seriam realizad<strong>os</strong> por pessoas divorciadas ou viúvas e seriam fruto<br />
exclusivamente da escolha individual, realizan<strong>do</strong>-se sobretu<strong>do</strong> <strong>entre</strong> pessoas não-aparentadas<br />
ou mesmo <strong>entre</strong> parentes distantes que, em função mesmo desta distância, se classificariam<br />
como não-parentes. Ou seja, trata-se de uniões que a princípio não resultariam de nenhuma<br />
forma de transmissão da afinidade, apesar de se realizarem no campo pre<strong>do</strong>minante da<br />
afinidade potencial – n<strong>os</strong> limites mais distantes da parentela reconhecida ou mesmo na<br />
exterioridade sociopolítica <strong>do</strong> parentesco (o universo d<strong>os</strong> não-parentes) -, o que permitiria<br />
uma abertura teoricamente infinita <strong>do</strong> campo matrimonial e levaria o sistema ao caminho das<br />
“estruturas complexas” (TAYLOR, op. cit.).<br />
Taylor, ao lidar com o sistema Kand<strong>os</strong>hi (um grupo de língua can<strong>do</strong>a <strong>do</strong> complexo<br />
jivaro), se deparou com um sistema que realizava <strong>os</strong> casament<strong>os</strong> preferencialmente <strong>entre</strong> não-<br />
parentes, assemelhan<strong>do</strong>-se a um “sistema complexo” de <strong>aliança</strong> que seria regi<strong>do</strong><br />
exclusivamente pela escolha individual. Tanto ela quanto Souza (Ibid.) aproximaram o<br />
sistema Kand<strong>os</strong>hi d<strong>os</strong> sistemas alto-xinguan<strong>os</strong>, pelo fato destes sup<strong>os</strong>tamente preferirem o<br />
casamento com não-parentes. Neste tipo de situação, tem-se a impressão de que não haveria<br />
transmissão de afinidade e que não haveria repetição de <strong>aliança</strong>s de qualquer geração passada,<br />
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