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Parentesco e aliança entre os Kalapalo do Alto Xingu - Comunidade ...

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prima cruzada matrilateral) podem ser reduzid<strong>os</strong> a trocas de irmãs, de um ponto de vista, ou<br />

mantid<strong>os</strong> como assimétric<strong>os</strong> de outro - uma conseqüência da transformação de prim<strong>os</strong><br />

cruzad<strong>os</strong> de cônjuges em cunhad<strong>os</strong> dependen<strong>do</strong> da distância social. Esta variabilidade de<br />

perspectivas precisa ser explorada, e não é p<strong>os</strong>sível escapar às representações gráficas sobre<br />

casamento (que infelizmente podem cansar o leitor) para poder comprovar que há de fato uma<br />

quantidade considerável de casament<strong>os</strong> assimétric<strong>os</strong> <strong>entre</strong> <strong>os</strong> <strong>Kalapalo</strong> de Aiha.<br />

Tais casament<strong>os</strong> assimétric<strong>os</strong> estão diretamente relacionad<strong>os</strong> à instituição da chefia – à<br />

hierarquia <strong>entre</strong> chefes e “comuns” e à hierarquia <strong>entre</strong> <strong>os</strong> própri<strong>os</strong> chefes. Pois juntamente<br />

com o ideal de noiva<strong>do</strong> com a prima cruzada matrilateral, há o ideal <strong>do</strong> noiva<strong>do</strong> com filhas de<br />

chefes. Ou seja, <strong>os</strong> <strong>Kalapalo</strong> p<strong>os</strong>suem um ideal de que o casamento com a filha de um chefe<br />

seja feito através <strong>do</strong> noiva<strong>do</strong>, cujo modelo sugere que a noiva seja uma prima cruzada<br />

matrilateral. Em tese, o modelo consciente elabora<strong>do</strong> pel<strong>os</strong> <strong>Kalapalo</strong> sobre o casamento com a<br />

filha <strong>do</strong> irmão da mãe sugere que esta seja um tipo de união que estabeleça relações<br />

assimétricas <strong>entre</strong> chefes e “comuns”, com <strong>os</strong> primeir<strong>os</strong> colocad<strong>os</strong> na p<strong>os</strong>ição de <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res e<br />

<strong>os</strong> segund<strong>os</strong> na p<strong>os</strong>ição de receptores de esp<strong>os</strong>as. As filhas d<strong>os</strong> chefes devem ser idealmente<br />

<strong>do</strong>adas, e não trocadas.<br />

A instituição da chefia, pelo que ficou conhecida na literatura, não apresenta regras<br />

claras de ocupação <strong>do</strong> status e a p<strong>os</strong>se <strong>do</strong> título de “chefe” (anetü, para <strong>os</strong> homens, e itangko,<br />

para as mulheres, na língua kalapalo), é pouco compreendida fora <strong>do</strong> sistema ritual e não se<br />

sabe se o status de anetü ou itangko interfere de alguma forma no sistema matrimonial.<br />

Entretanto, há uma hipótese corrente de que <strong>os</strong> chefes e seus filh<strong>os</strong> se casariam de acor<strong>do</strong> com<br />

um regime matrimonial distinto d<strong>os</strong> homens “comuns” e seus filh<strong>os</strong>: enquanto estes últim<strong>os</strong><br />

prefeririam <strong>os</strong> casament<strong>os</strong> simétric<strong>os</strong>, através da troca de irmãs, <strong>os</strong> primeir<strong>os</strong> prefeririam<br />

casament<strong>os</strong> assimétric<strong>os</strong>, através da poligamia 20 (SOUZA, 1995).<br />

Mas esta argumentação é muito marcada por uma certa “razão prática” de cunho<br />

próximo à <strong>do</strong> estrutural-funcionalismo 21 . Por causa de seu status superior, <strong>os</strong> chefes<br />

receberiam mais mulheres como uma forma simultânea de “pagamento” e “aprisionamento”,<br />

colocan<strong>do</strong>-<strong>os</strong> em uma p<strong>os</strong>ição inferior no campo da afinidade; mas, em contrapartida, seu<br />

status político eleva<strong>do</strong> “compensaria” esta assimetria da afinidade, e assim a chefia e a<br />

20 Este assunto será trata<strong>do</strong> em detalhe na sétima parte desta dissertação.<br />

21 Cf. Lanna, 2006, para uma crítica detalhada a este tipo de “razão prática” na obra de Pierre Clastres.<br />

22

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