Parentesco e aliança entre os Kalapalo do Alto Xingu - Comunidade ...
Parentesco e aliança entre os Kalapalo do Alto Xingu - Comunidade ...
Parentesco e aliança entre os Kalapalo do Alto Xingu - Comunidade ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
term<strong>os</strong> genealógic<strong>os</strong> trata-se de fato de um sistema de casamento de prim<strong>os</strong> cruzad<strong>os</strong><br />
bilaterais:<br />
These two [FZH e MB] are often confused in practice owing to the frequency of marriage by<br />
sister exchange. (…) That being said, the matrilaterality of the marriage is more ideological<br />
than real, as the cr<strong>os</strong>s cousins in question are m<strong>os</strong>t often bilateral. (TAYLOR, op. cit., p. 193)<br />
É interessante notar uma aproximação em relação ao sistema kalapalo referente à<br />
marcação <strong>do</strong> irmão da mãe e às correspondências empíricas desta marcação com o sistema<br />
matrimonial. Os <strong>Kalapalo</strong> não só distinguem MBW de FZ como também marcam o irmão da<br />
mãe de várias maneiras: uma é através <strong>do</strong> comportamento, pois, como já vim<strong>os</strong>, apesar das<br />
relações <strong>entre</strong> tio e sobrinho serem bastante relaxadas, é dito que o irmão da mãe deve ser<br />
mais respeita<strong>do</strong> que um irmão <strong>do</strong> pai, além da irmã <strong>do</strong> pai não ser tratada com mais respeito<br />
<strong>do</strong> que uma irmã da mãe. Além disso, o casamento com a MBD aparece como uma<br />
preferência ideológica explícita tanto no discurso d<strong>os</strong> informantes quanto nas narrativas<br />
míticas. No cotidiano, diz-se que “o certo mesmo é o tio [awa] dar a filha pro sobrinho<br />
[distante, vale acrescentar]”; quan<strong>do</strong> se pergunta a um kalapalo por que ele se casou com uma<br />
determinada mulher, a resp<strong>os</strong>ta mais freqüente será “porque é minha prima, boa pra casar,<br />
mas de longe”, e, ao se insistir nas perguntas, questionan<strong>do</strong> a natureza da relação <strong>entre</strong> <strong>os</strong><br />
cônjuges, será freqüentemente dito “porque ela é filha <strong>do</strong> meu tio [materno]” (mesmo que<br />
também seja filha de sua tia paterna, evidencian<strong>do</strong> a hierarquia <strong>do</strong> cálculo uterino sobre o<br />
paterno à qual me referi no começo deste capítulo). É p<strong>os</strong>sível ir além, e quan<strong>do</strong> questionad<strong>os</strong><br />
sobre o porquê de se casarem com as filhas de seus ti<strong>os</strong>, <strong>os</strong> <strong>Kalapalo</strong> afirmam que<br />
N<strong>os</strong>s<strong>os</strong> avós faziam assim, mas antes era diferente: na época deles, casava com a prima de<br />
verdade, o tio de verdade dava a filha pro sobrinho e to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> ficava noivo. Hoje não, nós<br />
casam<strong>os</strong> com primas de longe e podem<strong>os</strong> escolher a mulher. (Ugise <strong>Kalapalo</strong>)<br />
Ou seja, o casamento matrilateral é uma preferência ideológica explícita d<strong>os</strong> <strong>Kalapalo</strong>,<br />
sen<strong>do</strong> inclusive justificada por uma sup<strong>os</strong>ta prática <strong>do</strong> casamento prescritivo (já que<br />
134