Parentesco e aliança entre os Kalapalo do Alto Xingu - Comunidade ...
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“bifurcate generation” (isto é, que guardaria ainda o cruzamento em G +1 , mas que tenderia a<br />
desaparecer com a evolução d<strong>os</strong> sistemas em um senti<strong>do</strong> en<strong>do</strong>gâmico).<br />
Desta forma, a tentativa de Dole para explicar o para<strong>do</strong>xo da coexistência de uma<br />
terminologia geracional e outra cruzada dependeu <strong>do</strong> recurso a um fato externo ao sistema (o<br />
contato) e da idéia de que um sistema como o kuikuro só poderia ser uma forma “degenerada”<br />
e “transicional” de algum modelo “original”. A lógica <strong>do</strong> argumento de Dole prende-se ainda<br />
à idéia de que o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> parentesco exige que seja p<strong>os</strong>sível pensá-lo em term<strong>os</strong> de unidades<br />
sociocêntricas que funcionem como parceir<strong>os</strong> de troca, organizadas através de princípi<strong>os</strong> de<br />
unifiliação ou residência unilocal – o que explica a necessidade de seu recurso à idéia de que<br />
o sistema ego-centra<strong>do</strong>/cognático atual seria uma “degeneração” de um sistema<br />
sociocentra<strong>do</strong>/dualista passa<strong>do</strong>.<br />
Incapaz de conceber a operação de uma distinção categorial que não se expresse em term<strong>os</strong> de<br />
grupament<strong>os</strong> sociocentricamente definid<strong>os</strong>, a autora se vê diante da necessidade de explicar as<br />
terminologias que mantém tal distinção em ambientes "ambilocais" e cognátic<strong>os</strong> como um tipo<br />
compósito e transicional, deriva<strong>do</strong> da desintegração de estruturas mais definidas - unilineares<br />
ou unilocais - <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>, devi<strong>do</strong> ao contato e/ou distúrbi<strong>os</strong> demográfic<strong>os</strong>. (SOUZA, 1992, p.<br />
92)<br />
Basso (1969, 1973a, 1975), por sua vez, propôs uma solução mais interessante <strong>do</strong><br />
ponto de vista teórico, relacionan<strong>do</strong> diretamente a aplicação de uma ou outra grade<br />
terminológica ao sistema matrimonial tal como existe de fato, introduzin<strong>do</strong> um elemento<br />
fundamental para a compreensão <strong>do</strong> sistema de <strong>aliança</strong>: a noção de distância social. Segun<strong>do</strong><br />
a autora, <strong>os</strong> <strong>Kalapalo</strong> têm uma preferência pelo casamento com parentes distantes, situad<strong>os</strong><br />
na “periferia” da parentela, de mo<strong>do</strong> que <strong>os</strong> cognat<strong>os</strong> considerad<strong>os</strong> por Ego como mais<br />
“distantes” seriam aqueles com quem ele teria uma maior potencialidade para estabelecer<br />
relações de afinidade: aquilo que Basso chamou de affinibility. Já em sua tese a autora<br />
chamava a atenção para a necessidade de se distinguir <strong>entre</strong> a afinidade real, adquirida através<br />
de laç<strong>os</strong> matrimoniais (affinity) e a p<strong>os</strong>sibilidade de transformação de um parente distante ou<br />
não parente em afim real (affinibility):<br />
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