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Parentesco e aliança entre os Kalapalo do Alto Xingu - Comunidade ...

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idealizada <strong>entre</strong> <strong>os</strong> chefes (e realizada algumas vezes) através <strong>do</strong> casamento matrilateral. Os<br />

casament<strong>os</strong> matrilaterais são algo que está diretamente relaciona<strong>do</strong> à estrutura da chefia, que<br />

se embute na estrutura <strong>do</strong> parentesco: enquanto boa parte das pessoas se envolve em relações<br />

simétricas (apesar <strong>do</strong> ideal matrilateral), <strong>os</strong> chefes se envolvem em relações assimétricas:<br />

preferem e praticam muito o casamento matrilateral. É no paralelismo das op<strong>os</strong>ições <strong>entre</strong><br />

“troca restrita” e “troca assimétrica” e “casament<strong>os</strong> de comuns” e “casament<strong>os</strong> de filhas de<br />

chefes” que se encontra a resp<strong>os</strong>ta para o lugar <strong>do</strong> casamento matrilateral no sistema kalapalo.<br />

Dentro de Aiha, <strong>os</strong> chefes se casam de forma matrilateral, mas não em um ciclo único,<br />

longo e contínuo: como se vê, há uma hipogamia de uma parentela específica, <strong>do</strong>an<strong>do</strong><br />

mulheres para outr<strong>os</strong> chefes (o que é se torna inteligível dada a multiplicidade de afins<br />

potenciais), um isomorfismo <strong>entre</strong> o chefe “<strong>do</strong>a<strong>do</strong>r”, no topo da hierarquia, e <strong>os</strong> demais chefes<br />

“receptores”, em lugares inferiores na hierarquia, mas sobretu<strong>do</strong>, divers<strong>os</strong> cicl<strong>os</strong> curt<strong>os</strong> de<br />

troca matrilateral. O chefe principal, por exemplo, tomou sua esp<strong>os</strong>a <strong>do</strong> chefe d<strong>os</strong><br />

Angaguvütü, que não existem mais; <strong>os</strong> chefes menores, que tomaram esp<strong>os</strong>as da parentela <strong>do</strong><br />

chefe principal, estes também <strong>do</strong>aram filhas a seus sobrinh<strong>os</strong>, alguns filh<strong>os</strong> de chefes, outr<strong>os</strong><br />

homens comuns. E fora de Aiha, existem vári<strong>os</strong> casament<strong>os</strong> matrilaterais de filh<strong>os</strong> de chefes<br />

unin<strong>do</strong> as parentelas da chefia de várias aldeias: existem filh<strong>os</strong> de chefes se casan<strong>do</strong> com suas<br />

primas cruzadas matrilaterais e produzin<strong>do</strong> cicl<strong>os</strong> de esp<strong>os</strong>as como Yawalapiti → <strong>Kalapalo</strong> →<br />

Matipu → Kuikuro → Yawalapiti; Nahukwá → <strong>Kalapalo</strong> → Matipu; Yawalapti → Aiha →<br />

Matipu → PIV Kuluene, tod<strong>os</strong> ocorren<strong>do</strong> paralelamente (dada a distinção matrimonial de<br />

german<strong>os</strong> de mesmo sexo, que podem realizar casament<strong>os</strong> distint<strong>os</strong>). Mas estas são relações<br />

que não produzem hierarquia, já que <strong>os</strong> homens ficam isent<strong>os</strong> da residência uxorilocal, mas<br />

produzem uma grande integração das principais parentelas de chefes d<strong>os</strong> grup<strong>os</strong> que se<br />

consideram mais “próxim<strong>os</strong>” e que realizam mais trocas (de tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> tip<strong>os</strong>). Assim, acredito<br />

ser plausível a<strong>do</strong>tar a hipótese de que o casamento matrilateral está diretamente relaciona<strong>do</strong> à<br />

hierarquia política: no interior da aldeia a hipogamia pode favorecer a p<strong>os</strong>ição hierárquica de<br />

um chefe ou de toda uma parentela próxima, enquanto no exterior estes casament<strong>os</strong> produzem<br />

uma grande “integração” das parentelas de chefes. Se a troca restrita inclusiva existe e explica<br />

cerca de metade das uniões no interior de uma aldeia, a troca matrilateral certamente é uma<br />

estrutura que a engloba, pois está relacionada diretamente ao sistema político em seu senti<strong>do</strong><br />

amplo: ligan<strong>do</strong> hierarquicamente chefes no interior de uma mesma aldeia e ligan<strong>do</strong><br />

simetricamente (por causa da residência) chefes de aldeias distintas. E, lembrem<strong>os</strong>, que a<br />

existência política de uma aldeia, o seu reconhecimento como “aldeia de verdade”, depende<br />

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