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Parentesco e aliança entre os Kalapalo do Alto Xingu - Comunidade ...

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Algumas das questões fundamentais a serem tratadas dizem respeito a<strong>os</strong> tip<strong>os</strong> de união<br />

existentes em Aiha, suas respectivas freqüências estatísticas e a<strong>os</strong> sentid<strong>os</strong> da circulação de<br />

esp<strong>os</strong>as (dad<strong>os</strong> inexistentes até o momento sobre qualquer grupo alto-xinguano). Basso (1969,<br />

1973a, 1975) afirma que <strong>os</strong> <strong>Kalapalo</strong> evitariam o casamento <strong>entre</strong> prim<strong>os</strong> cruzad<strong>os</strong> de<br />

primeiro grau (<strong>os</strong> parentes mais próxim<strong>os</strong> de Ego colocad<strong>os</strong> na categoria d<strong>os</strong> afins p<strong>os</strong>síveis)<br />

e teriam uma preferência pelo casamento com parentes distantes, com <strong>os</strong> quais <strong>os</strong> laç<strong>os</strong> <strong>do</strong><br />

parentesco estariam se enfraquecen<strong>do</strong> e em vias de desaparecer (o que seria marca<strong>do</strong> pelo<br />

fraco ihütisü, a pouca “vergonha” da fuga às obrigações <strong>entre</strong> parentes, que se teria <strong>entre</strong><br />

eles). Estas uniões se dariam preferencialmente através <strong>do</strong> “brother-sister exchange marriage”<br />

(a troca de irmãs), que ocorreria mais comumente, segun<strong>do</strong> a autora, de forma não simultânea<br />

(isto é, um d<strong>os</strong> homens só tomaria uma irmã de seu cunha<strong>do</strong> temp<strong>os</strong> depois de ter cedi<strong>do</strong> sua<br />

própria irmã) e mais ou men<strong>os</strong> fortuita (sem ser “arranjada” <strong>entre</strong> <strong>os</strong> homens envolvid<strong>os</strong> na<br />

relação). Ainda poderiam às vezes se caracterizar como casament<strong>os</strong> de prim<strong>os</strong> cruzad<strong>os</strong><br />

bilaterais, mas que seriam mais comuns no caso de casament<strong>os</strong> arranjad<strong>os</strong>.<br />

A terminologia bifurcada e simétrica também sugere a bilateralidade <strong>do</strong> casamento de<br />

prim<strong>os</strong>, inclusive no plano d<strong>os</strong> vocativ<strong>os</strong> ao identificar <strong>os</strong> pais <strong>do</strong> cônjuge a “irmão da mãe”<br />

(MB, awa) e “irmã <strong>do</strong> pai” (FZ, etsi) 110 . Na verdade, tal identificação no plano d<strong>os</strong> vocativ<strong>os</strong><br />

está longe de exprimir qualquer regra p<strong>os</strong>itiva de casamento de prim<strong>os</strong>, pois <strong>os</strong> term<strong>os</strong> awa e<br />

etsi podem ser utilizad<strong>os</strong> mesmo quan<strong>do</strong> WF e WM não forem de fato seus parentes<br />

cruzad<strong>os</strong> 111 , e a terminologia de referência não identifica MBW a FZ, não contan<strong>do</strong> com<br />

nenhum termo específico para MBW e FZH. Isto parece sugerir que o casamento de prim<strong>os</strong><br />

cruzad<strong>os</strong> bilaterais deva ser uma forma ideal de casamento, mas que as p<strong>os</strong>sibilidades de<br />

realização de casament<strong>os</strong> com não-parentes ou casament<strong>os</strong> assimétric<strong>os</strong> não estão de mo<strong>do</strong><br />

algum excluídas. Ou seja, a expansão potencial das redes de <strong>aliança</strong> através da incorporação<br />

de nov<strong>os</strong> parceir<strong>os</strong> de troca e a existência de <strong>aliança</strong>s assimétricas parecem estar “previstas”<br />

pela terminologia de referência.<br />

110<br />

O que pareceria sugerir o re<strong>do</strong>bramento de alguma <strong>aliança</strong> passada também realizada através da troca de<br />

irmãs.<br />

111<br />

A utilização d<strong>os</strong> term<strong>os</strong> awa e etsi como vocativ<strong>os</strong> para “sogro” e “sogra” são interpretad<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> <strong>Kalapalo</strong><br />

como “um jeito de diminuir a vergonha”, pois ao identificar seus sogr<strong>os</strong> a parentes <strong>os</strong> <strong>Kalapalo</strong> tornam a relação<br />

mais relaxada, mas ainda manten<strong>do</strong> o devi<strong>do</strong> respeito, de mo<strong>do</strong> que o “efeito” destes vocativ<strong>os</strong> é o mesmo<br />

quan<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong> para parentes cruzad<strong>os</strong> transformad<strong>os</strong> em afins ou para não-parentes.<br />

119

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