Parentesco e aliança entre os Kalapalo do Alto Xingu - Comunidade ...
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completamente distint<strong>os</strong>, de mo<strong>do</strong> que a utilização da hipótese dravidiana no caso kalapalo<br />
exigiria uma discussão sobre as diferenças e semelhanças <strong>entre</strong> estes <strong>do</strong>is tip<strong>os</strong> terminológico-<br />
matrimoniais. Na seção seguinte retomarei esta discussão, focan<strong>do</strong> duas vertentes: uma que<br />
opõe de forma excludente as terminologias iroquesas e dravidianas, e outra, desenvolvida<br />
sobre o pano de fun<strong>do</strong> das pesquisas na América <strong>do</strong> Sul, que argumenta que ambas são<br />
variações de um mesmo tipo de estrutura dravidiana de base.<br />
4.2 O “para<strong>do</strong>xo dravidiano-iroquês” e a etnografia sul-americana<br />
Nas primeiras grandes sínteses tipológicas d<strong>os</strong> sistemas de parentesco, como as de<br />
Morgan (1970) e Mur<strong>do</strong>ck (op. cit.), <strong>os</strong> sistemas iroqueses e dravidian<strong>os</strong> foram classificad<strong>os</strong><br />
de forma “difusa” sob <strong>os</strong> mesm<strong>os</strong> rótul<strong>os</strong>. As diferenças <strong>entre</strong> traç<strong>os</strong> específic<strong>os</strong> de cada um<br />
eram vistas como sen<strong>do</strong> meramente superficiais e <strong>os</strong> autores acreditavam que se trataria de<br />
fato de um único tipo de sistema de parentesco, mais ou men<strong>os</strong> geográfica e historicamente<br />
variável. Robert Lowie (1928) e Paul Kirchhoff (1955), por sua vez, dividiram <strong>os</strong> sistemas de<br />
parentesco basead<strong>os</strong> na “fusão” ou não d<strong>os</strong> term<strong>os</strong> de parentesco em relação ao sexo na<br />
geração d<strong>os</strong> pais (isto é, se F = FB = FZ e M = MZ = MB ou F = FB ≠ FZ e M = MZ ≠ MB),<br />
e tanto o modelo iroquês quanto o dravidiano foram agrupad<strong>os</strong> na categoria que englobava <strong>os</strong><br />
sistemas dit<strong>os</strong> de “fusão bifurcada” (bifurcate merging), ten<strong>do</strong> suas demais diferenças legadas<br />
a segun<strong>do</strong> plano. Mur<strong>do</strong>ck (op. cit.) criou uma tipologia mais extensa, incluin<strong>do</strong> <strong>os</strong> tip<strong>os</strong> que<br />
ele chamou de “crow” e “omaha”, mas na qual <strong>os</strong> sistemas dravidian<strong>os</strong> eram vist<strong>os</strong> como uma<br />
variação <strong>do</strong> tipo iroquês, uma espécie de “sistema de base” para <strong>os</strong> tip<strong>os</strong> dravidian<strong>os</strong>, não<br />
haven<strong>do</strong> portanto nenhuma preocupação em avaliar o significa<strong>do</strong> das diferenças <strong>entre</strong> um e<br />
outro tipo.<br />
O primeiro antropólogo a argumentar no senti<strong>do</strong> de definir <strong>os</strong> sistemas iroqueses e<br />
dravidian<strong>os</strong> como tip<strong>os</strong> distint<strong>os</strong> foi Floyd Lounsbury (1964). Seu argumento segue uma<br />
direção bastante interessante, pois, para o autor, a diferença crucial <strong>entre</strong> estes sistemas estaria<br />
expressa justamente naquela característica utilizada por pesquisa<strong>do</strong>res anteriores para<br />
classificá-l<strong>os</strong> em conjunto: o cruzamento (“cr<strong>os</strong>sness”). Se, para seus antecessores, <strong>os</strong><br />
sistemas dravidian<strong>os</strong> e iroqueses podiam ser agrupad<strong>os</strong> sob <strong>os</strong> mesm<strong>os</strong> rótul<strong>os</strong> pelo fato de<br />
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