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Parentesco e aliança entre os Kalapalo do Alto Xingu - Comunidade ...

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Diferentemente, Ego refere-se a<strong>os</strong> filh<strong>os</strong> de seus prim<strong>os</strong> cruzad<strong>os</strong> de sexo op<strong>os</strong>to, patri ou<br />

matrilaterais, como uhatuün (“sobrinho”) ou uhati (“sobrinha”) – mais uma vez, de forma<br />

idêntica ao caso kuikuro, replican<strong>do</strong> o modelo “iroquês” de cruzamento (representa<strong>do</strong> abaixo<br />

na Figura 3.1).<br />

Figura 3.1: representação em diagrama genealógico d<strong>os</strong> cálcul<strong>os</strong> iroqueses de cruzamento (cf. TRAUTMANN;<br />

BARNES, op. cit.). Em cada diagrama <strong>os</strong> indivídu<strong>os</strong> preenchid<strong>os</strong> com linhas paralelas são classificad<strong>os</strong> por Ego<br />

como seus parentes paralel<strong>os</strong>, e <strong>os</strong> indivídu<strong>os</strong> preenchid<strong>os</strong> com linhas cruzadas são classificad<strong>os</strong> como seus<br />

parentes cruzad<strong>os</strong><br />

Há ainda um da<strong>do</strong> importantíssimo sobre <strong>os</strong> term<strong>os</strong> para “sobrinho”, “sobrinha” e<br />

“prim<strong>os</strong> cruzad<strong>os</strong>”. Os <strong>Kalapalo</strong> que têm um <strong>do</strong>mínio melhor da língua portuguesa c<strong>os</strong>tumam<br />

gl<strong>os</strong>ar uhatuün e uhati respectivamente como “filho <strong>do</strong> meu cunha<strong>do</strong>” e “filha <strong>do</strong> meu<br />

cunha<strong>do</strong>”, assim como gl<strong>os</strong>am uhaün como “filho(a) <strong>do</strong> cunha<strong>do</strong> <strong>do</strong> meu pai”, sugerin<strong>do</strong><br />

explicitamente que o elemento pertinente para a definição destas categorias de parentes<br />

cognat<strong>os</strong> é, mais <strong>do</strong> que o simples cruzamento, a afinidade, e que esta relação é transmitida<br />

genealogicamente (exatamente como ocorre em sistemas dravidian<strong>os</strong>). E se o casamento é<br />

realiza<strong>do</strong> preferencialmente <strong>entre</strong> prim<strong>os</strong> cruzad<strong>os</strong> cuj<strong>os</strong> pais/“<strong>do</strong>n<strong>os</strong>” (otomo) são cunhad<strong>os</strong><br />

<strong>entre</strong> si, a exegese kalapalo <strong>do</strong> termo uhaün como “filho <strong>do</strong> cunha<strong>do</strong> <strong>do</strong> meu pai” pode sugerir<br />

a interpretação das <strong>aliança</strong>s matrimoniais naquela sociedade como trocas de filh<strong>os</strong> <strong>entre</strong><br />

cunhad<strong>os</strong>, de mo<strong>do</strong> que as uniões <strong>entre</strong> prim<strong>os</strong> cruzad<strong>os</strong> seriam formas de re<strong>do</strong>bramento de<br />

<strong>aliança</strong>s passadas e a terminologia poderia facilmente ser associada ao tipo dravidiano. Esta é<br />

uma informação que vem corroborar a interpretação d<strong>os</strong> sistemas de parentesco <strong>do</strong> <strong>Alto</strong><br />

<strong>Xingu</strong> como sistemas dravidian<strong>os</strong> de “fórmula rica”, tal como foi formulada (SOUZA, 1992,<br />

1995; TAYLOR, op. cit.).<br />

Resumin<strong>do</strong>, vim<strong>os</strong> então que a terminologia de parentesco kalapalo se organiza a<br />

partir de três element<strong>os</strong> básic<strong>os</strong>: gênero, geração e distinção <strong>entre</strong> parentes paralel<strong>os</strong> e<br />

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