o ensino/aprendizagem da produção textual na quinta série
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representá-lo. Pécora (1983) se manifesta quanto ao assunto dizendo que, além de um<br />
padrão de linguagem, a escola impõe um “padrão de referências para pensar e interpretar<br />
o mundo”. Realmente, se a imagem que o aluno tem de seu interlocutor é a de que ele é um<br />
avaliador, um juiz, um transmissor de conhecimentos, o detentor do poder, que pode<br />
reprová-lo por ele não mostrar que assimilou os conhecimentos repassados, logicamente<br />
ele procurará mostrar que sabe escrever e tentará agra<strong>da</strong>r ao professor. Por isso, a falta de<br />
origi<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de, o uso do lugar-comum, <strong>da</strong>s frases estereotipa<strong>da</strong>s e de palavras que procuram<br />
enfeitar a sua re<strong>da</strong>ção. O aluno cumpre a sua tarefa com a intenção de responder, <strong>da</strong><br />
melhor maneira possível, às expectativas do professor, afetando-o com a re<strong>produção</strong> de<br />
seus ensi<strong>na</strong>mentos e com a utilização (mesmo que precária) de uma linguagem formal.<br />
Geraldi (1986:25) caracteriza bem essa situação:<br />
Um discurso tem sua justificativa e sua medi<strong>da</strong> <strong>na</strong> imagem que o<br />
locutor faz do referente, e esta imagem, em algum ponto, ele supõe<br />
que seja diferente <strong>da</strong>quela que o interlocutor faz do referente. É<br />
precisamente o fato de o locutor imagi<strong>na</strong>r se situar de modo<br />
singular em relação às informações preexistentes à sua enunciação<br />
que legitima sua fala, seu discurso, num determi<strong>na</strong>do contexto.<br />
Entretanto, <strong>na</strong> situação escolar, a exigência que lhe faz o exercício<br />
obriga-o a dizer algo sobre o que não se imagi<strong>na</strong> possuir<br />
informações novas, quase que, fugindo à regra de informativi<strong>da</strong>de<br />
do discurso, ter que dizer sem ter o que dizer. Na maioria dos<br />
casos, seu trabalho consiste em organizar as informações<br />
disponíveis e que lhe foram <strong>da</strong><strong>da</strong>s pela escola para devolvê-las, <strong>na</strong><br />
forma de re<strong>da</strong>ção, à própria escola.<br />
Embora não tenhamos esgotado a discussão em torno do problema do<br />
<strong>ensino</strong> de re<strong>da</strong>ção, fica evidente que se entrelaçam, aí, uma concepção que vê <strong>na</strong><br />
<strong>aprendizagem</strong> <strong>da</strong> teoria gramatical a garantia de se chegar ao domínio <strong>da</strong> língua escrita e<br />
uma outra, que vê, no trabalho com as estruturas isola<strong>da</strong>s <strong>da</strong> língua, a possibili<strong>da</strong>de de se<br />
desenvolver a expressão escrita. Estamos nos referindo às duas primeiras concepções de<br />
linguagem que foram descritas no primeiro capítulo e que levam às práticas pe<strong>da</strong>gógicas do<br />
<strong>ensino</strong> tradicio<strong>na</strong>l. Tal <strong>ensino</strong>, especificamente no tocante à <strong>produção</strong> <strong>textual</strong>, vem sendo<br />
refutado e altamente criticado à medi<strong>da</strong> em que se aprofun<strong>da</strong>m os estudos sobre a<br />
linguagem, principalmente a partir dos anos 80. Na abor<strong>da</strong>gem tradicio<strong>na</strong>l, o aluno é visto<br />
como um ser passivo, um receptáculo do conhecimento que lhe é transmitido. Sua tarefa é<br />
reproduzir o conteúdo, que lhe é repassado de forma isola<strong>da</strong> e desvincula<strong>da</strong> dos seus