o ensino/aprendizagem da produção textual na quinta série
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O dialeto socialmente privilegiado - norma culta - vincula-se ao dialeto <strong>da</strong>s<br />
classes favoreci<strong>da</strong>s (que detêm o poder) e, desde as suas origens, se sobrepõe ao dialeto <strong>da</strong>s<br />
classes menos favoreci<strong>da</strong>s, por razões de ordem histórica, econômica, política, social e<br />
cultural. O conceito valorativo que se atribui à varie<strong>da</strong>de padrão em detrimento <strong>da</strong>s demais<br />
varie<strong>da</strong>des considera<strong>da</strong>s desprestigia<strong>da</strong>s ocorre porque, como diz Gnerre (1987:4) “uma<br />
varie<strong>da</strong>de lingüística “vale” o que “valem” <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de os seus falantes, isto é, vale<br />
como reflexo do poder e <strong>da</strong> autori<strong>da</strong>de que eles têm <strong>na</strong>s relações econômicas e sociais”.<br />
Assim, as varie<strong>da</strong>des usa<strong>da</strong>s por grupos de baixo prestígio social são estigmatiza<strong>da</strong>s do<br />
mesmo modo que os são os grupos que as utilizam. E é aí que reside o preconceito social<br />
fazendo com que, a ca<strong>da</strong> dia, seja acelera<strong>da</strong> a estratificação <strong>da</strong>s classes sociais.<br />
Associando a atitude social assim defini<strong>da</strong> ao <strong>ensino</strong> de língua mater<strong>na</strong>,<br />
observa-se que a escola adota a mesma posição preconceituosa em relação aos demais<br />
dialetos. A base do <strong>ensino</strong> de português tem sido a gramática normativa, que se ocupa <strong>da</strong><br />
norma culta, <strong>da</strong> classe de prestígio. Então passa-se à visão de que só há um Português<br />
correto e que tudo o que se constitui desviante dele representa um erro. A escola apresenta<br />
a varie<strong>da</strong>de culta como a única possível no uso <strong>da</strong> língua agindo de modo a fazer com que<br />
o aluno substitua a varie<strong>da</strong>de de seu grupo de origem pela varie<strong>da</strong>de prestigia<strong>da</strong>, ain<strong>da</strong> que<br />
não consiga esse intento.<br />
Se entendermos que o objetivo do <strong>ensino</strong> de língua mater<strong>na</strong> é desenvolver a<br />
competência comunicativa dos usuários <strong>da</strong> língua, fazendo com que eles empreguem<br />
adequa<strong>da</strong>mente a língua <strong>na</strong>s diversas situações de comunicação, parece-nos que a norma<br />
culta entra no <strong>ensino</strong> como sendo uma <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des de uso que se insere <strong>na</strong> gama de<br />
contextos comunicativos.<br />
A propósito disso, os debates que se travam sobre a variação lingüística,<br />
com vistas a descorti<strong>na</strong>r os preconceitos de que a norma culta representa a língua de todos<br />
e de que entre as múltiplas formas de expressão só ela é a correta, permitem educar o olhar<br />
<strong>na</strong> direção contrária <strong>da</strong>s amarras impostas pelas prescrições que delineiam essa linguagem<br />
ideal e que não levam em conta os contextos de <strong>produção</strong> dos discursos.<br />
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