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Ana Carolina Galvão Marsiglia UM QUARTO DE ... - Home - Unesp

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a criança a dominar também a norma culta, o autor defende, apoiando-se em um<br />

discurso “humanista”, que<br />

145<br />

[...] todo homem, sejam quais forem suas condições, nasce dotado de<br />

uma faculdade da linguagem, como parte de sua própria capacidade e<br />

dignidade humanas. Mesmo que restem muitos pontos obscuros<br />

quanto à natureza e extensão dessa faculdade, isso significa que, sem<br />

distinção, todas as crianças desenvolvem uma gramática interna.<br />

(FRANCHI, 1991, p. 57, grifo nosso).<br />

Podemos constatar, pelos excertos apresentados, o quanto a concepção de<br />

gramática defendida por Franchi se coaduna com os pressupostos piagetianos de<br />

naturalização da aprendizagem, situando-a como um processo que resulta das<br />

possibilidades endógenas do indivíduo. Ademais, fica clara a desvalorização da escola,<br />

visto que para esse autor a criança aprenderá segundo suas potencialidades genéticas<br />

e não necessariamente de forma vinculada à escolarização.<br />

Essa concepção defendida por Franchi é diametralmente oposta àquela<br />

sintetizada por Gramsci (1966, p. 13) na passagem a seguir:<br />

Se é verdade que toda linguagem contém os elementos de uma<br />

concepção do mundo e de uma cultura, será igualmente verdade que,<br />

a partir da linguagem de cada um, é possível julgar da maior ou<br />

menor complexidade da sua concepção de mundo. Quem fala<br />

somente o dialeto e compreende a língua nacional em graus diversos,<br />

participa necessariamente de uma intuição do mundo mais ou menos<br />

restrita e provinciana; fossilizada, anacrônica em relação às grandes<br />

correntes de pensamento que dominam a história mundial. Seus<br />

interesses serão restritos, mais ou menos corporativos ou<br />

economicistas, não universais. Se nem sempre é possível aprender<br />

outras línguas estrangeiras a fim de colocar-se em contato com vidas<br />

culturais diversas, deve-se pelo menos conhecer bem a língua<br />

nacional. Uma grande cultura pode traduzir-se na língua de outra<br />

grande cultura, isto é, uma grande língua nacional historicamente<br />

rica e complexa pode traduzir qualquer outra grande cultura, ou seja,<br />

ser uma expressão mundial. Mas, com um dialeto, não é possível<br />

fazer a mesma coisa.<br />

Ao fazer a defesa do “respeito” à linguagem do indivíduo, a concepção<br />

construtivista afirma que a realidade não deve ser considerada una. É como se fosse<br />

possível cada um ter a sua realidade e da mesma maneira, a sua forma de expressão<br />

de linguagem. Se cada sujeito tem a sua realidade, a sua verdade, o conhecimento

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