Ana Carolina Galvão Marsiglia UM QUARTO DE ... - Home - Unesp
Ana Carolina Galvão Marsiglia UM QUARTO DE ... - Home - Unesp
Ana Carolina Galvão Marsiglia UM QUARTO DE ... - Home - Unesp
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
acaba por perder sua identidade universal. O indivíduo só poderá então, adaptar a<br />
sua realidade ao mundo como ele o vê. Esse será o processo de conhecimento: a<br />
adaptação do mundo aos próprios olhos e adaptação do “olhar” às exigências<br />
circunstanciais do cotidiano. As implicações dessa visão para processo de<br />
alfabetização não são poucas. A transformação da aquisição da leitura e da escrita<br />
146<br />
como algo individual impede o sujeito de ascender às formas mais desenvolvidas da<br />
cultura, neste caso, as formas mais elaboradas da linguagem e com isso inviabiliza-se<br />
o processo de humanização plena dos indivíduos. Faz-se necessária a apropriação<br />
sistematizada dos conceitos científicos, que incorporam por superação os conceitos<br />
espontâneos, como já abordamos no capítulo 1.<br />
Também não podemos deixar de sublinhar, que embora os construtivistas<br />
sempre defendam uma posição de “respeito” à individualidade, como se assim fossem<br />
neutros em suas avaliações, é preciso questionar: não é preconceito julgar um texto<br />
mais empobrecido do que outro, porque ele privilegia esse e não aquele aspecto<br />
formal? Se a ideia é que todo texto pertence a um universo linguístico específico, não<br />
seria correto, de acordo com os postulados construtivistas, aceitar qualquer escrita,<br />
fosse qual fosse o princípio utilizado por seu autor?<br />
Em outro documento, denominado “Encontro de Orientação Técnica para<br />
Implantação da Escola-Padrão – Propostas Curriculares” (SÃO PAULO, 1992a), ao<br />
tratar das diretrizes da proposta curricular para o ensino de língua portuguesa do 1º<br />
grau, repete-se essa mesma discussão, sobre o suposto preconceito linguístico e<br />
discriminações dele resultantes. Nesse texto, sustenta-se que a linguagem<br />
[...] não pode ser entendida como simples aquisição do código, mas<br />
sim como um elemento transformador onde o discurso do outro<br />
(professor) serve de elemento de revisão do próprio discurso<br />
(aluno), manifestando, portanto, contradições e criando situações<br />
antagônicas às expectativas do professor. (SÃO PAULO, 1992a, p.<br />
17, grifo nosso).<br />
No referido trecho é possível notar a secundarização do professor, visto que a<br />
aprendizagem será oposta às expectativas do docente. Em outras palavras, o ato<br />
intencional do ensino, deliberadamente planejado pelo educador, será inócuo: a<br />
aprendizagem resultará de interações espontâneas, que inclusive frustrarão o<br />
professor.