Ana Carolina Galvão Marsiglia UM QUARTO DE ... - Home - Unesp
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meio ambiente que lhes tocou viver e no qual devem sobreviver. O<br />
conhecimento não resulta de um esforço por representar<br />
corretamente a realidade para então transformá-la, mas sim da<br />
adaptação ao meio tal como ele é. Não podemos deixar de perguntar:<br />
nessa perspectiva, o que ocorre com os indivíduos quando eles não se<br />
encaixam no meio social imediato, tal como este se apresenta a esses<br />
indivíduos e em particular num contexto social de relações sociais<br />
alienadas e alienantes? Essa pergunta é aqui puramente provocativa<br />
pois ela não tem sentido no escopo do construtivismo radical, já que<br />
respondê-la significaria admitir a possibilidade de afirmar algo sobre<br />
o que a realidade é (por exemplo, afirmar que a realidade da<br />
sociedade capitalista é alienada e alienante) e tal possibilidade é<br />
negada pelo construtivismo radical.<br />
Nesse sentido, a recusa do construtivismo em fazer afirmações sobre a<br />
realidade, essa atitude que transforma a verdade numa questão de construção<br />
subjetiva, resulta por si mesma, numa aceitação da realidade fetichizada da sociedade<br />
capitalista contemporânea. Ao pretender nada dizerem sobre a realidade, os<br />
construtivistas acabam por deixarem que a realidade alienada se apresente como a<br />
única alternativa possível à vida humana.<br />
Vejamos algumas manifestações, no campo pedagógico, dessa problemática<br />
concepção construtivista do que sejam o conhecimento e a realidade.<br />
Em texto publicado pela Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas em<br />
1991, Carlos Franchi analisa as relações entre criatividade e gramática numa<br />
perspectiva que chamaríamos de construtivista, embora o próprio autor não a<br />
nomeie 49 . Franchi inicia sua reflexão sobre esse tema abordando as contribuições e os<br />
limites dos escolanovistas:<br />
Já desde o início do século, educadores e filósofos da educação foramse<br />
a pouco e pouco afastando de uma didática conteudista e<br />
informativa e de uma psicologia sensu-empirista, baseada sobretudo<br />
no dado e no transmissível, no estabelecido e na herança, para<br />
reconhecer a função ativa do pensamento (e da linguagem) e o papel<br />
49 Revah (2006) discute a questão da articulação do construtivismo a um discurso crítico na<br />
década de 1980 e analisa a costura dele com Piaget e Emília Ferreiro na revista Nova Escola,<br />
publicada a partir de 1986. Nesse ano, a revista relatou experiências do Grupo de Estudos<br />
sobre o Ensino da Matemática de Porto Alegre (GEEMPA), que já estava nas publicações da<br />
SEE em 1985, como veremos no capítulo 3. O nome Emilia Ferreiro toma primeiro plano nas<br />
publicações da revista Nova Escola a partir de 1989, sendo citado em pelo menos uma<br />
matéria de todos os números desse ano.