Ana Carolina Galvão Marsiglia UM QUARTO DE ... - Home - Unesp
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pedagógicos. Deve ser criador daquilo que eu chamaria de “as<br />
oportunidades para descobrir”. Porque toda verdadeira<br />
aprendizagem (não a simples aquisição de informação) é um<br />
descobrimento, e todo descobrimento é uma recriação de uma<br />
realidade interpretada. (GARCÍA, 1997, p.54).<br />
Sendo a questão da reinvenção, fundamental para Piaget, tanto no que se<br />
refere ao plano epistemológico, como no campo psicológico da inteligência e no<br />
campo pedagógico, a afirmação de que o conhecimento não é cópia do real poderia<br />
apenas significar que a apropriação da realidade pelo pensamento é um processo<br />
ativo e, nesse caso, não haveria o que discordar. Mas o significado dessa afirmação em<br />
Piaget é mais do que isso. Segundo Delval (1998, p. 17):<br />
Se o sujeito constrói o conhecimento e todo conhecimento é<br />
resultado de sua atividade, a realidade não pode ser conhecida em si<br />
mesma, diretamente 50. De uma perspectiva construtivista, falar da<br />
realidade em si mesma carece de sentido. Pode-se apenas postular<br />
que ela existe, mas toda referência a ela será feita através da<br />
mediação do sujeito cognitivo 51.<br />
Por essas afirmações podemos concluir que no interior do construtivismo as<br />
aprendizagens expressam conhecimentos relativizados, tanto porque estão<br />
vinculadas à vida cotidiana dos indivíduos (as culturas locais se sobrepõem à cultura<br />
universal) como porque todo o conteúdo apreendido depende de um ponto de vista,<br />
construído por cada sujeito. Para esclarecer melhor como essa concepção teórica<br />
referenda as questões até aqui assinaladas, passaremos a discorrer sobre o<br />
50 Palangana, ao apresentar a concepção de desenvolvimento e aprendizagem de Piaget o faz<br />
explicitando seus pressupostos filosóficos e epistemológicos. Afirma a autora que apesar de<br />
biólogo, Piaget sofreu influências da filosofia kantiana (idealista), bem como de outras<br />
epistemologias contemporâneas. Ainda segundo Palangana (1994, p. 28), para Kant “[...] o<br />
homem não chega a conhecer a essência das coisas. A construção do fenômeno é o limite<br />
máximo ao qual o sujeito pode ascender”. Assim podemos observar a relação entre a<br />
epistemologia piagetiana e a filosofia kantiana, estudada por vários autores e reconhecida<br />
inclusive por Zélia Ramozzi-Chiarottino, expoente construtivista brasileira. (Confira<br />
FREITAG, 1991; OLIVEIRA, 2004; PALANGANA, 1994; RAMOZZI-CHIAROTTINO, 1988).<br />
51 Segundo Delval (1998, p. 16): “O construtivismo estabelece que o sujeito cognoscitivo<br />
constrói o conhecimento. Isto pressupõe que cada sujeito tem que construir seus próprios<br />
conhecimentos e que não os pode receber construídos de outros. A construção é uma tarefa<br />
solitária, no sentido de que é realizada no interior do sujeito, e só pode ser efetuada por ele<br />
mesmo. Essa construção dá origem à sua organização psicológica.”