Ana Carolina Galvão Marsiglia UM QUARTO DE ... - Home - Unesp
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Em resumo, a adaptação intelectual, como qualquer outra, é um<br />
estabelecimento de equilíbrio progressivo entre um mecanismo<br />
assimilador e uma acomodação complementar. O espírito só pode<br />
encontrar-se adaptado a uma realidade se houver uma acomodação<br />
perfeita, isto é, se nada mais vier, nessa realidade, modificar os<br />
esquemas do sujeito. Mas, inversamente, não há adaptação se a nova<br />
realidade tiver imposto atitudes motoras ou mentais contrárias às<br />
que tinham sido adotadas no contato com outros dados anteriores: só<br />
há uma adaptação se houver coerência, logo assimilação. [...] Mas em<br />
todos os casos, sem exceção, a adaptação só se considera realizada<br />
quando atinge um sistema estável, isto é, quando existe um equilíbrio<br />
entre acomodação e assimilação. Isso conduz-nos à função de<br />
organização. Do ponto de vista biológico, a organização é inseparável<br />
da adaptação: são os dois processos complementares de um<br />
mecanismo único, sendo o primeiro o aspecto interno do ciclo do<br />
qual a adaptação constitui o aspecto exterior.<br />
Piaget estabeleceu um modelo evolucionista em seus estudos, avaliando que os<br />
estágios se sucedem de forma constante para todos os sujeitos, se caracterizando<br />
sempre por uma determinada forma de organização, permitindo que as estruturas<br />
conquistadas em um estágio se integrem ao estágio seguinte. Coll e Martí (1996, p.<br />
107) explicam que<br />
A visão do desenvolvimento organizado em estágios sucessivos, cujos<br />
níveis de equilíbrio podem ser descritos mediante estruturas lógicas,<br />
determina também, em grande parte, a problemática das pesquisas<br />
sobre a aprendizagem. Qualquer aprendizagem deverá ser medida<br />
em relação às competências cognitivas que oferece cada estágio; este<br />
último indicará, pois, de acordo com Piaget, as possibilidades de<br />
aprender que tem o sujeito. Por isto, será necessário definir o nível<br />
cognitivo dos sujeitos antes das sessões de aprendizagem.<br />
Essas considerações iniciais já nos remetem ao dilema, na epistemologia<br />
construtivista 48 , entre objetivismo e relativismo. Duarte (2000, p. 90) formulou a<br />
hipótese de que haveria, na epistemologia piagetiana, “[...] uma ambiguidade entre,<br />
48 Teceremos considerações sobre o construtivismo a partir de Piaget, pois ele se tornou um<br />
marco referencial para essa concepção. Ainda que existam dissonâncias pontuais entre seus<br />
seguidores, concordamos com Rossler (2006, p. 142) ao afirmar que “[...] se o núcleo<br />
conceitual de uma teoria – uma dada visão de mundo, de homem, certos pressupostos e<br />
conceitos-chaves – é compartilhado pelos autores que dela fazem uso ou a absorvem em sua<br />
prática, nesse caso, estamos diante de apropriações teóricas com fundamento, isto é, a<br />
princípio minimamente coerentes. E, nesse sentido, análises que se estendam de forma<br />
generalizada a todos esses autores seriam, assim procedentes”.