Ana Carolina Galvão Marsiglia UM QUARTO DE ... - Home - Unesp
Ana Carolina Galvão Marsiglia UM QUARTO DE ... - Home - Unesp
Ana Carolina Galvão Marsiglia UM QUARTO DE ... - Home - Unesp
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
75<br />
conteúdos, são, por isso mesmo, formas de troca cognoscitivas ou de<br />
regulação interindividual, ao mesmo tempo em que são tiradas do<br />
funcionamento comum, peculiar a toda organização viva. Sem dúvida,<br />
do ponto de vista psicogenético estas regulações interindividuais ou<br />
sociais (e não hereditárias) constituem um fato novo com relação ao<br />
pensamento individual, que sem elas fica exposto a todas as<br />
deformações egocêntricas, e são condição necessária para a formação<br />
do sujeito epistêmico descentrado. Mas do ponto de vista lógico estas<br />
regulações superiores não dependem menos das condições de toda<br />
coordenação geral das ações e vai assim ao encontro do mesmo<br />
fundo biológico comum. (PIAGET, 2000, p. 406-407).<br />
Discutamos as ideias contidas nessa citação. Para Piaget a lógica que preside as<br />
ações do indivíduo sobre os objetos de seu conhecimento é a mesma que preside as<br />
relações dos indivíduos uns com os outros. Por sua vez, essa lógica é constituída por<br />
formas de pensamento “que são tiradas do funcionamento comum, peculiar a toda<br />
organização viva”, ou seja, a mesma lógica que preside os processos biológicos,<br />
também preside as interações sociais e os processos cognitivos. Assim, o fato de<br />
Piaget afirmar que as interações sociais (“regulações interindividuais”) são<br />
necessárias para o indivíduo superar o egocentrismo intelectual não significa como<br />
poderia parecer à primeira vista que Piaget estaria levando em conta a dialética entre<br />
o social e o individual. Na verdade sua solução para a questão das relações entre o<br />
individual e o social é submeter tudo ao “mesmo fundo biológico comum”, ou seja,<br />
submeter tudo ao funcionamento orgânico, isto é, do organismo. Em última instância<br />
prevalecem na teoria piagetiana os processos internos do organismo. É por isso que<br />
Delval afirma, como já foi aqui mencionado, que o conhecimento é um processo<br />
interno. Essa concepção transforma o social em pura abstração, em processualidade<br />
desprovida de concretude histórica. Como afirma Duarte (2006c, p. 280), qualquer<br />
que seja a perspectiva a partir da qual se analise a teoria piagetiana<br />
[...] chega-se sempre ao mesmo ponto, isto é, ao pressuposto de que a<br />
unidade dos processos psicológicos e sociais é dada pelo princípio da<br />
equilibração, como princípio universal, originário dos processos<br />
orgânicos. O social não é um princípio explicativo, mas sim um dos<br />
elementos de um esquema teórico no qual o princípio explicativo<br />
fundamental é a tendência ao equilíbrio.<br />
Essa concepção de social, ao orientar as atividades educativas escolares,<br />
resulta na supervalorização das interações entre os alunos, à qual passa a subordinar-