Ana Carolina Galvão Marsiglia UM QUARTO DE ... - Home - Unesp
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Outras considerações importantes sobre a linguagem escrita na perspectiva<br />
piagetiana dizem respeito à variabilidade da aprendizagem conforme o contexto<br />
social e a necessidade da intervenção pedagógica para a construção do conhecimento<br />
sobre a escrita.<br />
Sobre o primeiro ponto, Ferreiro e Teberosky (1985) interpretaram os dados<br />
obtidos avaliando que crianças de classe baixa chegam à escola com menos<br />
conhecimentos do que aquelas da classe média (são estes os grupos que compõem a<br />
pesquisa). No entanto, as pesquisadoras se furtaram a analisar essas diferenças, pois<br />
o que lhes interessava investigar era<br />
80<br />
[...] se as mesmas condutas aparecem em ambos os grupos, ou se<br />
há condutas específicas para cada grupo. Nesse sentido, os dados<br />
são conclusivos: não há nenhum tipo de conduta que seja exclusivo<br />
de um grupo social. (FERREIRO e TEBEROSKY, 1985, p. 143, grifo das<br />
autoras).<br />
Concordamos que não há condutas exclusivas de um grupo ou outro como algo<br />
inato ou que nem todas as crianças possam aprender. Entretanto, essa possibilidade<br />
depende das condições objetivas de acesso ao conhecimento. As crianças que detém a<br />
cultura de forma mais apurada são aquelas que tiveram mais chances de apropriação<br />
do patrimônio humano-genérico, dentro e fora da escola. Quando chegam à<br />
alfabetização, terão níveis diferentes de posse dos instrumentos que lhe<br />
possibilitarão dominar a escrita mais rápida ou lentamente. Bem, mas então, estamos<br />
confirmando o discurso de que as crianças aprendem apesar da escola e não por<br />
causa dela, correto? Não. Ao contrário! Entendemos que se foi possível que Emília<br />
Ferreiro e <strong>Ana</strong> Teberosky concluíssem que não há diferenças entre grupos sociais na<br />
aquisição da escrita, isso é devido ao fato de que as crianças de ambos os grupos<br />
frequentavam a escola durante a pesquisa. Idealização, porém, é acreditar que não há<br />
nada a se fazer sobre isso, perpetuando a naturalização dos “tempos” e necessidades<br />
do indivíduo. Considerando que as crianças frequentarão o mesmo tempo de<br />
escolarização (o ensino fundamental de 9 anos, por exemplo), ao se naturalizar as<br />
diferenças de aprendizagem como algo pertinente ao indivíduo em suas<br />
possibilidades, prescreve-se o sucesso ou o fracasso; o maior ou menor