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Comentário Epístolas Gerais

Comentário de João Calvino nas Epístolas Gerais.

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102 • <strong>Comentário</strong> das <strong>Epístolas</strong> <strong>Gerais</strong> – Tiago<br />

com toda liberalidade enquanto caluniamos outros. Há ainda outra<br />

doença inerente na natureza humana: que cada um deseja que todos os<br />

demais vivam em conformidade com sua própria vontade ou fantasia.<br />

Nesta passagem, Tiago condena com propriedade tal presunção, isto<br />

é, quando ousamos impor sobre nossos irmãos nossa norma de vida.<br />

Ele, pois, toma maledicência como que incluindo todas as calúnias e<br />

palavras suspeitas que emanam de um juízo maligno e pervertido. O<br />

mal da difamação assume uma gama muito ampla; aqui, porém, ele se<br />

refere propriamente àquele gênero de difamação que eu já mencionei,<br />

isto é, quando arrogantemente determinamos acerca de atos e ditos<br />

de outrem, como se nossa própria impertinência fosse a lei, quando<br />

atrevidamente condenamos tudo quanto nos apraz.<br />

Que tal presunção é aqui reprovada faz-se evidente à luz da razão<br />

imediatamente se adiciona: aquele que fala mal de, ou difama seu<br />

irmão; fala mal de, ou difama a lei. Ele notifica que alguém leva longe<br />

demais a lei quando reivindica autoridade sobre seus irmãos. Detração,<br />

pois, contra a lei, é oposto àquela reverência com que nos cabe<br />

respeitá-la.<br />

Paulo formula quase o mesmo argumento em Romanos 14, ainda<br />

que num momento diferente. Pois quando alguém se deixava possuir<br />

de superstição na escolha de alimentos, que ele pensava ser ilícito<br />

para si, condenava também nos demais. Ele, pois, lhes recorda que<br />

há somente um Senhor, por cuja vontade todos ficam de pé ou caem,<br />

e ante cujo tribunal todos nós compareceremos. Daí ele concluir que<br />

aquele que julga seus irmãos, com base em sua própria visão das<br />

coisas, assume para si o que peculiarmente pertence a Deus. Tiago,<br />

porém, aqui reprova os que sob o pretexto de santidade condenavam<br />

seus irmãos, e assim estabeleciam sua própria impertinência no lugar<br />

da lei divina. Não obstante, ele emprega a mesma razão que Paulo, a<br />

saber, que agimos presunçosamente quando assumimos autoridade<br />

sobre nossos irmãos, enquanto a lei de Deus subordina a si a todos<br />

nós, sem exceção. Aprendamos, pois, que não devemos julgar exceto<br />

em conformidade com a lei de Deus.

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