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Comentário Epístolas Gerais

Comentário de João Calvino nas Epístolas Gerais.

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462 • <strong>Comentário</strong> das <strong>Epístolas</strong> <strong>Gerais</strong> – 1João<br />

benefício de uma tranquilidade pacífica, que está para além do alcance<br />

do medo. Daí se manifestar aquele singular dom de Deus com o qual<br />

nos favorece com seu amor. Ademais, desta doutrina ele extrairá presentemente<br />

uma exortação; mas, antes de nos exortar ao dever, ele<br />

nos recomenda este dom de Deus, o qual, pela fé, remove nosso medo.<br />

Esta passagem, bem sei, é, por muitos, explicada de forma diferente;<br />

porém, considero que o apóstolo tem em mente não o que outros<br />

pensam. Afirmam que no amor não existe medo porque, quando espontaneamente<br />

amamos a Deus, não somos constrangidos por força<br />

e temor a servi-lo. Então, segundo eles, temor servil é aqui posto em<br />

oposição à reverência voluntária; e daí tem surgido a distinção entre<br />

o temor servil e o filial. Eu, na verdade, admito que, quando amamos a<br />

Deus espontaneamente, na qualidade de Pai, já não somos constrangidos<br />

pelo temor da punição; esta doutrina, porém, nada tem em comum<br />

com esta passagem, pois o apóstolo apenas nos ensina que, quando o<br />

amor de Deus é por nós visto e conhecido, pela fé, nossa consciência<br />

recebe paz, de modo que não mais treme nem teme.<br />

Não obstante, é possível que se indague quando o amor perfeito<br />

expulsa o temor, porque, visto que somos dotados com apenas algum<br />

sabor do amor divino para conosco, jamais podemos viver totalmente<br />

isentos de temor. A isto respondo que, ainda que não nos livremos totalmente<br />

do temor, contudo, quando fugimos para Deus, como nosso<br />

porto tranquilo, livre de todo perigo de naufrágio e tempestades, o<br />

temor é realmente expelido, porquanto ele abre uma via à fé. Então,<br />

o temor não é expelido assim que assalta nossa mente, mas é de tal<br />

modo expelido que já não nos atormenta nem impede aquela paz que<br />

obtemos pela fé.<br />

O temor traz tormento. Aqui o apóstolo amplia ainda mais a grandeza<br />

daquela graça da qual ele fala; pois como é uma condição mui<br />

miserável sofrer tormentos sem trégua, nada se deseja mais do que<br />

apresentar-nos diante de Deus com uma consciência tranquila e mente<br />

serena. O que alguns dizem, que os servos temem porque têm diante<br />

de seus olhos a punição e a vara, e que não cumprem seu dever senão

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