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Comentário Epístolas Gerais

Comentário de João Calvino nas Epístolas Gerais.

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Capítulo 4 • 261<br />

faltas; como se ele quisesse dizer que cabia aos cristãos merecer o<br />

bem de todos, inclusive quando fossem amarga e cruelmente tratados<br />

pelo mundo.<br />

Caso alguém objete e diga que não se pode achar ninguém que<br />

seja tão inocente, mas que, por suas muitas faltas, merece ser castigado<br />

por Deus, a isto respondo que Pedro, aqui, fala dos pecados dos quais<br />

devemos estar inteiramente livres, tais como roubos e homicídios; e<br />

respondo ainda mais que o apóstolo ordena aos cristãos que sejam tais<br />

como devem ser. Não surpreende, pois, que ele realce uma diferença entre<br />

nós e os filhos do mundo, os quais, vivendo sem o Espírito de Deus,<br />

se entregam a todo gênero de perversidade. Ele não queria que os filhos<br />

de Deus vivessem na mesma condição, a ponto de atrair sobre si, por<br />

uma vida perversa, o castigo resultante das leis. Mas em outro lugar já<br />

dissemos que haverá sempre pecados nos eleitos, os quais Deus pode<br />

punir com justiça, contudo, segundo sua paternal indulgência, ele poupa<br />

seus próprios filhos, de modo que não lhes seja infligida a punição<br />

que merecem, e que, portanto, em virtude da honra, ele os adorna com<br />

seus próprios emblemas e os de seu Cristo, quando lhes permite que<br />

sejam afligidos para o testemunho do evangelho.<br />

A palavra ἀλλοτριοεπίσκοπος parece-me designar alguém que cobiça<br />

o que pertence a outrem. Pois aqueles que abocanham a pilhagem e<br />

a fraude se intrometem nos negócios de outrem com olhos tortuosos e<br />

desonestos, no dizer de Horácio; 48 mas aquele que despreza o dinheiro,<br />

como afirma em outro lugar, visualiza vastos montões de ouro com<br />

um olho honesto. 49<br />

16. Mas, se alguém sofre como cristão. Depois de haver proibido<br />

os cristãos de causar prejuízo ou fazer dano, para que, por seus maus<br />

48 Sic tamen, ut limis rapias, quid prima secundo cera velit versu. – Sat. Lib. Ii. 5, 53.<br />

49 Quisquis ingentes oculo irretorto, spectat acervos. – Carm. Lib. Ii. Od. Ii. 23. O pecado<br />

aqui referido teria algum ato público punível por lei. A palavra significa um observador<br />

dos negócios de outras pessoas, mas teria feito assim por propósito sinistro.<br />

Provavelmente fosse um curioso em matéria de estado ou governo com o fim de gerar<br />

descontentamento e suscitar comoções; e este era um mal que prevalecia em grande<br />

escala naqueles tempos entre os judeus. Daí “sedições” ou facções provavelmente<br />

comunicariam o significado certo.

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