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Comentário Epístolas Gerais

Comentário de João Calvino nas Epístolas Gerais.

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48 • <strong>Comentário</strong> das <strong>Epístolas</strong> <strong>Gerais</strong> – Tiago<br />

Este raciocínio é muito diferente daquele de Platão, o qual sustentava<br />

que nenhuma calamidade é enviada por Deus, porquanto ele<br />

é bom; pois ainda que seja justo que os crimes dos homens são castigados<br />

por Deus, contudo não é certo, com referência a ele, considerar<br />

entre os males aquela punição que ele inflige com justiça. Deveras Platão<br />

era ignorante; Tiago, porém, deixando a Deus o direito e o ofício de<br />

punir, simplesmente remove dele a culpa.<br />

Esta passagem nos ensina que devemos deixar-nos afetar de tal<br />

modo pelas inumeráveis bênçãos de Deus, as quais recebemos diariamente<br />

de suas mãos, que em nada mais pensemos senão em sua glória;<br />

e que devemos sentir aversão por tudo quanto vem a nossa mente,<br />

ou é sugerido por outros, que porventura não é compatível com seu<br />

louvor.<br />

Deus é denominado o Pai das luzes, como a possuir toda a excelência<br />

e a mais elevada dignidade. E quando imediatamente adiciona<br />

que não há nele nenhuma sombra de mudança, ele dá segmento à metáfora,<br />

para que não meçamos o esplendor de Deus pela irradiação do<br />

sol que surge sobre nós. 10<br />

18. De sua própria vontade. Ele agora apresenta uma prova especial<br />

da bondade de Deus que já havia mencionado, a saber, que ele<br />

já nos regenerou para a vida eterna. Cada um dos fiéis sente em si<br />

mesmo este inestimável benefício. Então a bondade de Deus, quando<br />

10 Este versículo deve ser tomado em conexão com o que vem antes. Ao mencionar “toda<br />

boa dádiva”, ele faz isso em oposição ao mal do qual afirma que Deus não é o autor.<br />

Conferir Mateus 7.11. E “todo dom perfeito e gratuito”, como δώρημα significa, tem uma<br />

referência à correção do mal que se origina no próprio homem. E ele chama dom gratuito<br />

e perfeito, porque não possui nenhum misto de mal, do qual nega peremptoriamente<br />

que Deus seja o autor. Então, a última parte do versículo mantém uma correspondência<br />

com a primeira. Ele chama Deus “o Pai das luzes”. Luz, na linguagem bíblica, significa<br />

especialmente duas coisas: a luz da verdade, do conhecimento divino e da santidade.<br />

Deus é o Pai, o progenitor, a origem, a fonte das luzes. Daí, dele desce todo dom bom,<br />

proveitoso e necessário, para livrar o homem do mal, da ignorância e da ilusão, e todo<br />

dom gratuito e perfeito liberta os homens de suas concupiscências perversas e o faz<br />

santo e feliz. E, para mostrar que Deus é sempre o mesmo, ele adiciona: “em quem não<br />

há variação ou sombra [ou escuridão, ou a mais leve aparência] de mudança”; isto<br />

é, que nunca varia em seus tratos com os homens, e não revela nenhum sintoma de<br />

qualquer mudança, sendo o autor e doador de todo bem, e não o autor de algum mal,<br />

isto é, de pecado.

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