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Comentário Epístolas Gerais

Comentário de João Calvino nas Epístolas Gerais.

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Capítulo 1 • 45<br />

são, a qual nos foi legada, tal como é, desde o primeiro homem. Por<br />

esta razão, Tiago nos convoca a confessar nossa própria culpa, e a não<br />

implicar Deus, como se ele nos compelisse a pecar.<br />

Pois a totalidade da doutrina bíblica parece ser inconsistente com<br />

esta passagem, porquanto ela nos ensina que os homens são cegados<br />

por Deus, que são entregues a uma mente reprovável e abandonados<br />

às concupiscências imundas e vergonhosas. A isto respondo que Tiago,<br />

provavelmente, foi induzido a negar que somos tentados por Deus<br />

por esta razão: porque os ímpios, com o fim de formular uma desculpa,<br />

se armam com testemunhos da Escritura. Pois aqui há duas coisas a serem<br />

levadas em conta: quando a Escritura atribui a Deus a cegueira ou<br />

dureza de coração, ela não atribui a Deus o princípio dessa cegueira,<br />

nem o faz autor do pecado, a ponto de atribuir-lhe a responsabilidade;<br />

e Tiago apenas insiste sobre estas duas coisas.<br />

A Escritura assevera que os réprobos são entregues às concupiscências<br />

depravadas; mas isso é assim porque o Senhor perverte ou<br />

corrompe seus corações? De modo algum; pois seus corações estão<br />

sujeitos às concupiscências depravadas, porquanto já são corruptos e<br />

viciosos. Mas, visto que Deus cega ou endurece, porventura ele se torna<br />

o autor ou ministro do mal? Não! Mas é desta maneira que ele pune<br />

os pecados dos ímpios e dá uma recompensa justa a quem porventura<br />

recusa deixar-se governar por seu Espírito [Rm 1.26]. Daí se segue que<br />

a origem do pecado não está em Deus, e não se pode imputar-lhe nenhuma<br />

culpa, como se ele tivesse prazer nos males [Gn 6.6].<br />

O significado é que se esquiva em vão quem tenta lançar sobre<br />

Deus a culpa de seus vícios, porque todo mal não procede de nenhuma<br />

outra fonte, senão da perversa concupiscência do homem. E, realmente,<br />

o fato é que somos levados a desviar-nos de nenhuma outra<br />

maneira, senão porque cada um tem sua própria inclinação como seu<br />

condutor e impulsor. Mas, que Deus a ninguém tenta, ele prova com<br />

isto: porque ele não é tentado pelos males. 8 Pois é o diabo que nos atrai<br />

8 Literalmente, “intentável por males”, isto é, não passível de ser tentado ou seduzido por<br />

males, por coisas perversas e pecaminosas. Ele é tão puro, que não se deixa influenciar

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