José Capela100de escravos em grande escala. Mesmo quando o comércio representava amaior fonte de receita da unidade prazeira. Embora não seja possível umaquantificação rigorosa do produto destinado à subsistência interna de cadadomínio e o excedente, basta imaginar as grandes populações fazendo asua vida tradicional e levando ao prazeiro os tributos outrora devidos aomambo, os exércitos de escravos fazendo a sua própria subsistência materiale a constante da sumptuosidade e ociosidade de vida dos senhores,de que dão testemunho todas as crónicas setecentistas, para não restaremdúvidas de que as relações comerciais exteriores não eram socialmentepredominantes e não boliam com o tipo restante de relações internas dodomínio prazeiro.É certo que os prazeiros mantiveram relações comerciais para o interiordo território até finais do século XVIII. E que essas operações comerciaisforam, durante muito tempo, a sua principal fonte de receita. Organizandocaravanas que percorriam vários itinerários comerciais, trocando os produtosrecebidos dos portos pelos produtos locais, nomeadamente o ouro e o marfim.Mas os prazeiros em pessoa não participavam de tais expedições que eramconstituídas por escravos e colonos, geralmente do seu domínio. Agentescomerciais de que se utilizavam no comércio do sertão e que lhes aportavamnovas, substanciais receitas. Este era um comércio de alguma maneira complementar,relativamente àquele outro que se fazia de e para os portos e cujosagentes constituíam uma classe bem demarcada da dos prazeiros. O facto dea actividade comercial ter constituído a receita principal dos prazos, nem porisso nos parece que tenha alterado o carácter predominantemente senhorialdo sistema, em cujas relações internas não era principalmente determinante.Aliás e parecendo até, à primeira vista, que os prazeiros estavam favoravelmentecolocados no terreno para dominarem o comércio do interior, o queveio a acontecer é que foram vencidos pela concorrência, nomeadamentepelos comerciantes da África Central, os Yao, entre outras razões porqueestes comerciantes obtinham nos portos os artigos a transaccionar a muitomais baixo preço. Os prazeiros eram, de alguma maneira, negociantes emsegunda mão e em segunda instância. Na segunda metade do século XVIII,as caravanas Yao tinham atingido o sul do Zambeze e operavam na área quetinha sido a privilegiada do comércio prazeiro. Em finais do mesmo século,este comércio era uma sombra do que tinha sido outrora.2007
As Burguesias Portuguesas e a Abolição do Tráfico de Escravatura, <strong>1810</strong>-<strong>1842</strong>Até tão tarde como meados do século XVIII nem eram portugueses doReino que andavam no comércio dos portos com o interior. Uma memóriade 1762 diz-nos que Tete era o entreposto de todo o comércio que desciadesde o Zumbo, de onde vinha a maior parte do ouro que entrava em Sena.Nesse comércio, em 1752, andavam uns vinte goeses. Os portugueses tinhamdesaparecido, o que permitira o enriquecimento de muitos goesescom casas opulentas em Salsete, Bardez, e na Índia (194) . Em finais do séculoXVIII, o enorme prazo do Luabo, já em grande decadência, continuava comvariadas produções de legumes, cereais, frutas, cocos, etc., mas tudo «paratotal provimento de uma populosa família» (195) .Os prazos reuniam, pois, todas as condições para satisfazer às ambiçõesde riqueza, poder e sumptuária de uma verdadeira classe senhorial.A exportação de excedentes e o comércio no interior proporcionavamrendimentos mais do que suficientes à manutenção do status. A extracçãodos componentes desta classe, a inércia e ociosidade proporcionadas pelascircunstâncias em que mantinham os seus domínios, a incapacidade paraintroduzir novas técnicas de exploração, a incerteza relativamente a qualqueraplicação inovadora e mais rentável de capitais, tudo convergia paraque esta classe reforçasse o seu ethos de classe senhorial fechada sobre simesma, escravocrata e incapaz de qualquer evolução significativa.As causas do seu desmoronamento viriam do exterior e tais influênciasencontraram um campo fácil, exactamente porque depararam com umasociedade dominada por uma classe que, além de muito escassa em número,estava dividida por profundas rivalidades mas, sobretudo, porquefora incapaz de se dinamizar e de se reformular. Habituada à vida fácil,um novo e multiplicado lucro ainda mais fácil que lhe foi proporcionadopela exportação maciça de escravos, atingiu a base do próprio sistema, semque a classe senhorial se desse conta de que cavava a sua ruína definitiva.Um outro factor que terá contribuído para a relativa estabilidade destaclasse senhorial terão sido as peculiares relações que manteve com as101194 MEMÓRIAS DA COSTA D’ÁFRICA ORIENTAL..., 1762, in Andrade, ob. cit., pág. 195. Para o comérciode e nos Prazos vide Isaacman, ob. cit., THE ECONOMIC OF THE PRAZOS: DISTRIBUTION, págs.72 e segs.195 <strong>DE</strong>SCRIPÇÃO DA CAPITANIA <strong>DE</strong> MOSSAMBIQUE, SUAS POVOAÇÕES E PRODUÇÕES (1788),anónimo, in Andrade, ob. cit.., pág. 396.E-BOOK CEAUP
- Page 1:
EDIÇÕESELECTRÓNICASCEAUPAS BURGU
- Page 5 and 6:
AS BURGUESIAS PORTUGUESASE A ABOLI
- Page 7:
ÍNDICEPREFÁCIO 9INTRODUÇÃO 111.
- Page 12 and 13:
José Capela12Estudar, pois, a abol
- Page 15 and 16:
As Burguesias Portuguesas e a Aboli
- Page 17 and 18:
As Burguesias Portuguesas e a Aboli
- Page 19 and 20:
As Burguesias Portuguesas e a Aboli
- Page 22 and 23:
José Capela22da tal ordem senhoria
- Page 24 and 25:
José CapelaCom a extinção das co
- Page 26 and 27:
José Capela26defrontavam em Portug
- Page 28 and 29:
José Capelaexpansão que dela se p
- Page 30 and 31:
José CapelaOra, a primeira de toda
- Page 32 and 33:
José Capela32retirada dos monopól
- Page 34 and 35:
José CapelaSe pode aceitar-se como
- Page 36 and 37:
José Capelada consideração sober
- Page 38 and 39:
José Capela38«Tolos eram os portu
- Page 40 and 41:
José Capelapronto, e que era miste
- Page 42 and 43:
José Capela42comércio legítimo n
- Page 44 and 45:
José Capelaem que este comércio d
- Page 46 and 47:
José Capela46Porto do que em Lisbo
- Page 48 and 49:
José Capela48metrópole» (81) . M
- Page 50 and 51: José Capela50momentâneo bem da ag
- Page 52 and 53: José Capelado tráfico da escravat
- Page 54 and 55: José Capela54que o tráfico da esc
- Page 56 and 57: José Capela56Mas os brasileiros ta
- Page 58 and 59: José Capela58a sair em navios port
- Page 60 and 61: José Capelaprojecto para proibiç
- Page 62 and 63: José Capelaefeitos da convulsão p
- Page 64 and 65: José Capelaexactamente porque não
- Page 66 and 67: José Capela66milícia, no comérci
- Page 68 and 69: José Capela68extremamente diversif
- Page 70 and 71: José Capela70da proibição que im
- Page 72 and 73: José Capela72desenganar aos comiss
- Page 74 and 75: José Capela74que puderam reduzir a
- Page 76 and 77: José Capela76As posições políti
- Page 78 and 79: José CapelaFoi sugerido que uma da
- Page 80 and 81: José Capela80O próprio Sá da Ban
- Page 82 and 83: José Capela82limitando a observaç
- Page 84 and 85: José Capela84se viam pequenos cobe
- Page 86 and 87: José Capela86netos, e a sua fortun
- Page 88 and 89: José Capela88de 150 a 200 pessoas,
- Page 90 and 91: José Capela90medida havia de traze
- Page 92 and 93: José CapelaOutro índice significa
- Page 94 and 95: José Capela94senhores. Conquista q
- Page 96 and 97: José Capela96Como a transmissão d
- Page 98 and 99: José Capela98com que se divertiam
- Page 102 and 103: José Capela102populações dominad
- Page 104 and 105: José Capela104militarmente aqueles
- Page 106 and 107: José Capela106economicamente. A au
- Page 108 and 109: José Capela108capitão-general Dav
- Page 110 and 111: José Capela110O mesmo governador,
- Page 112 and 113: José Capela112eram dos mais ricos
- Page 114 and 115: José Capela114Estamos portanto dia
- Page 116 and 117: José Capela116O que aproveitava, s
- Page 118 and 119: José Capela118todos os navios da m
- Page 120 and 121: José Capela120enriquecer rapidamen
- Page 122 and 123: José Capelatem ido deste país par
- Page 124 and 125: José Capela124Não há dúvida que
- Page 126 and 127: José Capela126disso o mesmo govern
- Page 128 and 129: José Capela128para fazer o contrab
- Page 130 and 131: José Capela130Ocidental apenas um
- Page 132 and 133: José Capela132Esta narrativa deixa
- Page 134 and 135: José Capela134de que Cirne o acusa
- Page 136 and 137: José Capela136sindicância, porque
- Page 138 and 139: José Capela138Foi assim que o mini
- Page 140 and 141: José Capela140atribui às pressõe
- Page 142 and 143: José Capela142ocaso do capitão Al
- Page 144 and 145: José Capela144porque em Moçambiqu
- Page 146 and 147: José Capela146no tráfico da escra
- Page 148 and 149: José Capela148fronteiro à Ilha de
- Page 150 and 151:
José Capela150artigos adicionais s
- Page 152 and 153:
José Capela152vitória. E quando f
- Page 154 and 155:
José Capela154Os ingleses, que já
- Page 156 and 157:
José Capela156intervir no tráfico
- Page 158 and 159:
José Capela158domínios portuguese
- Page 160 and 161:
José Capela160Inglaterra disposta
- Page 162 and 163:
José Capela162da Bandeira recusou
- Page 164 and 165:
José Capela164negócio nada aprove
- Page 166 and 167:
José Capela166de D. João VI inter
- Page 168 and 169:
José Capelacomércio britânico, a
- Page 170 and 171:
José Capela170nesta verba débitos
- Page 172 and 173:
José Capelaeconómico dos dois pa
- Page 174 and 175:
José Capela174Os projectos, tímid
- Page 176 and 177:
José Capela176em nova era. O que a
- Page 178 and 179:
José Capelaesclavagistas e dadas a
- Page 180 and 181:
José Capela180algodão, para o qua
- Page 182 and 183:
José CapelaANEXOSCOMPRA DE UM ESCR
- Page 184 and 185:
José Capela184CIRNE, Manuel Joaqui
- Page 186 and 187:
José CapelaRESULTADO DOS TRABALHOS
- Page 188 and 189:
José Capela188AZEVEDO, Julião Soa
- Page 190 and 191:
José Capela190GOMES, Marques - LUC
- Page 192:
José Capela192SANCEAU, Elaine - D.