José Capela150artigos adicionais segundo os quais os barcos com provas claras e inegáveisde negreiros seriam apreendidos, o que é verdade é que os traficantesportugueses continuavam a poder transportar escravos ao sul do Equador.Cláusula que se mantinha e que, restringida embora à ligação entre colóniasportuguesas, dadas as ambiguidades em que se dera a proclamaçãoda independência do Brasil, sem reconhecimento imediato, impedia acaptura dos navios com bandeira e documentação portuguesas. Por outrolado, as lutas políticas que mantiveram o país em pé-de-guerra até 1834,com as constantes mudanças de governo, impediam que o governo inglêsencontrasse interlocutor susceptível de atender, em Portugal, às pressões diplomáticasque estava a exercer em toda a parte para a extinção do tráfico.Foi assim que se chegou até tão tarde como 1836 sem que nenhumamedida concreta tivesse sido tomada pelas autoridades portuguesas, apesardessas pressões e dos tratados em que Portugal se comprometera a diligenciarpor combater o tráfico. Por isso e, naturalmente, por outras razõesque veremos. Portanto, a primeira iniciativa do governo português contrao tráfico dos escravos só veio a surgir em pleno setembrismo.Da Revolução de Setembro em geral e da questão abolicionista emparticular, emerge a figura de Sá da Bandeira. Ele mesmo personificoucabalmente os equívocos de que vinha revestido o movimento liberal. Logona Revolução de Setembro desempenhou papel de extrema importância,tentando a conciliação da Constituição de 1822 e da Carta de 1826, procurandosimultaneamente amortecer o radicalismo popular do movimento edar realidade «ao espírito do tempo, porque se torna necessário caminharcom ele e é somente assim que se poderá moderar as cabeças impetuosasque aparecem em todas as revoluções, porque estamos numa revolução,a qual, felizmente, foi tranquila...» (313) .Ora, Sá da Bandeira, ainda capitão, e desde 1820, fora um adversárioda tendência mais democrática do movimento liberal, ao ponto de tersido preso e expulso do Exército (314) . Em 1821 foi mesmo excluído de umaamnistia geral. De 1821 a 1829 esteve quase ininterruptamente exilado.O seu triunfo político viria a afirmar-se com a Revolução de Setembro, no313 Victor de Sá, A REVOLUÇÃO <strong>DE</strong> SETEMBRO <strong>DE</strong> 1826, Lisboa, 1969, págs. 80 e segs.314 O caso de Sá da Bandeira foi discutido nas Cortes Constituintes, na sessão de 8 de Março de 1821.2007
As Burguesias Portuguesas e a Abolição do Tráfico de Escravatura, <strong>1810</strong>-<strong>1842</strong>decorrer da qual, usando da maior habilidade, ganha jus a acabar comoorganizador do ministério resultante da mesma (315) . Com ele, de um movimentopopular sai para o poder a burguesia rural de que Sá da Bandeiraera, pessoalmente, um representante típico. Obtivera a conciliação entrecartistas e setembristas, aqueles personificando os interesses da burguesiarural e comercial e estes da burguesia industrial nascente, intelectuais,pequena burguesia comercial, artesãos, etc.E seria esta personalidade a enfrentar toda a fúria diplomática inglesa(que aliás, em parte, pretextou), na longa disputa à volta da abolição dotráfico dos escravos.Do lado inglês destacou-se Lord Palmerston (316) . Era ele um dos elementosmais moderados dentro do governo que, tendo subido ao poder em1830, tentou a introdução da reforma parlamentar. Quando o Reform Billfinalmente passou, a Inglaterra teve que realinhar a sua política exteriorde harmonia com princípios mais liberais. Nos dois anos que precederama sua entrada para a Secretaria dos Estrangeiros, o ataque principal dePalmerston ao governo conservador foi contra a política seguida paracom Portugal. Em 1826 Canning mandara tropas para defender o governoconstitucional de um contra-golpe miguelista. Em 1829 Palmerstonafirmava no Parlamento que «o mundo civilizado lança as suas execraçõessobre Miguel». Mas, sendo secretário de Estado, não interveio a favor dafacção constitucional, como fizera Canning. Mantinha-se neutral, sendo asua política relativamente a Portugal a defesa intransigente dos privilégiosoutorgados aos cidadãos britânicos no nosso país pelos tratados de 1667 ede <strong>1810</strong>. Quando a França tentou a invasão do Tejo como represália pelaprisão de um francês, Palmerston obteve daquele país o acordo de nãointerferência nos negócios internos de Portugal, se bem que não aprovassea sua política. Quando D. Pedro procurou reforços em Inglaterra, não o impediu.Deu ordens para intervenção das forças inglesas a favor de D. Pedro,no caso de uma invasão espanhola a favor de D. Miguel. Passou a tomaratitudes favoráveis a D. Pedro quando este desembarcou em Portugal, masnão aprovou o confisco dos bens dos miguelistas e conventuais, após a sua151315 Victor de Sá, A CRISE <strong>DO</strong> LIBERALISMO, cit., págs. 175 e segs.316 Para o que respeita à personalidade de Palmerston e às suas relações com Portugal, Jasper Ridley,ob. cit., especialmente os capítulos 13 The Quadruple Alliance, e 14 The Difficulties with Portugal.E-BOOK CEAUP
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