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DO TRÁFICO DE ESCRAVATURA 1810-1842

as burguesias portuguesas ea abolição do tráfico de escravatura ...

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As Burguesias Portuguesas e a Abolição do Tráfico de Escravatura, <strong>1810</strong>-<strong>1842</strong>Se aí fica claramente retratada toda uma espécie de gente, os negociantesno sertão, assim como as suas ligações com as autoridades e osnotáveis da capital, fica igualmente descrita a relação directa que estesnegreiros estabeleciam com as populações locais e com os escravos. Eram,incontestavelmente, relações da maior violência física e moral criando ototal desprezo de uma raça por outra. Por isso também, a resposta era ade total afastamento por parte das populações espoliadas e escravizadas.Mello e Castro não só o percebeu inteiramente, como identificou, na classeescravocrata de tal tipo, governantes, comandantes e negociantes (125) .Para finais do século XVIII temos um outro testemunho pormenorizadosobre a maneira como era feita a escravatura em Angola. O de Luís Antóniode Oliveira Mendes, apresentado à Academia das Ciências, em 1793 (126) . Alise podem ver, minuciosamente descritos, os trâmites por que passava umpreto desde que era feito escravo até chegar ao seu destino. E todos os maustratos a que era sujeito e que dizimavam muitos deles. Obtidos no sertãopor funidores ou tumberos, «pretos livres, que vivem, e andam no tráfico depermutar escravos nos sertões e presídios, que eles levam, e transportamem o seu comboio, que se compõe de perto de cem pretos carregados»,é o trajecto de meses até à costa, sempre amarrados, sofrendo a fome, ainclemência do clima, os castigas corporais, a que grande parte não resiste.Uma vez nos portos, dá-se a segunda permuta dos escravos «por fazenda,e géneros a comerciantes, que ali têm casa de negócio assentada para estefim». Estes comerciantes retinham a mercadoria nas piores condições: nus,com alimentação péssima e escassa, entregando-os finalmente aos capitãesdos navios. «Nesta situação, e economia se conserva por semanas, e pormeses a escravatura, e é grande a quantidade dela que morre; de sorte quedescendo a Luanda em cada ano de dez a doze mil escravos, muitas vezessucede, que só chegam a ser transportados de seis a sete mil para o Brasil.Entrando-se neste cálculo por toda a costa de Leste, ele não é bastante para71125 In idem, pág. 53: «Sendo certo que enquanto os miseráveis negros forem tratados, com as iniquidadesque ficam acima indicadas, e outras semelhantes assim dá parte dos que os governam, ou comandam,como dos que negoceiam com eles, nem nos sertões de Angola e Benguela se poderão jamais extinguiros rebeldes, nem os negros deixarão de fugir, do nosso opressivo, e doloso comércio, buscando-o dosestrangeiros; nem o domínio português deixará de lhe ser cada vez mais odioso e intolerável».126 Publicado recentemente in MEMÓRIA A RESPEITO <strong>DO</strong>S ESCRAVOS E <strong>TRÁFICO</strong> DA <strong>ESCRAVATURA</strong>ENTRE A COSTA D’ÁFRICA E O BRASIL, Porto, 1977.E-BOOK CEAUP

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