José Capela50momentâneo bem da agricultura, nada prosperou, e viu-se atéentão fundarem-se nas costas boas casas e dali em diante deixoude se ver.Presentemente que há-de ser? Os portos do Brasil francosa todo o mundo, fazem com que as nossas fazendas não possamconcorrer com as estrangeiras. Nós recebemos das naçõesestrangeiras grandes quantidades de matérias primas para asmanufacturas; pagamos por elas 30 por cento, de entrada; manufacturámo-las;depois de manufacturadas pagamos 7 por 100 (ousomente 3 se são laboradas em fábricas grandes, do que não seia razão, pois o trabalho do pobre artista não é menos apreciáveldo que o das grandes fábricas) por saída para o Ultramar; alipagam mais 16 por cento de entrada; ao passo que as estrangeirascujo custo da fábrica é mais barato que o das nossas, pagam porentrada no Brasil somente 28 e sendo inglesas só 15 por cem.Como havemos pois de ter comércio? E para mais pena sentirmos,os nossos vinhos, único ramo que temos em abundância para nóse para os estrangeiros, sem podermos dar-lhe consumo, o Brasillhes não dá preferência alguma, mas os recebe do estrangeiropara o seu consumo, sem comutação sequer dos géneros da suaprodução que nós lhe consumimos exclusivamente. Tal é o resultadode decretos feitos por homens apóstatas da sua pátria, quetinham só em vista rasgar-lhe as entranhas.Por consequência, digo, que é necessário estabelecermos restriçõescomerciais, combinadas de maneira que favoreçam assima Portugal como ao Brasil. Estas restrições devem descansar nasseguintes bases: verdadeira reciprocidade de interesses entre osdois países: o Brasil dar franca preferência às produções superabundantesde Portugal, e reciprocamente a navegação entre osportos dos dois Reinos reputar-se como entre portos de um só (87) .Das fábricas de estamparia, criadas em finais de setecentos, todas fechadascom as invasões, algumas que reabriram mantinham-se por causa87 Idem, pág. 723.2007
As Burguesias Portuguesas e a Abolição do Tráfico de Escravatura, <strong>1810</strong>-<strong>1842</strong>do comércio com a Ásia para onde se voltara a praça de Lisboa, impossibilitadade aplicar de outra maneira os seus capitais. O desemprego, aacumulação de produtos fabricados sem saída, permitiam aos capitalistasobter fazendas estampadas por «preços ínfimos» a que davam esse destino.A vida «lânguida e precária» das fábricas devia-se a isso e ao crédito quetinham obtido no Brasil algumas manufacturas, especialmente as chitasazuis. Sem isso, a ruína seria completa (88) . Mas o próprio Acúrsio das Neves,que nos dá esta notícia, que diz virem «os principais clamores dos nossosnegociantes» do facto de termos perdido o exclusivo do abastecimentodo Brasil e de Portugal ter deixado de ser o entreposto dos géneros coloniais,que previne os comerciantes de que se devem desenganar de que osistema colonial possa mais voltar e que, por isso, devem ir alongando assuas vistas pela extensão do globo, ele, que isso constata, não deixa deconcluir pelo estreitamento dos «laços de união entre Portugal e Brasil,tendo principalmente em vista dois princípios: procurar que Portugal voltea ser o principal entreposto dos géneros coloniais e conseguir a preferênciado Brasil pelos produtos tradicionais de exportação portuguesa. No fimde contas, o mesmo que pretendiam os comerciantes, só que estes aindaadmitiam possíveis os monopólios e Acúrsio das Neves preconizava quetal se obtivesse por meios indirectos (89) .Por sua vez, a comissão de comerciantes de Lisboa, depois de chorara sua decadência, que «tocava à aniquilação», que tem «absorvido as pequenasfortunas e vacilar as mais opulentas» (90) , atribuía o mal das artes edas manufacturas à concorrência estrangeira e a falta de pão às grandesmigrações para as colónias, depois das descobertas. E lá vem a defendero exclusivo para Portugal, Algarve, Ilhas e África Ocidental dos géneroscoloniais, brasileiros, entendendo como boa e mútua reciprocidade o consumo,em exclusivo, nas províncias ultramarinas, do vinho, sal, azeite evinagre portugueses. É certo que os comerciantes de Lisboa, recordados dotempo em que a Coroa promovia o «comércio e a cristandade» da África ede que abrira mão a favor do do Brasil e da Ásia, tendo em conta a abolição5188 Acúrsio das Neves, MEMORIA, cit., pág. 65.89 Idem págs. 87 e segs.90 MEMÓRIA <strong>DO</strong>S TRABALHOS DA COMISSÃO PARA O MELHORAMENTO <strong>DO</strong> COMMERCIO NESTACIDA<strong>DE</strong> <strong>DE</strong> LISBOA..., Lisboa, 1822.E-BOOK CEAUP
- Page 1: EDIÇÕESELECTRÓNICASCEAUPAS BURGU
- Page 5 and 6: AS BURGUESIAS PORTUGUESASE A ABOLI
- Page 7: ÍNDICEPREFÁCIO 9INTRODUÇÃO 111.
- Page 12 and 13: José Capela12Estudar, pois, a abol
- Page 15 and 16: As Burguesias Portuguesas e a Aboli
- Page 17 and 18: As Burguesias Portuguesas e a Aboli
- Page 19 and 20: As Burguesias Portuguesas e a Aboli
- Page 22 and 23: José Capela22da tal ordem senhoria
- Page 24 and 25: José CapelaCom a extinção das co
- Page 26 and 27: José Capela26defrontavam em Portug
- Page 28 and 29: José Capelaexpansão que dela se p
- Page 30 and 31: José CapelaOra, a primeira de toda
- Page 32 and 33: José Capela32retirada dos monopól
- Page 34 and 35: José CapelaSe pode aceitar-se como
- Page 36 and 37: José Capelada consideração sober
- Page 38 and 39: José Capela38«Tolos eram os portu
- Page 40 and 41: José Capelapronto, e que era miste
- Page 42 and 43: José Capela42comércio legítimo n
- Page 44 and 45: José Capelaem que este comércio d
- Page 46 and 47: José Capela46Porto do que em Lisbo
- Page 48 and 49: José Capela48metrópole» (81) . M
- Page 52 and 53: José Capelado tráfico da escravat
- Page 54 and 55: José Capela54que o tráfico da esc
- Page 56 and 57: José Capela56Mas os brasileiros ta
- Page 58 and 59: José Capela58a sair em navios port
- Page 60 and 61: José Capelaprojecto para proibiç
- Page 62 and 63: José Capelaefeitos da convulsão p
- Page 64 and 65: José Capelaexactamente porque não
- Page 66 and 67: José Capela66milícia, no comérci
- Page 68 and 69: José Capela68extremamente diversif
- Page 70 and 71: José Capela70da proibição que im
- Page 72 and 73: José Capela72desenganar aos comiss
- Page 74 and 75: José Capela74que puderam reduzir a
- Page 76 and 77: José Capela76As posições políti
- Page 78 and 79: José CapelaFoi sugerido que uma da
- Page 80 and 81: José Capela80O próprio Sá da Ban
- Page 82 and 83: José Capela82limitando a observaç
- Page 84 and 85: José Capela84se viam pequenos cobe
- Page 86 and 87: José Capela86netos, e a sua fortun
- Page 88 and 89: José Capela88de 150 a 200 pessoas,
- Page 90 and 91: José Capela90medida havia de traze
- Page 92 and 93: José CapelaOutro índice significa
- Page 94 and 95: José Capela94senhores. Conquista q
- Page 96 and 97: José Capela96Como a transmissão d
- Page 98 and 99: José Capela98com que se divertiam
- Page 100 and 101:
José Capela100de escravos em grand
- Page 102 and 103:
José Capela102populações dominad
- Page 104 and 105:
José Capela104militarmente aqueles
- Page 106 and 107:
José Capela106economicamente. A au
- Page 108 and 109:
José Capela108capitão-general Dav
- Page 110 and 111:
José Capela110O mesmo governador,
- Page 112 and 113:
José Capela112eram dos mais ricos
- Page 114 and 115:
José Capela114Estamos portanto dia
- Page 116 and 117:
José Capela116O que aproveitava, s
- Page 118 and 119:
José Capela118todos os navios da m
- Page 120 and 121:
José Capela120enriquecer rapidamen
- Page 122 and 123:
José Capelatem ido deste país par
- Page 124 and 125:
José Capela124Não há dúvida que
- Page 126 and 127:
José Capela126disso o mesmo govern
- Page 128 and 129:
José Capela128para fazer o contrab
- Page 130 and 131:
José Capela130Ocidental apenas um
- Page 132 and 133:
José Capela132Esta narrativa deixa
- Page 134 and 135:
José Capela134de que Cirne o acusa
- Page 136 and 137:
José Capela136sindicância, porque
- Page 138 and 139:
José Capela138Foi assim que o mini
- Page 140 and 141:
José Capela140atribui às pressõe
- Page 142 and 143:
José Capela142ocaso do capitão Al
- Page 144 and 145:
José Capela144porque em Moçambiqu
- Page 146 and 147:
José Capela146no tráfico da escra
- Page 148 and 149:
José Capela148fronteiro à Ilha de
- Page 150 and 151:
José Capela150artigos adicionais s
- Page 152 and 153:
José Capela152vitória. E quando f
- Page 154 and 155:
José Capela154Os ingleses, que já
- Page 156 and 157:
José Capela156intervir no tráfico
- Page 158 and 159:
José Capela158domínios portuguese
- Page 160 and 161:
José Capela160Inglaterra disposta
- Page 162 and 163:
José Capela162da Bandeira recusou
- Page 164 and 165:
José Capela164negócio nada aprove
- Page 166 and 167:
José Capela166de D. João VI inter
- Page 168 and 169:
José Capelacomércio britânico, a
- Page 170 and 171:
José Capela170nesta verba débitos
- Page 172 and 173:
José Capelaeconómico dos dois pa
- Page 174 and 175:
José Capela174Os projectos, tímid
- Page 176 and 177:
José Capela176em nova era. O que a
- Page 178 and 179:
José Capelaesclavagistas e dadas a
- Page 180 and 181:
José Capela180algodão, para o qua
- Page 182 and 183:
José CapelaANEXOSCOMPRA DE UM ESCR
- Page 184 and 185:
José Capela184CIRNE, Manuel Joaqui
- Page 186 and 187:
José CapelaRESULTADO DOS TRABALHOS
- Page 188 and 189:
José Capela188AZEVEDO, Julião Soa
- Page 190 and 191:
José Capela190GOMES, Marques - LUC
- Page 192:
José Capela192SANCEAU, Elaine - D.