José CapelaSe pode aceitar-se como líquido que, para as gerações seguintes, a ruínacomercial e industrial de Portugal se ficou a dever à abertura dos portose ao tratado de <strong>1810</strong>, e que as próprias invasões francesas, com os efeitosdevastadores que tiveram, nem sempre são levadas em conta, não podemosno entanto deixar de considerar outros factor, se quisermos agoraultrapassar a anglofobia de então.Não podendo deixar de chamar a atenção para tal facto, o que aquinos importa, porém, é analisar a concomitância da alteração profunda dosistema colonial vigorante com a primeira medida abolicionista que atingiaos traficantes portugueses de escravos. Ao mesmo tempo que os inglesesimpõem restrições à importação de escravos para o Brasil (o príncipe portuguêsdispõe-se a «cooperar» com Sua Majestade Britânica) assenhoreiam-sedo mais e do melhor do comércio colonial.A propósito de não se notar grande diferença nas importações de lanifíciosentre os 4-5 anos que precederam a invasão e os que se lhe seguiram,Acúrsio das Neves salienta o facto de não se poder considerar quetudo continuava na mesma: e que «naquele tempo reexportávamos paraos estados ultramarinos a maior, ou uma grande parte dos lanifícios querecebíamos do estrangeiro, porque éramos nós que exclusivamente osabastecíamos, lucrando sobre estas remessas, além dos outros ganhosusuais no comércio, os fretes e as comissões; agora, porém, quase tudo épara o consumo de Portugal; porque o Brasil os recebe directamente dasnações estrangeiras» (48) . O Brasil representara cerca de cinco sextos nomovimento geral das exportações portuguesas.34e seda preparadas nas nossas oficinas, gatões de ouro e prata, chapéus, fazendas de linho, ferragens,e outros objectos de metal, veludo, etc., os quais desde 1796 até 1808, isto é, em 13 anos, derama Portugal a soma total de oitenta e quatro milhões, setecentos e cinquenta e oito cruzados; e nos11 anos posteriores, desde a fatal e desnecessária emigração da Família Real para o Brasil (aconselhadapela nossa fiel aliada) até 1816, deu somente a Portugal, a soma de vinte e um milhões,novecentos e dezanove mil e quinhentos cruzados! Pelo resultado destas somas, se pode conhecer,quanto diminuiu o nosso comércio e abateu a nossa indústria, desde que os nossos Amigos os Srs.Ingleses, principiaram a ter livre entrada nos portos de nossos domínios por concessão do nossoRei o sr. D. João VI! A diminuição, ou para melhor dizer, a completa privação dos artigos de nossaindústria, produto de nosso trabalho principalmente das nossas Províncias do Norte e laboriosíssimase activas e que podem servir de modelo às outras do Reino, foi necessariamente sentida... ».In MEMÓRIA HISTÓRICA ÀCERCA DA PÉRFIDA E TRAIÇOEIRA AMIZA<strong>DE</strong> INGLEZA... por F. A. deS. C., Porto, 1840, págs. 56-7.48 José Acúrsio das Neves, ob. cit., pág. 58.2007
As Burguesias Portuguesas e a Abolição do Tráfico de Escravatura, <strong>1810</strong>-<strong>1842</strong>Uma representação subscrita por vinte comerciantes de Lisboa e endereçadaao Governo (49) , além de deixar claro o conflito subsistente entreo comércio da capital em geral e a Junta do Comércio dominada pelosgrandes interesses que vinham do tempo de Pombal, denuncia por igualaspectos ainda não evidenciados da subalternidade em que se encontravaesse mesmo comércio. Um deles expresso nas seguintes palavras constantesda carta que acompanhou o texto da exposição enviado aos redactores de«O Investigador Portuguez» : «Mas havendo alguém que por motivos indignosespalhou que o Corpo do Comércio pretendia entrar em discussõescontra o Tratado de Comércio ultimamente concluído entre Portugal eInglaterra... ». Era, além da subalternidade económica, o estado psicológicodecorrente da suspeição política em que eram lançados. E é assim que,um tanto subtilmente, logo após o tratado, o comércio lisboeta começa areclamar: «é preciso que os navios estrangeiros estejam sujeitos a buscas etodas as mais impertinências (de que nenhum bem resulta ao Estado) a queestão sujeitos os navios portugueses...». Isto e o mais que pedem para que«...os navios estrangeiros, seja com vistas políticas, em justa compensaçãodo que nos fazem, ou para que não tenham superioridade entre nós sobrenós mesmos; «Dizerem as pessoas inteligentes o que se oferecer em favorda protecção dos navios, para que estes nos possam trazer a este reino aabundância, que precisamos, das produções da Agricultura do Brasil, tantoem vantagem da nossa independência política, como para entretenimentoda navegação que necessitamos ter, e aumento do Comércio, e ligaçõesentre o Brasil e Portugal; porque quanto mais se aumentar, tanto maisconveniente é, conforme as diferentes vistas com que tudo se pode tornarem vantagem nacional. Principiando pelo lastro das embarcações, é da maisabsoluta necessidade cuidar em que o sal, que se exporta de Portugal parao Brasil não seja mais gravoso ao Comércio nacional, do que aos estrangeirosos quais o exportam com o direito de 500 rs. quando para o Brasilse pagam 1 600. Além disto os estrangeiros têm em Setúbal uma enormevantagem em seu favor; basta dizer-se que no momento actual exportamsal de Setúbal a 2 200 rs. o moio; e quem o carrega aqui para o Brasil, lhecusta 8 000 rs., desigualdade esta digna de mais pronta reforma, digna3549 O INVESTIGA<strong>DO</strong>R PORTUGUEZ EM INGLATERRA, Outubro de 1814.E-BOOK CEAUP
- Page 1: EDIÇÕESELECTRÓNICASCEAUPAS BURGU
- Page 5 and 6: AS BURGUESIAS PORTUGUESASE A ABOLI
- Page 7: ÍNDICEPREFÁCIO 9INTRODUÇÃO 111.
- Page 12 and 13: José Capela12Estudar, pois, a abol
- Page 15 and 16: As Burguesias Portuguesas e a Aboli
- Page 17 and 18: As Burguesias Portuguesas e a Aboli
- Page 19 and 20: As Burguesias Portuguesas e a Aboli
- Page 22 and 23: José Capela22da tal ordem senhoria
- Page 24 and 25: José CapelaCom a extinção das co
- Page 26 and 27: José Capela26defrontavam em Portug
- Page 28 and 29: José Capelaexpansão que dela se p
- Page 30 and 31: José CapelaOra, a primeira de toda
- Page 32 and 33: José Capela32retirada dos monopól
- Page 36 and 37: José Capelada consideração sober
- Page 38 and 39: José Capela38«Tolos eram os portu
- Page 40 and 41: José Capelapronto, e que era miste
- Page 42 and 43: José Capela42comércio legítimo n
- Page 44 and 45: José Capelaem que este comércio d
- Page 46 and 47: José Capela46Porto do que em Lisbo
- Page 48 and 49: José Capela48metrópole» (81) . M
- Page 50 and 51: José Capela50momentâneo bem da ag
- Page 52 and 53: José Capelado tráfico da escravat
- Page 54 and 55: José Capela54que o tráfico da esc
- Page 56 and 57: José Capela56Mas os brasileiros ta
- Page 58 and 59: José Capela58a sair em navios port
- Page 60 and 61: José Capelaprojecto para proibiç
- Page 62 and 63: José Capelaefeitos da convulsão p
- Page 64 and 65: José Capelaexactamente porque não
- Page 66 and 67: José Capela66milícia, no comérci
- Page 68 and 69: José Capela68extremamente diversif
- Page 70 and 71: José Capela70da proibição que im
- Page 72 and 73: José Capela72desenganar aos comiss
- Page 74 and 75: José Capela74que puderam reduzir a
- Page 76 and 77: José Capela76As posições políti
- Page 78 and 79: José CapelaFoi sugerido que uma da
- Page 80 and 81: José Capela80O próprio Sá da Ban
- Page 82 and 83: José Capela82limitando a observaç
- Page 84 and 85:
José Capela84se viam pequenos cobe
- Page 86 and 87:
José Capela86netos, e a sua fortun
- Page 88 and 89:
José Capela88de 150 a 200 pessoas,
- Page 90 and 91:
José Capela90medida havia de traze
- Page 92 and 93:
José CapelaOutro índice significa
- Page 94 and 95:
José Capela94senhores. Conquista q
- Page 96 and 97:
José Capela96Como a transmissão d
- Page 98 and 99:
José Capela98com que se divertiam
- Page 100 and 101:
José Capela100de escravos em grand
- Page 102 and 103:
José Capela102populações dominad
- Page 104 and 105:
José Capela104militarmente aqueles
- Page 106 and 107:
José Capela106economicamente. A au
- Page 108 and 109:
José Capela108capitão-general Dav
- Page 110 and 111:
José Capela110O mesmo governador,
- Page 112 and 113:
José Capela112eram dos mais ricos
- Page 114 and 115:
José Capela114Estamos portanto dia
- Page 116 and 117:
José Capela116O que aproveitava, s
- Page 118 and 119:
José Capela118todos os navios da m
- Page 120 and 121:
José Capela120enriquecer rapidamen
- Page 122 and 123:
José Capelatem ido deste país par
- Page 124 and 125:
José Capela124Não há dúvida que
- Page 126 and 127:
José Capela126disso o mesmo govern
- Page 128 and 129:
José Capela128para fazer o contrab
- Page 130 and 131:
José Capela130Ocidental apenas um
- Page 132 and 133:
José Capela132Esta narrativa deixa
- Page 134 and 135:
José Capela134de que Cirne o acusa
- Page 136 and 137:
José Capela136sindicância, porque
- Page 138 and 139:
José Capela138Foi assim que o mini
- Page 140 and 141:
José Capela140atribui às pressõe
- Page 142 and 143:
José Capela142ocaso do capitão Al
- Page 144 and 145:
José Capela144porque em Moçambiqu
- Page 146 and 147:
José Capela146no tráfico da escra
- Page 148 and 149:
José Capela148fronteiro à Ilha de
- Page 150 and 151:
José Capela150artigos adicionais s
- Page 152 and 153:
José Capela152vitória. E quando f
- Page 154 and 155:
José Capela154Os ingleses, que já
- Page 156 and 157:
José Capela156intervir no tráfico
- Page 158 and 159:
José Capela158domínios portuguese
- Page 160 and 161:
José Capela160Inglaterra disposta
- Page 162 and 163:
José Capela162da Bandeira recusou
- Page 164 and 165:
José Capela164negócio nada aprove
- Page 166 and 167:
José Capela166de D. João VI inter
- Page 168 and 169:
José Capelacomércio britânico, a
- Page 170 and 171:
José Capela170nesta verba débitos
- Page 172 and 173:
José Capelaeconómico dos dois pa
- Page 174 and 175:
José Capela174Os projectos, tímid
- Page 176 and 177:
José Capela176em nova era. O que a
- Page 178 and 179:
José Capelaesclavagistas e dadas a
- Page 180 and 181:
José Capela180algodão, para o qua
- Page 182 and 183:
José CapelaANEXOSCOMPRA DE UM ESCR
- Page 184 and 185:
José Capela184CIRNE, Manuel Joaqui
- Page 186 and 187:
José CapelaRESULTADO DOS TRABALHOS
- Page 188 and 189:
José Capela188AZEVEDO, Julião Soa
- Page 190 and 191:
José Capela190GOMES, Marques - LUC
- Page 192:
José Capela192SANCEAU, Elaine - D.