José Capelacomércio britânico, a ocupação do equador, a saber: Bissau, Cacheu, ilhasde Cabo Verde e de S. Tomé e Príncipe; indicavam ainda como o governopoderia retê-las por tempo indefinido e fazê-lo sem motivos aparentes deambição ou avareza (346) .Se, de facto, o maior obstáculo à política abolicionista de Sá da Bandeiranão estava em Lisboa, estava, certamente, nas colónias africanas capazesde se subtraírem ao domínio português. Era não só o poder político eeconómico local inteiramente concentrado nas mãos dos negreiros que,com a extinção do tráfico, ficariam sem o único grande negócio existente.Sobre o que isto representaria como influência nas decisões de Lisboa,acrescia o que, indubitavelmente, provinha do grande peso dos negreirosradicados no Brasil. Certamente, de entre todos, os portugueses mais ricos,frequentando a capital portuguesa, e aí dispondo das influências fáceis deobter pelo seu dinheiro. O que não ultrapassa a mera suposição, dada atotal carência de quaisquer quantificações e informações a esse respeito.Seria do maior interesse e proveito estudar o que foi o impacto na sociedadeportuguesa dos brasileiros de torna-viagem nesse período e cuja presençaem algumas províncias do Norte de Portugal ainda hoje está perfeitamenteassinalada por uma impressionante profusão de palácios e mansões detraça inconfundível, traduzindo plasticamente a espaventosa classe denovos ricos, com fortunas fora do comum, que os ergueu. Para um períodojá tão tardio como 1850, o cônsul britânico do Rio de Janeiro informava168346 Sá da Bandeira citado por Rodrigues de Freitas no artigo O MAJOR QUILLINAN E JACOB BRIGTHin A PÁTRIA A LUIZ QUILLINAN, Porto, 1884, pág. 217.Desde que a Serra Leoa, em 1808, se tornou a base das patrulhas britânicas que fiscalizavam o tráficonegreiro, aí eram libertados os escravos apreendidos ou de contrabando. Aí também adquiriamcostumes europeus que, em muitos casos, levavam para as suas terras. Os ingleses viram, nesseprocesso, a melhor maneira de exercer a sua influência e na ocupação das costas a mais expeditapara evitar o tráfico. Em 1821, os fortes da Costa do Ouro passaram dos comerciantes que os controlavampara o Colonial Office. Simultaneamente, a Inglaterra aderia ao livre-cambismo e os grandesencargos com as costas africanas pareciam sem justificação possível. Abandonou alguns postos masveio a encontrar novos motivos de negócio no delta do Níger. Quando, em 1849, o Foreign Officecomeçou a mandar cônsules para o golfo da Guiné, estes, para além de uma fiscalização do tráficoda escravatura, foram harmonizando localmente os interesses económicos ingleses. Em 1851, Lagosfoi capturada e dez anos mais tarde era colónia britânica. Tudo se encaminhava para a extensão daadministração britânica ao longo da Costa. In Roland Oliver e J. D. Fage, A SHORT HISTORY OFAFRICA, Penguin Books, 1973, págs. 159 e segs.Hobsbawm (ob. cit., pág. 136) é de opinião que a Grã-Bretanha preferia postos costeiros a partir dosquais pudesse controlar o negócio mundial a uma ocupação de administração custosa, com excepçãoda Índia. A fiscalização do tráfico negreiro facilitou-lhe as intenções.2007
As Burguesias Portuguesas e a Abolição do Tráfico de Escravatura, <strong>1810</strong>-<strong>1842</strong>que, entre 38 proeminentes negociantes de escravos naquela cidade, 19eram portugueses, 12 brasileiros, 2 franceses, 2 americanos, 1 espanhol,1 italiano e 1 anglo-americano; de 16 bem conhecidos nos portos perto doRio, 12 eram portugueses e 4 brasileiros. Uma estimativa mais geral davacomo existindo nas cidades costeiras do Brasil aproximadamente 40 000portugueses, muitos dos quais proeminentes no comércio, nas finanças eno tráfico da escravatura (347) . Nessa altura, quando o tráfico para o Brasil seextinguia definitivamente, muitos deles começaram a regressar a Portugalcom as suas fortunas. O cônsul britânico em Lisboa calculou de 300 a 400o número de portugueses envolvidos no tráfico de escravos, no Brasil, queregres saram voluntariamente a Portugal entre Março de 1850 e Março de1851, entrando com uma importância que estimava atingir as £400 000.Sabendo-se o que já então representava para Portugal aquilo que, com aindependência do Brasil, se transformou em emigração para o estrangeiro,de cujas remessas, daí em diante, dependeria enormemente a situaçãofinanceira do país, fácil é conjecturar quanto isso significaria para o espíritodos governantes portugueses nas negociações. Se podemos aferir daimportância relativa dos negreiros africanos e brasileiros no conjunto donegócio de escravos, relativamente à influência dos segundos na políticaportuguesa não é possível ir além das conjecturas. Falta-nos a informaçãoindispensável de onde se possa partir para a apreensão correcta dasrelações do poder de Lisboa com os portugueses do Brasil e vice-versa noperíodo seguinte à independência da colónia. Para muito mais tarde, já foiconstatada a impossibilidade prática de contabilizar um dos dados e não,certamente, o de menor importância (348) . O das transferências monetárias.Uma vez publicado o Act resultante do Bill, as pressões inglesas não terminaram.Em 1835 a East India Company tinha informado Palmerston deque estava interessada na compra de Goa. Sondado, o governo portuguêsrecusou a oferta. Em 1839 Palmerston voltou à carga, alegando que Goaera base de guerrilhas para as tribos rebeldes da Índia britânica. Ao mesmotempo que ameaçava com a anexação de Goa, renovava a oferta de comprade todas as colónias portuguesas na Índia por £500 000, deduzindo-se169347 Leslie Bethell, ob. cit., págs. 313-14.348 Miriam Halpern Pereira, LIVRE CÂMBIO E <strong>DE</strong> SENVOLVIMENTO ECONÓMICO, Lisboa, 1971, pág. 285.E-BOOK CEAUP
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