José Capela126disso o mesmo governador de Angola. E o parecer do Conselho Ultramarinofoi de que «nenhuma lei nem nenhuma ordem régia especial proibia acontinuação do comércio da escravatura nos domínios portugueses ao suldo Equador...» (256) .Com as suas isenções e práticas comerciais, a Companhia não vinhaa ser bem vista. Uma comissão nomeada pelo governador de Inhambanepara estudar as actividades que no distrito poderiam vir a suprir a falta decomércio de escravos, em relatório de 9 de Fevereiro de 1828, dizia quea companhia «isenta de pagar os reais direitos das fazendas importadas eexportadas, é um enorme prejuízo que sofrem os moradores no giro do seunegócio...» (257) . Em finais de 1830 ainda dispunha de duas embarcações,uma sumaca e uma escuna (258) . Mas não cumpria com as obrigações doseu contrato, das quais apenas, às vezes, fornecia os mantimentos à tropa.Arbitrava o preço do marfim pelo que os comerciantes, a quem tratavamal, não lho vendiam. E o seu maior negócio era o da escravatura. Com aescuna e lanchas ia ao Rio do Ouro e ao Maputo carregar escravos (259) . Nasegunda metade de 1831, porém, todos os agentes da Companhia haviamabandonado Lourenço Marques sem ali terem deixado os bons edifíciosde que se falava (260) .Se, de facto, nesse ano, a companhia interrompeu a sua actividade,voltou a retomá-la, pelo menos para contrabandear. Nomeadamente escravos,com navios brasileiros (261) , para o que teria tentado obter a colaboraçãodo governador da Baia de Lourenço Marques (262) . E em 1833 oshabitantes do presídio estavam a reclamar contra o exclusivo que a companhiaprocurava manter, do marfim e da escravatura (263) . No mesmo anoos vátuas ocuparam e devastaram a fortaleza. O governador e a guarniçãorefugiaram-se na Xefina. A companhia, porém, entendeu-se com os revoltosos.E vê-se que continuava, então, com vários funcionários em Lourenço256 Idem, lbidem.257 A. H. U., Avs. de Moç., Maço 5.258 Requerimento de 30/Out./1830, A. H. U., Avs. de Moç., Maço 16.259 João Alexandre de Almeida a Gov.-Geral, 2/Abril/ /1830, A. H. U., Avs. de Moç., Maço 18.260 Gov.-Geral a José Maria da Costa e Sá, 8/Set./1831, A. H. U., Avs. de Moç., Maço 24.261 Dionísio Ribeiro a Gov.-Geral, 6/Set./1831, A. H. U., Avs. de Moç., Maço 22. E requerimento deVicente Tomás dos Santos, Idem, Maço 1.262 Dionísio António Ribeiro a governadores interinos, 25/Ag./1832, A. H. U., Avs. de Moç., Maço 1.263 Requerimento de 11 moradores ao governador, A. H. U., Moç., Maço 1.2007
As Burguesias Portuguesas e a Abolição do Tráfico de Escravatura, <strong>1810</strong>-<strong>1842</strong>Marques (264) . Quando o governo de Lisboa mandou inquirir quem foram as«mãos brancas» que levaram ao saque e morte do governador, o inquiridorchegou à conclusão de que tudo fora instigado pelo agente da companhiaAntónio José Nobre (265) . O governado-geral Marinho viria a afirmar quefora ele o autor da rebelião, convocando os vátuas e ordenando a mortedo governador para ficar com dinheiro que este lhe tinha dado a guardar.Porém, o agente da companhia foi absolvido e, em sua vez, condenado umasiático (266) . Entretanto, formara-se a Companhia da Indústria, Comércio eAgricultura de Moçambique, que tinha como guarda-livros o mesmo Nobre.E o governador Marinho entendia que esta ainda era pior do que a outra,que dera de perda à Fazenda uma soma enorme de contos de réis: «todoseles são contrabandistas de negros, e todos eles ainda estão em conivêncianos contrabandos de escravos que se fazem em alguns portos da costa...».A companhia nada fizera pela indústria e agricultura, nem tinha ninguémcapaz de o fazer (267) .Como se sabe, o tráfico não acabou com a proibição imposta aos barcosbrasileiros. Embora o governador de Moçambique enviasse para Lisboaum ofício com data de 8 de Janeiro de 1830, que dizia seguir no navio«Astreia», o «último que veio carregar escravos a este porto» (268) . O últimoque tinha ido legalmente. Um capitão, tendo obtido um ano de licença,não lhe teria permitido o seu estado de saúde seguir viagem para Lisboa,pelo que ficara no Rio de Janeiro. A licença estava terminada e não lhe forapossível regressar ao seu destino por ter acabado o negócio de escravos- dizia - e com ele a navegação daquele porto para o de Moçambique (269) .Mas os navios brasileiros continuaram a ir à costa moçambicana comarribadas «ditas forçadas». Um inquérito a um caso desses permitiu averiguaras ilegalidades e levou o relator a dizer «que um grande manto desimulação, com aparente cor de bem público, cobria este negócio todo deverdadeiros e únicos interesses particulares». Utilizavam-se todos os meios127264 «A guerra dos reis vatuas vizinhos do presídio de Lourenço Marques em 1833», A. H. U., Avs. de Moç.,Maço 1.265 Gov.-Geral a Conde do Bonfim, 16/Nov./1840, A. H. U., Avs. de Moça, Maço 1.266 Pereira Marinho, ob. cit., pág. 10.267 Gov.-Geral a Conde do Bonfim, 20/Out./1840. A. H. U., Avs. de Moç., Maço 1.268 Gov.-Geral a Conde de Basto, A. H. U., Avs. de Moç., Maço 18.269 Requerimento de 22 de Março de 1831, A. H. U., Avs. de Moç., Maço 18.E-BOOK CEAUP
- Page 1:
EDIÇÕESELECTRÓNICASCEAUPAS BURGU
- Page 5 and 6:
AS BURGUESIAS PORTUGUESASE A ABOLI
- Page 7:
ÍNDICEPREFÁCIO 9INTRODUÇÃO 111.
- Page 12 and 13:
José Capela12Estudar, pois, a abol
- Page 15 and 16:
As Burguesias Portuguesas e a Aboli
- Page 17 and 18:
As Burguesias Portuguesas e a Aboli
- Page 19 and 20:
As Burguesias Portuguesas e a Aboli
- Page 22 and 23:
José Capela22da tal ordem senhoria
- Page 24 and 25:
José CapelaCom a extinção das co
- Page 26 and 27:
José Capela26defrontavam em Portug
- Page 28 and 29:
José Capelaexpansão que dela se p
- Page 30 and 31:
José CapelaOra, a primeira de toda
- Page 32 and 33:
José Capela32retirada dos monopól
- Page 34 and 35:
José CapelaSe pode aceitar-se como
- Page 36 and 37:
José Capelada consideração sober
- Page 38 and 39:
José Capela38«Tolos eram os portu
- Page 40 and 41:
José Capelapronto, e que era miste
- Page 42 and 43:
José Capela42comércio legítimo n
- Page 44 and 45:
José Capelaem que este comércio d
- Page 46 and 47:
José Capela46Porto do que em Lisbo
- Page 48 and 49:
José Capela48metrópole» (81) . M
- Page 50 and 51:
José Capela50momentâneo bem da ag
- Page 52 and 53:
José Capelado tráfico da escravat
- Page 54 and 55:
José Capela54que o tráfico da esc
- Page 56 and 57:
José Capela56Mas os brasileiros ta
- Page 58 and 59:
José Capela58a sair em navios port
- Page 60 and 61:
José Capelaprojecto para proibiç
- Page 62 and 63:
José Capelaefeitos da convulsão p
- Page 64 and 65:
José Capelaexactamente porque não
- Page 66 and 67:
José Capela66milícia, no comérci
- Page 68 and 69:
José Capela68extremamente diversif
- Page 70 and 71:
José Capela70da proibição que im
- Page 72 and 73:
José Capela72desenganar aos comiss
- Page 74 and 75:
José Capela74que puderam reduzir a
- Page 76 and 77: José Capela76As posições políti
- Page 78 and 79: José CapelaFoi sugerido que uma da
- Page 80 and 81: José Capela80O próprio Sá da Ban
- Page 82 and 83: José Capela82limitando a observaç
- Page 84 and 85: José Capela84se viam pequenos cobe
- Page 86 and 87: José Capela86netos, e a sua fortun
- Page 88 and 89: José Capela88de 150 a 200 pessoas,
- Page 90 and 91: José Capela90medida havia de traze
- Page 92 and 93: José CapelaOutro índice significa
- Page 94 and 95: José Capela94senhores. Conquista q
- Page 96 and 97: José Capela96Como a transmissão d
- Page 98 and 99: José Capela98com que se divertiam
- Page 100 and 101: José Capela100de escravos em grand
- Page 102 and 103: José Capela102populações dominad
- Page 104 and 105: José Capela104militarmente aqueles
- Page 106 and 107: José Capela106economicamente. A au
- Page 108 and 109: José Capela108capitão-general Dav
- Page 110 and 111: José Capela110O mesmo governador,
- Page 112 and 113: José Capela112eram dos mais ricos
- Page 114 and 115: José Capela114Estamos portanto dia
- Page 116 and 117: José Capela116O que aproveitava, s
- Page 118 and 119: José Capela118todos os navios da m
- Page 120 and 121: José Capela120enriquecer rapidamen
- Page 122 and 123: José Capelatem ido deste país par
- Page 124 and 125: José Capela124Não há dúvida que
- Page 128 and 129: José Capela128para fazer o contrab
- Page 130 and 131: José Capela130Ocidental apenas um
- Page 132 and 133: José Capela132Esta narrativa deixa
- Page 134 and 135: José Capela134de que Cirne o acusa
- Page 136 and 137: José Capela136sindicância, porque
- Page 138 and 139: José Capela138Foi assim que o mini
- Page 140 and 141: José Capela140atribui às pressõe
- Page 142 and 143: José Capela142ocaso do capitão Al
- Page 144 and 145: José Capela144porque em Moçambiqu
- Page 146 and 147: José Capela146no tráfico da escra
- Page 148 and 149: José Capela148fronteiro à Ilha de
- Page 150 and 151: José Capela150artigos adicionais s
- Page 152 and 153: José Capela152vitória. E quando f
- Page 154 and 155: José Capela154Os ingleses, que já
- Page 156 and 157: José Capela156intervir no tráfico
- Page 158 and 159: José Capela158domínios portuguese
- Page 160 and 161: José Capela160Inglaterra disposta
- Page 162 and 163: José Capela162da Bandeira recusou
- Page 164 and 165: José Capela164negócio nada aprove
- Page 166 and 167: José Capela166de D. João VI inter
- Page 168 and 169: José Capelacomércio britânico, a
- Page 170 and 171: José Capela170nesta verba débitos
- Page 172 and 173: José Capelaeconómico dos dois pa
- Page 174 and 175: José Capela174Os projectos, tímid
- Page 176 and 177:
José Capela176em nova era. O que a
- Page 178 and 179:
José Capelaesclavagistas e dadas a
- Page 180 and 181:
José Capela180algodão, para o qua
- Page 182 and 183:
José CapelaANEXOSCOMPRA DE UM ESCR
- Page 184 and 185:
José Capela184CIRNE, Manuel Joaqui
- Page 186 and 187:
José CapelaRESULTADO DOS TRABALHOS
- Page 188 and 189:
José Capela188AZEVEDO, Julião Soa
- Page 190 and 191:
José Capela190GOMES, Marques - LUC
- Page 192:
José Capela192SANCEAU, Elaine - D.