José Capela74que puderam reduzir as suas fortunas a escravos, com eles se passaram aoBrasil, onde os vendiam a 700 000 réis cada, dada a escassez de braços.Dadas as diferenças de preço, em Angola e no Brasil, um traficante que foraa Luanda buscar 500 escravos, custando-lhes estes, transporte incluído, 15contos de réis, tinha realizado, ao fim de 19 dias, 350 contos (131) .Este facto vem chamar-nos a atenção para aquele outro, extremamenteimportante, das ligações directas existentes entre as classes esclavagistasbrasileiras e angolanas, com exclusão da burguesia portuguesa, pelo menosdo negócio directo de escravos. Veremos o mesmo fenómeno repetir-seem Moçambique. Para o caso de Angola, e para o período que para nós sereveste de maior importância, a parte do século XIX que vai até 1836, temosà disposição documentação suficiente que igualmente nos retrata esse segmentoda população europeia que dominava e detinha o poder económicoe político angolanos, no estudo de Manuel dos Anjos da Silva Rebelo (132) .Tudo começou com a instalação da Corte no Brasil. E tudo indica que seos Quintelas e os Cruzes, isto é, a grande burguesia de Lisboa, mantinhainteresses no Brasil, como os contratos dos direitos sobre escravos e tabaco,já não era preponderante no tráfico entre Angola e o Brasil, como o forano tempo das companhias pombalinas.Angola contribuiu com capital particular e oficial para o Brasil. Uma vezabertos os portos brasileiros, Angola como que se transformou em colóniado Brasil, dali recebendo as mercadorias europeias e remetendo em trocaprodutos próprios, dos quais os mais importantes eram, evidentemente,os escravos. Dada a subalternidade de Angola, eram-lhe impostas condiçõesque não respeitavam nem a equidade de preços nem a de trocas dasmercadorias disponíveis. «Tal exploração fraterna foi causa de constantessobressaltos e de revoltas dos naturais de Angola» (133) . A 12 de Outubro de1808 foi criado o Banco do Brasil, o primeiro em todo o território nacional.Uma carta régia de 22 de Agosto de 1812 convidava o capital angolanoa subscrever acções de um conto cada, daquela instituição (134) . E prometiamercê a quem correspondesse. Este diploma foi dado a conhecer em131 A. G. Mesquitela Lima, DA IMPORTÂNCIA <strong>DO</strong>S ESTU<strong>DO</strong>S BANTOS, cit., pág. 352.132 RELAÇÕES ENTRE ANGOLA E BRASIL, 1808-1830, cit.133 Idem, pág. 129.134 Idem. pág. 145.2007
As Burguesias Portuguesas e a Abolição do Tráfico de Escravatura, <strong>1810</strong>-<strong>1842</strong>Luanda pelo governador a funcionários, comerciantes e proprietários. Umcomerciante, Sérgio da Silva Rego, pequeno capitalista, em contraste comos comerciantes de grosso trato, correspondera ao apelo subscrevendotrês acções e sendo, por isso, promovido a sargento-mor e agraciado como hábito da Ordem de Cristo (135) .Dado o grande contrabando de pólvora inglesa em Angola, que ali chegavavia Brasil, foram instruídas as autoridades aduaneiras no sentido deusarem do maior rigor. «Contudo, quando os interessados no contrabandoeram pessoas influentes, o caso mudava de figura» (136) . O autor conta-nos ocaso de transgressores com o governador-geral a recorrerem das decisõesdo ouvidor-geral e juiz da alfândega para o governo central. Um dos contrabandistasafirmava no recurso para o governo central ser comercianteidóneo, com nome firmado nas praças do Brasil e de Lisboa (137) .A revolução pernambucana de 1817 foi veiculada para Angola atravésdos comerciantes daquele território africano em estreito contacto como Brasil, para onde forneciam escravos. No mesmo ano, António LuísGonçalves Ferreira estava no Brasil a tratar dos seus negócios. De lá mandoupara Angola panfletos subversivos idênticos aos que circulavam noPernambuco. Mais panfletos fizeram curso igual mandados por AntónioSimões Rosado Freire ao seu sócio de Luanda, Francisco José GomesGuimarães (138) . Tratava-se de conluio para manutenção dos negócios entreos dois territórios. Se a revolução triunfasse apenas em Pernambucoficariam estes comerciantes sem o mercado brasileiro. Todos os barcose mercadorias provenientes de Pernambuco estiveram sequestrados emLuanda, durante a rebelião (139) .135 Idem, pág. 148.136 Idem, pág. 159.137 Idem, pág. 161.138 Idem, pág. 23.139 Idem. ibidem. A incitação ao «nacionalismo» angolano, por parte dos brasileiros, prolongou-se atécerca de 1870, data em que os interesses brasileiros se voltaram, preferentemente, para a América.Após a independência do Brasil, mercadores, empreendedores e professores brasileiros ficaram aresidir em Luanda e desempenharam um papel importante na cultura, comércio e indústria angolanos.Mercadores brasileiros, como Francisco A. Flores, antigo traficante de escravos, fizeram empréstimosimportantes ao governo e financiaram projectos. Douglas L. Wheeler e René Pélissier, ANGOLA, cit.,pág. 92. Já os comerciantes portugueses do Rio de Janeiro, em 1857, puseram condições inaceitáveispara a formação, com capitais seus, de uma Companhia destinada a «colonizar e agricultar aspossessões da África Portuguesas, que lhes fora sugerida por Sá da Bandeira. A. H. U., Papéis de S.75E-BOOK CEAUP
- Page 1:
EDIÇÕESELECTRÓNICASCEAUPAS BURGU
- Page 5 and 6:
AS BURGUESIAS PORTUGUESASE A ABOLI
- Page 7:
ÍNDICEPREFÁCIO 9INTRODUÇÃO 111.
- Page 12 and 13:
José Capela12Estudar, pois, a abol
- Page 15 and 16:
As Burguesias Portuguesas e a Aboli
- Page 17 and 18:
As Burguesias Portuguesas e a Aboli
- Page 19 and 20:
As Burguesias Portuguesas e a Aboli
- Page 22 and 23:
José Capela22da tal ordem senhoria
- Page 24 and 25: José CapelaCom a extinção das co
- Page 26 and 27: José Capela26defrontavam em Portug
- Page 28 and 29: José Capelaexpansão que dela se p
- Page 30 and 31: José CapelaOra, a primeira de toda
- Page 32 and 33: José Capela32retirada dos monopól
- Page 34 and 35: José CapelaSe pode aceitar-se como
- Page 36 and 37: José Capelada consideração sober
- Page 38 and 39: José Capela38«Tolos eram os portu
- Page 40 and 41: José Capelapronto, e que era miste
- Page 42 and 43: José Capela42comércio legítimo n
- Page 44 and 45: José Capelaem que este comércio d
- Page 46 and 47: José Capela46Porto do que em Lisbo
- Page 48 and 49: José Capela48metrópole» (81) . M
- Page 50 and 51: José Capela50momentâneo bem da ag
- Page 52 and 53: José Capelado tráfico da escravat
- Page 54 and 55: José Capela54que o tráfico da esc
- Page 56 and 57: José Capela56Mas os brasileiros ta
- Page 58 and 59: José Capela58a sair em navios port
- Page 60 and 61: José Capelaprojecto para proibiç
- Page 62 and 63: José Capelaefeitos da convulsão p
- Page 64 and 65: José Capelaexactamente porque não
- Page 66 and 67: José Capela66milícia, no comérci
- Page 68 and 69: José Capela68extremamente diversif
- Page 70 and 71: José Capela70da proibição que im
- Page 72 and 73: José Capela72desenganar aos comiss
- Page 76 and 77: José Capela76As posições políti
- Page 78 and 79: José CapelaFoi sugerido que uma da
- Page 80 and 81: José Capela80O próprio Sá da Ban
- Page 82 and 83: José Capela82limitando a observaç
- Page 84 and 85: José Capela84se viam pequenos cobe
- Page 86 and 87: José Capela86netos, e a sua fortun
- Page 88 and 89: José Capela88de 150 a 200 pessoas,
- Page 90 and 91: José Capela90medida havia de traze
- Page 92 and 93: José CapelaOutro índice significa
- Page 94 and 95: José Capela94senhores. Conquista q
- Page 96 and 97: José Capela96Como a transmissão d
- Page 98 and 99: José Capela98com que se divertiam
- Page 100 and 101: José Capela100de escravos em grand
- Page 102 and 103: José Capela102populações dominad
- Page 104 and 105: José Capela104militarmente aqueles
- Page 106 and 107: José Capela106economicamente. A au
- Page 108 and 109: José Capela108capitão-general Dav
- Page 110 and 111: José Capela110O mesmo governador,
- Page 112 and 113: José Capela112eram dos mais ricos
- Page 114 and 115: José Capela114Estamos portanto dia
- Page 116 and 117: José Capela116O que aproveitava, s
- Page 118 and 119: José Capela118todos os navios da m
- Page 120 and 121: José Capela120enriquecer rapidamen
- Page 122 and 123: José Capelatem ido deste país par
- Page 124 and 125:
José Capela124Não há dúvida que
- Page 126 and 127:
José Capela126disso o mesmo govern
- Page 128 and 129:
José Capela128para fazer o contrab
- Page 130 and 131:
José Capela130Ocidental apenas um
- Page 132 and 133:
José Capela132Esta narrativa deixa
- Page 134 and 135:
José Capela134de que Cirne o acusa
- Page 136 and 137:
José Capela136sindicância, porque
- Page 138 and 139:
José Capela138Foi assim que o mini
- Page 140 and 141:
José Capela140atribui às pressõe
- Page 142 and 143:
José Capela142ocaso do capitão Al
- Page 144 and 145:
José Capela144porque em Moçambiqu
- Page 146 and 147:
José Capela146no tráfico da escra
- Page 148 and 149:
José Capela148fronteiro à Ilha de
- Page 150 and 151:
José Capela150artigos adicionais s
- Page 152 and 153:
José Capela152vitória. E quando f
- Page 154 and 155:
José Capela154Os ingleses, que já
- Page 156 and 157:
José Capela156intervir no tráfico
- Page 158 and 159:
José Capela158domínios portuguese
- Page 160 and 161:
José Capela160Inglaterra disposta
- Page 162 and 163:
José Capela162da Bandeira recusou
- Page 164 and 165:
José Capela164negócio nada aprove
- Page 166 and 167:
José Capela166de D. João VI inter
- Page 168 and 169:
José Capelacomércio britânico, a
- Page 170 and 171:
José Capela170nesta verba débitos
- Page 172 and 173:
José Capelaeconómico dos dois pa
- Page 174 and 175:
José Capela174Os projectos, tímid
- Page 176 and 177:
José Capela176em nova era. O que a
- Page 178 and 179:
José Capelaesclavagistas e dadas a
- Page 180 and 181:
José Capela180algodão, para o qua
- Page 182 and 183:
José CapelaANEXOSCOMPRA DE UM ESCR
- Page 184 and 185:
José Capela184CIRNE, Manuel Joaqui
- Page 186 and 187:
José CapelaRESULTADO DOS TRABALHOS
- Page 188 and 189:
José Capela188AZEVEDO, Julião Soa
- Page 190 and 191:
José Capela190GOMES, Marques - LUC
- Page 192:
José Capela192SANCEAU, Elaine - D.