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DO TRÁFICO DE ESCRAVATURA 1810-1842

as burguesias portuguesas ea abolição do tráfico de escravatura ...

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José Capela88de 150 a 200 pessoas, a maioria negros livres. O governo português nãotinha qualquer domínio neste território pelo que não havia a mais pequenarestrição naquele infame tráfico, tratando cada um do negócio de escravosfranca e abertamente como lhe aprazia».As longas transcrições e referências a Tams consideramo-las inteiramentejustificadas pelo rigor com que nos transmite o estádio de um tipo especialde sociedade escravocrata no início da década de quarenta, exactamentequando ela, caminhando para o fim, subsistia à custa da clandestinidadedo seu tráfico. Há características da classe em causa que, sendo clássicas,estão aí perfeitamente desenhadas. Enquanto os brasileiros, com razão ousem ela, podem vangloriar-se de a sua colonização ter sido feita a partirdas grandes plantações de açúcar, aristocraticamente, «não em grupos aesmo e instáveis», mas «em casas grandes de taipa ou de pedra e cal, nãoem palhoças de aventureiros» (162) , na costa de Angola foi exactamente ocontrário. Aquilo que o mesmo autor diz que não aconteceu no Brasil, pelomenos sob forma dominante, foi exactamente o que aconteceu em Angola:«A colonização por indivíduos - soldados de fortuna, aventureiros, degredados,cristãos novos fugidos à perseguição religiosa, náufragos, traficantesde escravas, de papagaios e de madeira - quase que não deixou traço naplástica económica do Brasil. Ficou tão no raso, tão à superfície e duroutão pouco que política e economicamente esse povoamento irregular e àtoa não chegou a definir-se em sistema colonizador» (163) . Em Angola, eramos traficantes de escravos criminosos, degredados e aventureiros. E foramestes, senhores todos poderosos até meados do século XIX, que dominarama economia e a política de Angola. Com a agravante de, a partir de <strong>1810</strong>,acossados pela ameaça da extinção do único ramo de negócio a que sededicavam, o terem passado a intensificar, para isso recorrendo aos meiosmais degradantes na manipulação das pessoas que eram a sua mercadoria.Não se criaram quaisquer relações de tipo patriarcal entre senhores e escravos,até porque não se tratava de uma classe senhorial. Meros agentes demercadorias em trânsito, faltava a estabilidade própria das plantações queinduzia relações de tipo paternalista. Cada escravo era uma peça a vender162 Gilberto Freire, CASA-GRAN<strong>DE</strong> & SENZALA, Lisboa, 1967 (?) pág. 29.163 Idem, pág. 31.2007

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