José CapelaOutro índice significativo, embora em sentido um tanto diferente, é odo escasso número de artífices existentes em Luanda, em meados do séculoXIX: 5 alfaiates, 5 barbeiros, 8 carpinteiros e marceneiros, 5 ferreiros e serralheiros,3 funileiros, 3 ourives, 5 pintores, 7 sapateiros e 5 tanoeiros (173) .Como vimos, pois, uma classe dominante de negociantes de escravos,sem outras perspectivas para além desse negócio fácil e altamente rendoso- que reacção poderia ter sido a dela, perante as medidas abolicionistas,senão ir-se embora com as suas fortunas ou persistir no tráfico clandestino,enquanto ele fosse possível? Mesmo que dispusesse de acumulação decapital bastante para se meter em outras actividades, estava mental e fisicamentebloqueada para o fazer. Por isso mesmo, com a extinção do tráfico,Angola como que paralisou. O comércio que veio a seguir não foi fruto deuma reconversão consciente, muito menos planificada, de actividade. Foi,sim, consequência de circunstâncias de momento. Angola, as suas classesdominantes, foram completamente a reboque dos acontecimentos de quenão eram os autores mas sujeitos.92173 Costa Lobo, ob. cit., pág. 197.2007
As Burguesias Portuguesas e a Abolição do Tráfico de Escravatura, <strong>1810</strong>-<strong>1842</strong>A CLASSE ESCLAVAGISTAMOÇAMBICANA.06Em Moçambique, como já foi referido por várias vezes, registam-sediferenças substanciais relativamente a Angola, nos modelos de colonizaçãoaplicados. Especialmente com o caso dos Prazos da Zambézia. Julgamoseste caso da maior importância porque ele nos dá a prova de que onde otráfico da escravatura não foi predominante, pôde subsistir um sistemasenhorial, com alguma estabilidade. E que, praticamente, se desmoronouquando nele penetrou esse tráfico.Não vamos aqui descrever o sistema, nem historiá-lo, o que aliás estáfeito (174) . Simplesmente, chamar a atenção para alguns dos aspectos quemais nos importam, sobretudo para o carácter senhorial dos prazeiros,para o facto de o sistema assentar na escravatura, e contrastá-lo exactamentecom a predominância do tráfico esclavagista que o afectousubstancialmente.A penetração portuguesa no interior zambiano deparou com uma organizaçãopolítico-social hierarquizada em chefaturas que culminavam,superiormente, nos mambos, alguns dos quais, como o do Monomotapa,com grande poder. As relações entre os chefes menores e o mambo desenvolviam-seem esquema análogo ao do feudalismo europeu. À chegadados portugueses, com os grandes potentados em decadência, não tiveramos intrusos dificuldade em se misturar com as populações nativas, casarcom mulheres negras, integrar-se na vida local, obter escravos e, a brevetrecho estarem, inclusive através de guerras, a substituir-se aos chefes tradicionais.A pouco e pouco, durante o século XVI, o sistema pré-existentevai-se desagregando e a Zambézia vai sendo conquistada pelos novos93174 Para história e evolução do sistema dos Prazos, vide, nomeadamente: Ernesto Vilhena, REGIME <strong>DO</strong>SPRAZOS DA ZAMBÉZIA, Lisboa, 1916. Allen Isaacman, MOZAMBIQUE - THE AFRICANIZATION OFA EUROPEAN INSTITUTION - THE ZAMBESI PRAZOS 1750-1902, The University of Wisconsin Press,1973.E-BOOK CEAUP
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