José Capela116O que aproveitava, segundo o governador-geral, a quatro ou cinco capitalistas.Pobres até à altura da abertura do porto, estavam agora a carregarnavios seus, além da escravatura que forneciam aos negreiros brasileiros.Eram os mais ricos de toda a costa oriental. Além disso, pela comparaçãoentre o número de navios que iam a Quelimane e as importâncias enviadasà Fazenda Real, em Moçambique, se via como tinham sido feitas as fortunasrápidas dos exactores e empregados públicos que tinham servido naqueleprimeiro porto. Mais, os governadores de Sena vinham a nomear os prazose a encabeçarem-se neles eles mesmos, havendo alguns com mais de dois,além dos que traziam arrendados, a preços muito baixos, com testas deferro. Era o envolvimento total, prazeiros de fresca data incluídos, no tráficoda escravatura que, demais, se viu amplamente facilitado pela abertura doporto de Quelimane. Mas o tráfico, legal e ilegal, proliferava. A embaixadabritânica em Lisboa reclamava contra o fornecimento de passaportes parao Brasil a navios que se destinavam a portos de outros países e que, sendopropriedade de estrangeiros, eram dados como portugueses (223) . No anoseguinte, 1828, a mesma embaixada reiterava os protestos, alegando quenavios negreiros franceses continuavam a frequentar portos portugueses,com conivência das autoridades, violando o teor dos tratados entre asduas potências. O tráfico era especialmente intenso no Ibo, a coberto depassaportes para o Brasil. De Lourenço Marques tinham saído nos últimos18 meses mais de doze navios franceses com escravos (224) .O governador-geral bem instruía os governadores dos portos subalternosno sentido de impedirem que os navios franceses, americanos,brasileiros e ingleses entrassem sem a respectiva autorização. Fazia-o,evidentemente, não para impedir o tráfico, mas para impedir a fuga aosimpostos a pagar em Moçambique (225) . Mas em vão, porque os governadoreslocais estavam igualmente interessados no negócio. São múltiplasas ordens de Xavier Botelho nesse sentido, insistência sem êxito. Quandoo governador de Quelimane lhe comunica não ter podido evitar a entradado brigue francês «Carolina», observa o governador-geral que essa223 Xavier Botelho a Gov. de Quel., 17/Set./1828, A. H. U., Avs. de Moç., Maço 4.224 A. H. U., Avs. de Moç., Maço 3.225 António Manuel Noronha, Ministro da Marinha, a Gov. Geral, 26/Maio/1827, A. H. U., Avs. De Moç.,Maço 1.2007
As Burguesias Portuguesas e a Abolição do Tráfico de Escravatura, <strong>1810</strong>-<strong>1842</strong>barca sempre que viajava de Bourbon para as Mascarenhas conseguiapretexto para aportar às nossas costas porque «o seu verdadeiro destinoé de virem fazer contrabando de escravatura» (226) Os navios brasileiros.apresentavam-se nos portos de Moçambique sem o manifesto de cargalegalizado pelo cônsul português no Rio e com o «criminoso apoio dosgovernadores de Moçambique que estão incorrigíveis», defraudavam osdireitos alfandegários e prejudicavam os comerciantes locais. Desde Agostode 1828 haviam chegado onze navios do Brasil e apenas um trazia o manifestoem ordem. Vinham sem documentos, a contar com a conivência dosgovernadores. Estes estavam a subtrair à Fazenda os direitos de entrada(15%), os de saída para os portos subalternos (8% para Lourenço Marquese 30% para Inhambane). Mais interessante é que o governador mandououvir os mestres das embarcações e proceder em conformidade com alei. O Juiz desembargador alegou inexequibilidade das portarias que lheordenaram a diligência e, em face disso, o governador declarou-as semefeito (227) . Barcos negreiros de várias nacionalidades batiam a costa desdeZanzibar até Lourenço Marques, contrabandeando escravos. Especialmentefranceses (228) . Não obstante, a maior receita pública de Moçambique continuavaa ser a da Alfândega e, nesta, o maior contributo provinha dosdireitos sobre os escravos. Ao tomar posse do governo de Quelimane,em 1829, António Mariano da Cunha propunha-se cumprir o que estavalegislado, impedindo as entradas de navios sob a alegação de arribadas«fantásticas» e proibindo a escravização de colonos forros, como vinha aser feito nos dois anos anteriores. Porque tudo prejudicava a prosperidadeda capitania e os administradores dos prazos podiam dispor legalmentedos colonos e dos escravos adscriptícios. Mas prevenia que «como nestamonção se termina o negócio da escravatura», seria possível que se intensificassemas tentativas de fraude (229) . Referia-se, como se torna evidente,às medidas tomadas pelo Brasil, de harmonia com os convénios entre estepaís e a Inglaterra, para abolição do tráfico. A 24 de Novembro de 1829chegava a Moçambique uma barca de guerra brasileira que vinha informar117226 Xavier Botelho a Gov. de Quel., 3/Out./1828, A. H. U., Avs. de Moç., Maço 4.227 Xavier Botelho a min. da Mar., 1/Agosto/1828, A. H. U., Avs. de Moç., Maço 7.228 Gov. Geral a min. da Mar., 10/Julho/1828, A. H. U., Avs. de Moç., Maço 4.229 Gov. de Quel., a Gov. Geral, 6/Julho/1829, A. H. U., Avs. de Moç., Maço 6.E-BOOK CEAUP
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