José Capela156intervir no tráfico de escravos feito sob a bandeira portuguesa, ao sul doEquador, até esta última data. Isto já poderá ser uma parte da explicaçãopara o facto de Sá da Bandeira, antes de reabrir as conversações com oplenipotenciário inglês em Lisboa, ter publicado o decreto. Este, em Abrilde 1836, informava Palmers ton de que esperava assinar dentro de dias otratado que estava a negociar com Palmela. Nesta altura, já Palmerston seestava a mostrar irritado com o governo de Lisboa nas notas para o ministroportuguês em Londres (322) . Quando, com os setembristas no poder, se regressouàs negociações, Sá da Bandeira (que mesmo ausente do ministério,como esteve em 1837, as orientava) passou a mostrar-se extremamente reticentena aceitação das propostas inglesas e do texto que, segundo a outraparte, estaria para ser assinado por Palmela. A precariedade da posiçãopolítica dos setembristas impedia-os de subscrever um tratado cujo textoera totalmente ditado pelos ingleses. Pelo que - alegava Sá da Bandeira - onovo tratado deveria levar em conta as disposições constantes do decretode 1836. Numa contraproposta por ele redigida em 1837 propunha-se queo direito de fiscalização ficasse restringido a uma área de 100 milhas dascostas de África, a substituição da comissão mista anglo-portuguesa parajulgamento dos barcos portugueses por tribunais nacionais portugueses eque os escravos a bordo dos navios capturados deveriam ser libertados emterritório português de África. Um outro ponto sobre o qual Sá da Bandeiraviria a insistir até ao fim, como condição sine qua non para assinaturade qualquer contrato (não menos importante do que os anteriores paracabal compreensão do que se passou), consistia na introdução de umacláusula de renovação dos antigos tratados luso-britânicos segundo a quala Inglaterra garantiria a defesa da integridade territorial das possessõesportuguesas de África.Walden, alegando o envolvimento de portugueses no tráfico e a desorganizaçãoda justiça portuguesa, considerou «deveras surpreendentes» aspropostas. E Palmerston, «completamente inadmissíveis» (323) . Quando, em322 Leslie Bethell, ob. cit., pág. 101. Palmerston a Moncorvo, 30/Abril/1836: «um longo e dolorosorosário» da má-fé portuguesa na questão do tráfico escravo, que remonta a 30 anos atrás.323 Leslie Bethell, ob. cit., págs. 104-5. E Howard a Sá da Bandeira, 13/Maio/1837, Arquivo HistóricoMilitar de Lisboa, 3.ª Divisão, 18.ª Secção, Caixa n.º14: «A Ideia de conceber Portugal com Colóniasonde se faz o tráfico da escravatura, cuja bandeira serve de capa ao comércio de escravos de quasetodo o mundo, em cujos portos se permite o equipamento de navios destinados a esse tráfego sob2007
As Burguesias Portuguesas e a Abolição do Tráfico de Escravatura, <strong>1810</strong>-<strong>1842</strong>Novembro, Sá da Bandeira regressou ao ministério, propôs-se negociar nabase dessa proposta. Mas Walden, sob instruções de Palmerston, recusou--se a reabrir negociações sobre aquilo que dizia estar acordado em 1836.Nem o governo inglês se dispunha a novos tratados de aliança e amizadepara defesa das colónias portuguesas. A partir daí, Palmerston passou aendurecer a linguagem para com o governo português e a ameaçá-lo devir a permitir-se medidas unilaterais de violência sobre os navios negreirosportugueses. O próprio Foreign Office chegou a qualificar os termos inglesescomo «quase senão inteiramente um ultimato». Palmerston, escrevendoparticularmente a Howard de Walden, dizia-lhe que não pagariam nemum cruzado de indemnização e que se Portugal entrasse em guerra com aInglaterra resolveriam a questão mais efectivamente tomando-lhe todasas colónias africanas.Em 15 de Abril de 1838, Sá da Bandeira e Walden recomeçaram asnegociações que foram minuciosas e prolongadas, tendo chegado a umacordo de princípio. Segundo as bases deste tratado, concordava-se em queo tráfico da escravatura ficava para sempre abolido em todos os domíniosda Coroa portuguesa e para todos os súbditos das duas coroas. Concediaseo direito recíproco de visita, por determinados navios de guerra decada uma das partes contratantes, sobre os navios mercantes da outra,determinava-se o modo de exercer esse direito e que podia ser exercido emtodos os mares excepto nos da Europa e do Mediterrâneo, como deviamser indemnizadas as perdas sofridas por detenção arbitrária ou injusta denavios. Concordava-se em que os apresados fossem julgados por comissõesmistas de juízes ingleses e portugueses, com residência uma em domíniosportugueses e outra em domínios ingleses. Nenhuma das cláusulas dotratado poderia ser interpretada de modo que dificultasse ou empecesse anavegação e comércio lícitos assim como a livre circulação entre os diversos157o olhar complacente das autoridades cujo dever era impedir que tais coisas acontecessem; onde osreferidos barcos negreiros, que nenhum direito têm para usar a bandeira portuguesa, têm autorizaçãopara o fazer, e onde os tribunais se encontram num estado de desorganização muito maiordo que quaisquer dos da Europa é deveras surpreendente...». Além da obra de Leslie Bethell e dascolecções de tratados, assim como da correspondência diplomática trocada, podem ver-se: Sá daBandeira, O <strong>TRÁFICO</strong> DA <strong>ESCRAVATURA</strong> E O BILL <strong>DE</strong> LORD PALMERSTON, Lisboa, 1840. CunhaLeal, PORTUGAL E A INGLATERRA, Corunha, 1932. José d’Arriaga, A INGLATERRA, PORTUGAL EAS SUAS COLONIAS, Lisboa, 1882.E-BOOK CEAUP
- Page 1:
EDIÇÕESELECTRÓNICASCEAUPAS BURGU
- Page 5 and 6:
AS BURGUESIAS PORTUGUESASE A ABOLI
- Page 7:
ÍNDICEPREFÁCIO 9INTRODUÇÃO 111.
- Page 12 and 13:
José Capela12Estudar, pois, a abol
- Page 15 and 16:
As Burguesias Portuguesas e a Aboli
- Page 17 and 18:
As Burguesias Portuguesas e a Aboli
- Page 19 and 20:
As Burguesias Portuguesas e a Aboli
- Page 22 and 23:
José Capela22da tal ordem senhoria
- Page 24 and 25:
José CapelaCom a extinção das co
- Page 26 and 27:
José Capela26defrontavam em Portug
- Page 28 and 29:
José Capelaexpansão que dela se p
- Page 30 and 31:
José CapelaOra, a primeira de toda
- Page 32 and 33:
José Capela32retirada dos monopól
- Page 34 and 35:
José CapelaSe pode aceitar-se como
- Page 36 and 37:
José Capelada consideração sober
- Page 38 and 39:
José Capela38«Tolos eram os portu
- Page 40 and 41:
José Capelapronto, e que era miste
- Page 42 and 43:
José Capela42comércio legítimo n
- Page 44 and 45:
José Capelaem que este comércio d
- Page 46 and 47:
José Capela46Porto do que em Lisbo
- Page 48 and 49:
José Capela48metrópole» (81) . M
- Page 50 and 51:
José Capela50momentâneo bem da ag
- Page 52 and 53:
José Capelado tráfico da escravat
- Page 54 and 55:
José Capela54que o tráfico da esc
- Page 56 and 57:
José Capela56Mas os brasileiros ta
- Page 58 and 59:
José Capela58a sair em navios port
- Page 60 and 61:
José Capelaprojecto para proibiç
- Page 62 and 63:
José Capelaefeitos da convulsão p
- Page 64 and 65:
José Capelaexactamente porque não
- Page 66 and 67:
José Capela66milícia, no comérci
- Page 68 and 69:
José Capela68extremamente diversif
- Page 70 and 71:
José Capela70da proibição que im
- Page 72 and 73:
José Capela72desenganar aos comiss
- Page 74 and 75:
José Capela74que puderam reduzir a
- Page 76 and 77:
José Capela76As posições políti
- Page 78 and 79:
José CapelaFoi sugerido que uma da
- Page 80 and 81:
José Capela80O próprio Sá da Ban
- Page 82 and 83:
José Capela82limitando a observaç
- Page 84 and 85:
José Capela84se viam pequenos cobe
- Page 86 and 87:
José Capela86netos, e a sua fortun
- Page 88 and 89:
José Capela88de 150 a 200 pessoas,
- Page 90 and 91:
José Capela90medida havia de traze
- Page 92 and 93:
José CapelaOutro índice significa
- Page 94 and 95:
José Capela94senhores. Conquista q
- Page 96 and 97:
José Capela96Como a transmissão d
- Page 98 and 99:
José Capela98com que se divertiam
- Page 100 and 101:
José Capela100de escravos em grand
- Page 102 and 103:
José Capela102populações dominad
- Page 104 and 105:
José Capela104militarmente aqueles
- Page 106 and 107: José Capela106economicamente. A au
- Page 108 and 109: José Capela108capitão-general Dav
- Page 110 and 111: José Capela110O mesmo governador,
- Page 112 and 113: José Capela112eram dos mais ricos
- Page 114 and 115: José Capela114Estamos portanto dia
- Page 116 and 117: José Capela116O que aproveitava, s
- Page 118 and 119: José Capela118todos os navios da m
- Page 120 and 121: José Capela120enriquecer rapidamen
- Page 122 and 123: José Capelatem ido deste país par
- Page 124 and 125: José Capela124Não há dúvida que
- Page 126 and 127: José Capela126disso o mesmo govern
- Page 128 and 129: José Capela128para fazer o contrab
- Page 130 and 131: José Capela130Ocidental apenas um
- Page 132 and 133: José Capela132Esta narrativa deixa
- Page 134 and 135: José Capela134de que Cirne o acusa
- Page 136 and 137: José Capela136sindicância, porque
- Page 138 and 139: José Capela138Foi assim que o mini
- Page 140 and 141: José Capela140atribui às pressõe
- Page 142 and 143: José Capela142ocaso do capitão Al
- Page 144 and 145: José Capela144porque em Moçambiqu
- Page 146 and 147: José Capela146no tráfico da escra
- Page 148 and 149: José Capela148fronteiro à Ilha de
- Page 150 and 151: José Capela150artigos adicionais s
- Page 152 and 153: José Capela152vitória. E quando f
- Page 154 and 155: José Capela154Os ingleses, que já
- Page 158 and 159: José Capela158domínios portuguese
- Page 160 and 161: José Capela160Inglaterra disposta
- Page 162 and 163: José Capela162da Bandeira recusou
- Page 164 and 165: José Capela164negócio nada aprove
- Page 166 and 167: José Capela166de D. João VI inter
- Page 168 and 169: José Capelacomércio britânico, a
- Page 170 and 171: José Capela170nesta verba débitos
- Page 172 and 173: José Capelaeconómico dos dois pa
- Page 174 and 175: José Capela174Os projectos, tímid
- Page 176 and 177: José Capela176em nova era. O que a
- Page 178 and 179: José Capelaesclavagistas e dadas a
- Page 180 and 181: José Capela180algodão, para o qua
- Page 182 and 183: José CapelaANEXOSCOMPRA DE UM ESCR
- Page 184 and 185: José Capela184CIRNE, Manuel Joaqui
- Page 186 and 187: José CapelaRESULTADO DOS TRABALHOS
- Page 188 and 189: José Capela188AZEVEDO, Julião Soa
- Page 190 and 191: José Capela190GOMES, Marques - LUC
- Page 192: José Capela192SANCEAU, Elaine - D.