José Capela128para fazer o contrabando. E o caso sujeito a inquérito revelava que o naviopretensamente sujeito a arribada forçada, já havia sido anunciado por cartasque o precederam; além disso, trazia a bordo pessoas que tinham fundosem Quelimane e Rios de Sena. Eram conhecidas as «frequentes arribadasdos navios brasileiros aos portos desta capitania, durante o passado tempoem que aos brasileiros era lícito traficar em escravos» (270) . E continuarama fazê-lo depois.O tráfico de escravos de Moçambique para o Brasil, tal como o de Angola,com a independência do Brasil, veio a beneficiar da situação de ambiguidadelegal em que os negreiros deliberadamente se colocavam, quanto àsua nacionalidade. Os tratados luso-britânicos e as convenções saídas doCongresso de Viena tinham sido assinados por Portugal e não foi facilmenteque a Inglaterra conseguiu que os brasileiros os assumissem. Além disso,quem era brasileiro e quem era português, perante as leis antitráfico, duranteo longo período em que a independência do Brasil esteve por reconhecer?Ora, continuava franco o transporte de escravos para as colóniasportuguesas ao sul do Equador. Uma vez reconhecida a independênciado Brasil, aos portugueses não era permitido o transporte de escravos daÁfrica para o Brasil. Mas também não estava prevista a sua fiscalização. Eos poucos barcos capturados, arvorando a bandeira portuguesa, uma vezlevados às comissões mistas que os haviam de julgar, verificava-se serem oude nacionais brasileiros, ou de portugueses estabelecidos no Brasil, ou aindade indivíduos originários de Portugal mas cujo domicílio tanto estava emPortugal como no Brasil e na África. As comissões mistas anglo-brasileiras,pela parte brasileira, davam sistematicamente ganho de causa aos negreiros,que assim se viam incentivados ao negócio. É que, sobre os brasileiros, nãoimpendia qualquer proibição formal, mesmo para o norte do Equador. OBrasil sentia que as concessões da corte portuguesa aos ingleses, em <strong>1810</strong>,1815 e 1817, tinham sido feitas à custa dos interesses brasileiros, especialmenteno nordeste, que mais directamente ficaria afectado pela proibiçãodo tráfico ao norte do Equador. O poderio brasileiro estava nas mãos dosterratenentes e dos grandes negociantes (na maioria portugueses), ambos270 Informação do desembargador Dinis da Costa ao Gov.-Geral, 8/Set./1831, A. H. U., Avs. de Moç.,Maço 24.2007
As Burguesias Portuguesas e a Abolição do Tráfico de Escravatura, <strong>1810</strong>-<strong>1842</strong>os grupos directamente dependentes da escravatura. O que coibia D. Pedroe o seu governo de ceder às continuas pressões inglesas de troca do reconhecimentoda independência pela abolição da escravatura. A Constituiçãopromulgada pelo imperador, em Março de 1824, praticamente ignorou aescravatura. Só em 1826 é que foi assinado o tratado anglo-brasileiro contrao tráfico e que a Inglaterra ratificaria a 13 de Março de 1827. O Brasilcomprometia-se à abolição, a partir de 1830 (271) .No período imediatamente anterior, deu-se a excitação que referimos,na importação de escravos. Enquanto que durante os anos de 1822-1827uma média de sessenta barcos tinham desembarcado aproximadamente25 000 escravos por ano na província do Rio de Janeiro, em 1828 maisde cento e dez barcos descarregaram aproximadamente 45 000 escravos;número semelhante chegou em 1829 e, na primeira metade de 1830, setentae seis barcos transportavam mais de 30 000 escravos. Foram maisde 175 000 escravos num pequeno período de três anos, o que emocionouprofundamente a opinião pública brasileira, sobretudo pelo receio latentee assim agudizado da africanização do país. Deu-se portanto uma pausana importação de escravos, a seguir a 1830. Mas, nomeadamente pelodesenvolvimento brusco da cultura do café, a pressão sobre a oferta demão-de-obra fez-se sentir de tal maneira que o tráfico voltou a tomar proporçõesalarmantes. Somente em 1837, cerca de 100 barcos descarregaramnas províncias do Rio e de São Paulo aproximadamente 46 000 escravos,na sua maior parte de Angola, Congo e Moçambique.Se os negreiros brasileiros estavam agora sob a alçada do tratado anglo--brasileiro, acontecia que os portugueses podiam continuar a navegar aosul do Equador, pois que nenhum tratado previa aí a sua captura. O que sóviria a acontecer com o decreto saído do bill de Lord Palmerston de 1839 eo tratado anglo-luso de <strong>1842</strong>. Até lá, os navios levados às comissões mistasanglo-lusas tinham a cobertura da parte portuguesa. De novo proliferavamos barcos com bandeira portuguesa e documentos falsificados. A maior partedos negreiros acabava sempre por encontrar maneira de escapar ao patrulhamento.De Dezembro de 1835 a Abril de 1839, os cruzadores britânicoscapturaram onze barcos ao largo da costa brasileira e o esquadrão da África129271 Leslie Bethell, ob. cit., para tudo o que respeita à abolição no Brasil.E-BOOK CEAUP
- Page 1:
EDIÇÕESELECTRÓNICASCEAUPAS BURGU
- Page 5 and 6:
AS BURGUESIAS PORTUGUESASE A ABOLI
- Page 7:
ÍNDICEPREFÁCIO 9INTRODUÇÃO 111.
- Page 12 and 13:
José Capela12Estudar, pois, a abol
- Page 15 and 16:
As Burguesias Portuguesas e a Aboli
- Page 17 and 18:
As Burguesias Portuguesas e a Aboli
- Page 19 and 20:
As Burguesias Portuguesas e a Aboli
- Page 22 and 23:
José Capela22da tal ordem senhoria
- Page 24 and 25:
José CapelaCom a extinção das co
- Page 26 and 27:
José Capela26defrontavam em Portug
- Page 28 and 29:
José Capelaexpansão que dela se p
- Page 30 and 31:
José CapelaOra, a primeira de toda
- Page 32 and 33:
José Capela32retirada dos monopól
- Page 34 and 35:
José CapelaSe pode aceitar-se como
- Page 36 and 37:
José Capelada consideração sober
- Page 38 and 39:
José Capela38«Tolos eram os portu
- Page 40 and 41:
José Capelapronto, e que era miste
- Page 42 and 43:
José Capela42comércio legítimo n
- Page 44 and 45:
José Capelaem que este comércio d
- Page 46 and 47:
José Capela46Porto do que em Lisbo
- Page 48 and 49:
José Capela48metrópole» (81) . M
- Page 50 and 51:
José Capela50momentâneo bem da ag
- Page 52 and 53:
José Capelado tráfico da escravat
- Page 54 and 55:
José Capela54que o tráfico da esc
- Page 56 and 57:
José Capela56Mas os brasileiros ta
- Page 58 and 59:
José Capela58a sair em navios port
- Page 60 and 61:
José Capelaprojecto para proibiç
- Page 62 and 63:
José Capelaefeitos da convulsão p
- Page 64 and 65:
José Capelaexactamente porque não
- Page 66 and 67:
José Capela66milícia, no comérci
- Page 68 and 69:
José Capela68extremamente diversif
- Page 70 and 71:
José Capela70da proibição que im
- Page 72 and 73:
José Capela72desenganar aos comiss
- Page 74 and 75:
José Capela74que puderam reduzir a
- Page 76 and 77:
José Capela76As posições políti
- Page 78 and 79: José CapelaFoi sugerido que uma da
- Page 80 and 81: José Capela80O próprio Sá da Ban
- Page 82 and 83: José Capela82limitando a observaç
- Page 84 and 85: José Capela84se viam pequenos cobe
- Page 86 and 87: José Capela86netos, e a sua fortun
- Page 88 and 89: José Capela88de 150 a 200 pessoas,
- Page 90 and 91: José Capela90medida havia de traze
- Page 92 and 93: José CapelaOutro índice significa
- Page 94 and 95: José Capela94senhores. Conquista q
- Page 96 and 97: José Capela96Como a transmissão d
- Page 98 and 99: José Capela98com que se divertiam
- Page 100 and 101: José Capela100de escravos em grand
- Page 102 and 103: José Capela102populações dominad
- Page 104 and 105: José Capela104militarmente aqueles
- Page 106 and 107: José Capela106economicamente. A au
- Page 108 and 109: José Capela108capitão-general Dav
- Page 110 and 111: José Capela110O mesmo governador,
- Page 112 and 113: José Capela112eram dos mais ricos
- Page 114 and 115: José Capela114Estamos portanto dia
- Page 116 and 117: José Capela116O que aproveitava, s
- Page 118 and 119: José Capela118todos os navios da m
- Page 120 and 121: José Capela120enriquecer rapidamen
- Page 122 and 123: José Capelatem ido deste país par
- Page 124 and 125: José Capela124Não há dúvida que
- Page 126 and 127: José Capela126disso o mesmo govern
- Page 130 and 131: José Capela130Ocidental apenas um
- Page 132 and 133: José Capela132Esta narrativa deixa
- Page 134 and 135: José Capela134de que Cirne o acusa
- Page 136 and 137: José Capela136sindicância, porque
- Page 138 and 139: José Capela138Foi assim que o mini
- Page 140 and 141: José Capela140atribui às pressõe
- Page 142 and 143: José Capela142ocaso do capitão Al
- Page 144 and 145: José Capela144porque em Moçambiqu
- Page 146 and 147: José Capela146no tráfico da escra
- Page 148 and 149: José Capela148fronteiro à Ilha de
- Page 150 and 151: José Capela150artigos adicionais s
- Page 152 and 153: José Capela152vitória. E quando f
- Page 154 and 155: José Capela154Os ingleses, que já
- Page 156 and 157: José Capela156intervir no tráfico
- Page 158 and 159: José Capela158domínios portuguese
- Page 160 and 161: José Capela160Inglaterra disposta
- Page 162 and 163: José Capela162da Bandeira recusou
- Page 164 and 165: José Capela164negócio nada aprove
- Page 166 and 167: José Capela166de D. João VI inter
- Page 168 and 169: José Capelacomércio britânico, a
- Page 170 and 171: José Capela170nesta verba débitos
- Page 172 and 173: José Capelaeconómico dos dois pa
- Page 174 and 175: José Capela174Os projectos, tímid
- Page 176 and 177: José Capela176em nova era. O que a
- Page 178 and 179:
José Capelaesclavagistas e dadas a
- Page 180 and 181:
José Capela180algodão, para o qua
- Page 182 and 183:
José CapelaANEXOSCOMPRA DE UM ESCR
- Page 184 and 185:
José Capela184CIRNE, Manuel Joaqui
- Page 186 and 187:
José CapelaRESULTADO DOS TRABALHOS
- Page 188 and 189:
José Capela188AZEVEDO, Julião Soa
- Page 190 and 191:
José Capela190GOMES, Marques - LUC
- Page 192:
José Capela192SANCEAU, Elaine - D.