José Capela112eram dos mais ricos entre todos os comerciantes. E os portugueses eramum médico e negociante proprietário de um navio e que, interinamente,fora ouvidor-geral; um capitão-tenente e ex-governador de Inhambane; otesoureiro do Erário Régio e pagador geral das Tropas; o juiz e tesoureiroda Alfândega; o escrivão da Junta da Fazenda e um irmão do médico. Omédico e o tesoureiro do Erário contavam-se entre os sete mais ricos dosportugueses. Esta companhia teria sido sugerida pelo governo central (214) .Quase simultaneamente, formou-se a Sociedade Mercantil, criada poralvará de 7 de Junho de 1783, formada por dezoito sócios europeus, goesese moçambicanos. Entre eles, voltam a aparecer três dos grandes capitalistasportugueses: o médico, o tesoureiro do Erário e o juiz e tesoureiroda Alfândega. Esta sociedade tinha porém como objecto o monopólio docomércio no continente, que era detido pelos baneanes. Tudo indica queestes conseguiram entrar para a sociedade pela necessidade do seu capitale das mercadorias a cuja importação só eles tinham acesso. Porque chegoua ser proposta a sua exclusão. Era o eterno problema dos conflitos entre oscomerciantes europeus e asiáticos. E esta sociedade vinha, de alguma maneira,repor a situação criada pela Companhia do Comércio com os Mujaos(Yao) e os Macuas, de completa iniciativa de habitantes de Moçambique,e a que o governador-geral Pereira do Lago dera o seu beneplácito, em 11de Março de 1766 (215) . Destinava-se esta exclusivamente ao comércio nosterritórios fronteiros à Ilha e estava-lhe vedado o comércio com os portosdependentes. Compraria aos importadores indianos os artigos importados eteria o monopólio do marfim, abada (chifre de rinoceronte) e escravos. Masos comerciantes indianos vieram a queixar-se da companhia e obtiveramapoio do governo da Índia para a sua extinção.Entre os capitalistas da nova sociedade mercantil contava-se tambémum grande mercador dos Rios de Sena, Joaquim Morais Rego Lisboa. Ea companhia beneficiava de um exclusivo mais alargado que se estendia,para além das terras firmes, a Rios de Sena, Sofala, Inhambane e ilhas deCabo Delgado. Igualmente desencadeou protestos da mais variada ordeme proveniência e, atacada em Moçambique e na Índia, nomeadamente por214 Fritz Hoppe, ob. cit., pág. 258.215 Idem, pág.188.2007
As Burguesias Portuguesas e a Abolição do Tráfico de Escravatura, <strong>1810</strong>-<strong>1842</strong>comerciantes de Damão, acabou por extinguir-se. O governo central, porordem de 2 de Março de 1785, acabou com ela e tornou livre o comércio.As duas sociedades que estavam intimamente ligadas, encerraram as suasactividades com grandes prejuízos. As instruções dadas de Lisboa ao novocapitão-general, após a extinção destas companhias, afirmam tratar-se deinteresses particulares que prejudicavam o domínio português sobre aspopulações, uma vez que vendiam os seus artigos a preços muito altos,comprando a preços muito baixos. Ao contrário dos estrangeiros, que estavama infestar a costa, fazendo exactamente o contrário e assim cativandoas populações (216) .O que mais nos importa assinalar aqui é o aparecimento, a caminhodo fim do século XVIII, e na capital de Moçambique, de uma pequenaoligarquia financeira disposta a monopolizar os negócios de toda a costa.As tentativas lançadas com tal finalidade fracassaram porque não era elatão forte quanto as circunstâncias o exigiam, e os expedientes utilizadosesbarravam sempre com os interesses dos asiáticos que faziam valer os seusdireitos junto do governo da Índia e, através deste, junto do de Lisboa. Estepequeno grupo de capitalistas integrava verdadeiros homens de negóciosdoublés de administradores da coisa pública, incluindo os capitães-mores egovernadores gerais e locais. Ao mesmo tempo senhores do poder económicoe do poder político local. Um vereador da câmara, que representou paraLisboa contra o monopólio da Sociedade Mercantil, dizia serem castigadosos que protestavam contra a companhia.Era um grupo dotado de mentalidade mercantil aguçada, com algumacapacidade de organização, disposto a lançar mão de investimentos paraalargar o seu raio de acção. A oportunidade estava à vista com o altamenterendoso comércio dos escravos que já se fazia para as colónias francesas epara as Américas, este com novas perspectivas à vista. Em 23 de Outubrode 1795, o ministro da Marinha autorizava Faustino José Pinto de Lima eJosé Henrique da Cruz Freitas, residentes na capitania de Moçambique, anavegarem para os portos portugueses da América um navio de 300 a 400 toneladas«em que pretendem transportar escravatura para os ditos portos» (217) .113216 Alexandre Lobato, HISTÓRIA <strong>DO</strong> PRESÍDIO, cit., pág. 135.217 A. H. U., Avulsos de Moçambique, Maço 1.E-BOOK CEAUP
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