José Capela142ocaso do capitão Alexandre José Freire, que nem sequer registou quaisquerentradas ou saídas de navios, quando se sabia que muitos lá foram (305) . Osbarcos ingleses, em número insuficiente, limitavam-se a constatar os vestígiosevidentes do tráfico nos portos de Quelimane, Ibo e Cabo Delgado.Na sessão de 14 de Agosto de 1848 da Câmara dos Pares, Sá da Bandeirarequereu que, continuando o tráfico nas possessões portuguesas de África,apesar do decreto de 1836, e tendo sido processados funcionários ultramarinossem que aparecessem os resultados de tais processos, «e sendotambém certo que, para uma parte dos funcionários que ali têm exercidoautoridade, o pundonor e a consciência do próprio dever não têm sidoestímulo bastante para a repressão do dito tráfico infame», se aplicassemas penas constantes do decreto de 36 (306) .Não só os anos quarenta terão conhecido maior volume de tráfico deescravos de Moçambique para o Brasil e para Cuba, também porque dacosta ocidental de África era já difícil o contrabando. Assim se entrava nasegunda metade do século com o mesmo tráfico impante e o decreto de Sáda Bandeira sem aplicação prática. O último governador mandado parao fazer, o brigadeiro Marinho, só encontrou um escaler do governo, masem tal estado que era perigoso embarcar nele. E uma galera que estava aconserto. Por outro lado, os funcionários opunham-se activamente à execuçãodo decreto, neles incluído o próprio juiz de direito. Argumentavamque Moçambique não dispunha de outros recursos, senão do negócio daescravatura. E Marinho diz mais uma vez que Bonfim os acompanhava. Dosque tinham ido com ele de Portugal para Moçambique, «exceptuando dous,parece que todos vinham de ânimo feito para engolirem em uma hora todoo ouro, prata, e cobre que pudesse haver na Junta de Fazenda» (307) . Nãodispondo de meios adequados, nem materiais nem humanos, ainda assimconseguiu apresar quatro navios. E foi a sua obstinação em acabar com otráfico que liquidou o seu governo. A Câmara Municipal, presidida peloSanta Anna Garcia, e toda composta de asiáticos negreiros, conjuntamentecom o quartel-general, tentou exigir-lhe a suspensão do Decreto de 36.Como o governador não cedesse, conseguiram que o juiz de direito levasse305 Arquivo Histórico de Moçambique, Correspondência do Governo do Distrito de Lourenço Marques, 1841.306 A. H. U., Papéis de Sá da Bandeira, pasta não numerada.307 Pereira Marinho, ob. cit., págs. 8 e 29.2007
As Burguesias Portuguesas e a Abolição do Tráfico de Escravatura, <strong>1810</strong>-<strong>1842</strong>a questão para o Conselho do Governo. O chefe do Estado Maior, João daCosta Xavier, pressionava-o, igualmente, tanto mais que tinha 80 escravospara mandar para Havana, com licença da Junta Governativa anterior.Segundo Marinho, o deputado Teodorico Abranches era procuradorem Lisboa dos negreiros locais. Estes souberam, antes da chegada da portaria,que ele iria ser exonerado. Marinho entendia que, apesar de tudo,era possível acabar com o tráfico. O que ele teria feito - garante - se tivessecontinuado em Moçambique. Os principais da «facção negreira» emMoçambique - ainda segundo o governador - eram os já abundantementecitados Joaquim de Santa Anna Garcia de Miranda, o coronel FranciscoAntónio Cardoso, o major Cândido da Costa Soares e o major João da CostaXavier. O primeiro membro de um governo provisório, secretário do mesmoe presidente da Câmara Municipal; o segundo presidente de um governoprovisório e administrador da Alfândega; o terceiro igualmente membrode um governo provisório e o quarto, major do exército, foi quem tomouconta do governo, depois de Marinho. Por sua vez o deputado Abranches,que também fora membro de um governo provisório, quando partiu deMoçambique para as Cortes, foi em um navio carregado de escravos, namaioria seus. O barco foi aprisionado pelos cruzadores ingleses do Caboe o deputado só escapou com astúcias em que era mestre: «é negreiro, emuito negreiro, e está aliado com os negreiros de Moçambique; não temum só acto de honra na sua vida e tem exaurido do governo, ou FazendaPública de Moçambique tudo quando tem podido» (308) .Logo que dispôs de alguma força, o brigadeiro Marinho impôs a apreensãodos navios negreiros. Oficiais de Marinha que tomaram três vieramsugerir-lhe, alegando medo, a libertação das presas. O governador chegouà conclusão de que não era o medo dos espanhóis que os movia, mas o dinheiroque deles tinham recebido. Os capitães de duas dessas embarcaçõesdiziam alto e bom som que vinham dirigidos e confiados em Santa Anna eCardoso pois que ambos, quando membros do governo, lhes tinham escritopara Havana «dizendo que mandassem buscar quantos escravos quisessem,143308 Idem, págs. 17-18. Para o escrivão e deputado da Junta de Fazenda da capitania de Moçambiquerequereu o governador Xavier Botelho o hábito de Cristo, o que justificava, enaltecendo os seusmerecimentos. Xaxier Botelho a Min. da Mar., 10/3/1828, A. H. U., Avs. de Moç., Maço 4.E-BOOK CEAUP
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