José Capela130Ocidental apenas um ao sul da linha e uma dúzia ao norte. No entretanto,os barcos negreiros faziam 300 viagens coroadas de êxito desde o Congo,Angola e Moçambique e muitas mais da Costa da Mina, levando para oBrasil 125 000 escravos. E não era só o tráfico brasileiro que florescia, comotambém o cubano. Os suportes eram portugueses, brasileiros e espanhóis.A partir de 1839 a fiscalização inglesa tornou-se mais eficiente e o tráficoamainou. Mas reavivou-se de novo nos fins de <strong>1842</strong>. Expansão da culturacafezeira, novo relaxamento do governo brasileiro na supressão do tráfico,e os negreiros a utilizarem outros recursos para fugir à interferência britânica.Nomeadamente, refugiando-se sob a bandeira americana, dado queos Estados Unidos não tinham acordado qualquer tratado antitráfico com aInglaterra. E quando a própria bandeira americana não lhes dava protecçãobastante, pois que as patrulhas britânicas se dispunham a capturar os que aexibissem fraudulentamente, os negreiros regressaram à bandeira brasileirana expectativa de, se apreendidos, serem levados à comissão mista anglo--brasileira do Rio de Janeiro onde, afinal de contas, havia sempre esperançade absolvição. Em finais de 40, novo surto de tráfico e com preços mais altosdo que nunca. Mais de 50 000-60 000 escravos foram importados pelo Brasildurante cada ano, de 1846 a 1849. Verificava-se um movimento expansionistanas culturas do café e do açúcar, provocado pela procura da Europae da América do Norte. Para enfrentar as perdas, os negreiros tinham-seconstituído em associações que também lhes permitiam segurar os barcosa prémios exorbitantes. Os maiores fornecedores de escravos continuavama ser os territórios portugueses ao sul do Equador. Só a partir de 1850, commedidas drásticas tomadas pela marinha inglesa nas costas brasileiras e, logoa seguir, uma efectiva e intensa prática de repressão por parte das autoridadesbrasileiras, é que o tráfico da escravatura negra para o Brasil foi encerrado.O longo, sinuoso, ambíguo processo do tráfico de escravos para o Brasilreflectia-se, evidentemente, em Angola e Moçambique. Assim se dizia quelá tinha ido o último navio negreiro, em 1830. No ano seguinte, porém,estiveram em Lourenço Marques muitos navios estrangeiros, sem pagaremquaisquer direitos (272) . E a rapina, por parte das autoridades, continuava272 Feitor de Lourenço Marques ao Escrivão Deputado da Real Fazenda, 1/Set./1831, A. H. U., Avs. deMoç., Maço 25.2007
As Burguesias Portuguesas e a Abolição do Tráfico de Escravatura, <strong>1810</strong>-<strong>1842</strong>como dantes. O Xeque da Quitangonha queixava-se de que tinha recebidoordens para cortar madeiras para o serviço do Rei; tendo-o feito, a pagafora roubarem-lhe os escravos que tinha mandado para venda; e quandose queixou disto, como recompensa, mandaram os soldados arrasar-lhea povoação (273) .Em Portugal, tal negócio era mais do que tolerado; segundo o parecerdo Conselheiro Procurador da Fazenda no Conselho Ultramarino, a propósitodo apresamento de um navio com escravos, todos consentiam oudisfarçavam o comércio da escravatura, porque nas paragens de África atodos era necessário, por não haver outro melhor. E como a proibição donegócio era devida tão somente a tratados que Portugal e o Brasil foramcoagidos a subscrever, por esta simples razão, e mesmo que não houvessegrandes interesses, como havia, de facto, governadores e governados, todosse haviam sem escrúpulos na sua execução (274) .O governador Marinho, na amargura da sua demissão forçada por influênciados negreiros, dizia que «por fatalidade jamais as autoridades portuguesasforam tão venais, e corruptíveis a este respeito, como depois que oGoverno que se chama constitucional: parece que os apelidados de constitucionaisportugueses, para adquirirem ouro e nobreza e não trabalharem,querem beber todo o sangue d’África». E considerava estupidez e traiçãoenriquecer o Brasil e Havana à custa das nossas possessões africanas (275) .De facto, também de Moçambique se traficava directamente paraHavana. Nos finais de 37 ali estava a galera «Amellia», pronta para partir,com 658 escravos a bordo (276) . Isto, portanto, no ano imediatamente seguinteao célebre decreto de Sá da Bandeira destinado a acabar com o tráfico.O mesmo governador também diria que, por mais do que uma vez, osnegreiros de Moçambique e do Rio, tal como acontecera a outros governadores,tinham-lhe proposto a que lhes deixasse fazer o contrabandode escravos durante um ano que, depois, aí por uns dez, não precisariammais dele (277) .131273 A. H. U., Avs. de Moç., Maço 26.274 Informação do Secretário do Conselho Ultramarino, 26/Março/1830, A. H. U., Avs. de Moç. Maço 13.275 Pereira Marinho, ob. cit., pág. VII.276 Ajudante de ordens Octaviano a Gov.-Geral, 28/ Dez./1837, A. H. U., Avs. de Moç., Maço 30.277 Pereira Marinho, ob. cit., pág. 97.E-BOOK CEAUP
- Page 1:
EDIÇÕESELECTRÓNICASCEAUPAS BURGU
- Page 5 and 6:
AS BURGUESIAS PORTUGUESASE A ABOLI
- Page 7:
ÍNDICEPREFÁCIO 9INTRODUÇÃO 111.
- Page 12 and 13:
José Capela12Estudar, pois, a abol
- Page 15 and 16:
As Burguesias Portuguesas e a Aboli
- Page 17 and 18:
As Burguesias Portuguesas e a Aboli
- Page 19 and 20:
As Burguesias Portuguesas e a Aboli
- Page 22 and 23:
José Capela22da tal ordem senhoria
- Page 24 and 25:
José CapelaCom a extinção das co
- Page 26 and 27:
José Capela26defrontavam em Portug
- Page 28 and 29:
José Capelaexpansão que dela se p
- Page 30 and 31:
José CapelaOra, a primeira de toda
- Page 32 and 33:
José Capela32retirada dos monopól
- Page 34 and 35:
José CapelaSe pode aceitar-se como
- Page 36 and 37:
José Capelada consideração sober
- Page 38 and 39:
José Capela38«Tolos eram os portu
- Page 40 and 41:
José Capelapronto, e que era miste
- Page 42 and 43:
José Capela42comércio legítimo n
- Page 44 and 45:
José Capelaem que este comércio d
- Page 46 and 47:
José Capela46Porto do que em Lisbo
- Page 48 and 49:
José Capela48metrópole» (81) . M
- Page 50 and 51:
José Capela50momentâneo bem da ag
- Page 52 and 53:
José Capelado tráfico da escravat
- Page 54 and 55:
José Capela54que o tráfico da esc
- Page 56 and 57:
José Capela56Mas os brasileiros ta
- Page 58 and 59:
José Capela58a sair em navios port
- Page 60 and 61:
José Capelaprojecto para proibiç
- Page 62 and 63:
José Capelaefeitos da convulsão p
- Page 64 and 65:
José Capelaexactamente porque não
- Page 66 and 67:
José Capela66milícia, no comérci
- Page 68 and 69:
José Capela68extremamente diversif
- Page 70 and 71:
José Capela70da proibição que im
- Page 72 and 73:
José Capela72desenganar aos comiss
- Page 74 and 75:
José Capela74que puderam reduzir a
- Page 76 and 77:
José Capela76As posições políti
- Page 78 and 79:
José CapelaFoi sugerido que uma da
- Page 80 and 81: José Capela80O próprio Sá da Ban
- Page 82 and 83: José Capela82limitando a observaç
- Page 84 and 85: José Capela84se viam pequenos cobe
- Page 86 and 87: José Capela86netos, e a sua fortun
- Page 88 and 89: José Capela88de 150 a 200 pessoas,
- Page 90 and 91: José Capela90medida havia de traze
- Page 92 and 93: José CapelaOutro índice significa
- Page 94 and 95: José Capela94senhores. Conquista q
- Page 96 and 97: José Capela96Como a transmissão d
- Page 98 and 99: José Capela98com que se divertiam
- Page 100 and 101: José Capela100de escravos em grand
- Page 102 and 103: José Capela102populações dominad
- Page 104 and 105: José Capela104militarmente aqueles
- Page 106 and 107: José Capela106economicamente. A au
- Page 108 and 109: José Capela108capitão-general Dav
- Page 110 and 111: José Capela110O mesmo governador,
- Page 112 and 113: José Capela112eram dos mais ricos
- Page 114 and 115: José Capela114Estamos portanto dia
- Page 116 and 117: José Capela116O que aproveitava, s
- Page 118 and 119: José Capela118todos os navios da m
- Page 120 and 121: José Capela120enriquecer rapidamen
- Page 122 and 123: José Capelatem ido deste país par
- Page 124 and 125: José Capela124Não há dúvida que
- Page 126 and 127: José Capela126disso o mesmo govern
- Page 128 and 129: José Capela128para fazer o contrab
- Page 132 and 133: José Capela132Esta narrativa deixa
- Page 134 and 135: José Capela134de que Cirne o acusa
- Page 136 and 137: José Capela136sindicância, porque
- Page 138 and 139: José Capela138Foi assim que o mini
- Page 140 and 141: José Capela140atribui às pressõe
- Page 142 and 143: José Capela142ocaso do capitão Al
- Page 144 and 145: José Capela144porque em Moçambiqu
- Page 146 and 147: José Capela146no tráfico da escra
- Page 148 and 149: José Capela148fronteiro à Ilha de
- Page 150 and 151: José Capela150artigos adicionais s
- Page 152 and 153: José Capela152vitória. E quando f
- Page 154 and 155: José Capela154Os ingleses, que já
- Page 156 and 157: José Capela156intervir no tráfico
- Page 158 and 159: José Capela158domínios portuguese
- Page 160 and 161: José Capela160Inglaterra disposta
- Page 162 and 163: José Capela162da Bandeira recusou
- Page 164 and 165: José Capela164negócio nada aprove
- Page 166 and 167: José Capela166de D. João VI inter
- Page 168 and 169: José Capelacomércio britânico, a
- Page 170 and 171: José Capela170nesta verba débitos
- Page 172 and 173: José Capelaeconómico dos dois pa
- Page 174 and 175: José Capela174Os projectos, tímid
- Page 176 and 177: José Capela176em nova era. O que a
- Page 178 and 179: José Capelaesclavagistas e dadas a
- Page 180 and 181:
José Capela180algodão, para o qua
- Page 182 and 183:
José CapelaANEXOSCOMPRA DE UM ESCR
- Page 184 and 185:
José Capela184CIRNE, Manuel Joaqui
- Page 186 and 187:
José CapelaRESULTADO DOS TRABALHOS
- Page 188 and 189:
José Capela188AZEVEDO, Julião Soa
- Page 190 and 191:
José Capela190GOMES, Marques - LUC
- Page 192:
José Capela192SANCEAU, Elaine - D.