José Capelaexactamente porque não dispunham de um background capaz de lhespermitir a sistematização actualizada da exploração colonial.Ora, a Inglaterra já o tinha em funcionamento e a Bélgica preparava-oatempadamente, com a vantagem de lhe não pesar um passado colonial,o que se repetiria mais tarde com a Alemanha. Portugal, o país de maiortradição colonial, e parcialmente por isso mesmo, encontrava-se nestasituação paradoxal: dispondo de extensos domínios coloniais, não geraraas classes metropolitanas capazes de, no século da industrialização, osocuparem com o comércio de produtos seus (112) .É a esta luz que podem obter-se algumas explicações não só para oanacronismo da metodologia da exploração colonial portuguesa, como tal,e prolongada no tempo até aos anos 60 do século XX, mas também, imediatamente,para as reacções, delongas e oposições à abolição da escravaturae, de seguida, para a manutenção dos seus sucedâneos (113) .64112 Em 1891, ainda Oliveira Martins suspiraria: «Angola podia e devia tornar-se para nós uma fontede riqueza imediata, como mercado para os produtos fabris portugueses por meio de direitos protectoresdiferenciais ...» PORTUGAL EM ÁFRICA, cit., pág. 7. E Marcello Caetano, em 1954: EmAngola e Moçambique existem quase 10 milhões de indígenas. Imagine-se o que pode representarpara a indústria portuguesa que esta gente compre produtos seus!». OS NATIVOS NA ECONOMIAAFRICANA, Coimbra, 1954, pág. 62.113 Discurso do ministro dos Negócios Estrangeiros (Andrade Corvo) em 15 de Fevereiro, in OSEXPLORA<strong>DO</strong>RES INGLESES, Lisboa, 1877, pág. 24: «Hesitámos alguma vez na abolição imediatada escravatura pelas grandes dificuldades económicas e financeiras, que mais por apreensão do quepelos factos, se afigurava existirem a espíritos timoratos? De certo que sim».2007
As Burguesias Portuguesas e a Abolição do Tráfico de Escravatura, <strong>1810</strong>-<strong>1842</strong>AS CLASSES ESCLAVAGISTAS <strong>DE</strong>ANGOLA E <strong>DE</strong> MOÇAMBIQUE.04Um dado indispensável à interpretação da grande mutação socialcoincidente com a abolição da escravatura é, como se torna óbvio, oconhecimento das classes esclavagistas instaladas nas colónias. A suaautonomia ou dependência de outras classes esclavagistas absentistas. Asrelações com os próprios escravos e a interpenetração cultural daí derivada.A mentalidade predominante emergida em tais condições.A tipificação de tais classes não sendo fácil, e pressupondo uma investigaçãoempírica que está longe de esgotada, nomeadamente para o séculoXIX, é no entanto susceptível de uma primeira abordagem. Conhecem-secom pormenor superior os nomes, os hábitos, as actividades e os meios deprodução dos componentes dessas classes. Para Moçambique, na segundametade século XVIII e primeira metade do século XIX, períodos que aquimuito particularmente importam. Embora não tão pormenorizados paraSetecentos, dispomos de elementos análogos relativos à primeira metadeda centúria seguinte, no que diz respeito a Angola. É pois com base nelaque vamos tentar circunscrever essas classes, situá-las no contexto e evoluçãodo mercantilismo mundial, quando a escravatura começou a serproblematizada, primeiro, e quando se tentou a sua extinção, depois. E,em conclusão, ver até que, ponto os seus interesses mediatos e imediatoscoincidem ou não com o abolicionismo.Boxer chegou à conclusão de que «o resultado da concentração de todosos esforços no tráfico de escravos em Angola, durante mais de dois séculos,foi a formação de uma poderosa classe de brancos comerciantes e donosde escravos, o crescimento de uma classe de negros destribalizados quecooperavam neste comércio com os brancos e o aparecimento da classe dosmulatos e mestiços, alguns dos quais atingiram posições importantes na65E-BOOK CEAUP
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