José Capela32retirada dos monopólios às companhias, veio a constatar-se que o circuitoLondres-Lisboa-Brasil se foi gradualmente reduzindo à ligação directa entreLondres e os portos brasileiros e que o tráfico entre as costas africanas ebrasileiras era accionado por armadores sedeados no Brasil. Os barcos parao Brasil passaram a ser seguros na praça de Londres. Doze barcos ingleses,todos de mais de 600 toneladas, levavam as mercadorias directamentepara o Brasil. Eram colonos brasileiros, com total exclusão de Portugal,que importavam os escravos africanos de Angola. E eram franceses, inglesese holandeses que levavam o tabaco, aguardente e açúcar brasileiros àCosta da Mina, para o resgate. Um negociante brasileiro chegou a propor aformação de uma companhia para o negócio directo entre a Inglaterra e oBrasil. Já em 1780 Mello e Castro concluía que tal proposta assim como aspressões para a instalação de indústrias substitutivas de importação, tantono Brasil como em Portugal, estavam a ameaçar as «máximas infalíveis»do sistema colonial (39) .José Acúrsio das Neves (40) apontava o exemplo dos couros que, antesde 1808, vinham todos para Portugal e daqui eram reexportados paraos restantes países e que, após a abertura dos portos, tal como as outrasmercadorias, eram negociados directamente com esses mesmos países.Aliás, não somente a literatura anglófoba como a burguesia mercantilportuguesa haveriam de ficar a atribuir, durante muito tempo, a decadênciada navegação portuguesa e do seu comércio à abertura dos portos eaos tratados com os ingleses. Assim como o definhamento das indústrias.A Associação Comercial do Porto, em resposta a um inquérito de Sá daBandeira de 13 de Agosto de 1840, atribuía ao tratado «opressivo» de<strong>1810</strong> o desaparecimento de numerosos estabelecimentos industriais detecidos de algodão, lanifícios e estamparia, daquela cidade (41) . Emboraesteja em discussão a verdadeira causa da decadência das manufacturasportuguesas neste período (42) , não restam quaisquer dúvidas de que o predomíniodo mercado brasileiro passou para os ingleses. E que a balança39 Maxwell, ob. cit. págs.. 77 e segs.40 MEMORIA SOBRE OS MEIOS <strong>DE</strong> MELHORAR A INDUSTRIA PORTUGUEZA, CONSI<strong>DE</strong>RADA NOSSEUS DIFERENTES RAMOS, Lisboa, 1820.41 José Capela, A BURGUESIA MERCANTIL <strong>DO</strong> PORTO E AS COLÓNIAS, Porto, 1975, pag. 36.42 Vidé Jorge Borges de Macedo, PROBLEMAS DA HISTÓRIA DA INDÚSTRIA PORTUGUESA NO SÉCULOXVIII, Lisboa, 1963, págs. 237-82007
As Burguesias Portuguesas e a Abolição do Tráfico de Escravatura, <strong>1810</strong>-<strong>1842</strong>comercial, com resultados positivos até <strong>1810</strong>, inverteu o seu curso. Nessemesmo ano registou um saldo deficitário de 11 324 cruzados, no anoseguinte de 79 500, e em 1812 de 59 858 (43) . Portugal chegou a importarum montante de lanifícios superior ao total dos produtos manufacturadosexportados para as colónias (44) .De 1795 a 1807 as exportações para as colónias haviam somado, médiaanual, 2 760 contos; esta média baixou no decénio seguinte para 800contos. Em 1796-1807, importámos, anualmente, do Brasil, 14 120 contos;no decénio seguinte, a média anual baixou para 7 560 contos, isto é, paracerca de metade (45) . Segundo Rebelo da Silva «o porto de Lisboa, desertodos navios que antes eram a sua opulência, olhava melancólico e solitáriopara as poucas e humildes velas que ainda o sulcavam. A Inglaterra, nossatutora, mandava-nos tudo, até o calçado e o fato feito. Os ofícios mecânicos,desamparados, acompanhavam as fábricas na ruína. O comércio como Brasil achava-se tão limitado que no ano de 1820 apenas cortaram aságuas do Rio de Janeiro 57 quilhas portuguesas, vindas da Europa, 3 daÁsia, 58 da África, e 35 dos portos americanos, quando em 1805 haviamentrado 840 vasos de Portugal, em 1808, 705, e em <strong>1810</strong>, 214; proporçãocontinuada até 1815 (46) . Um dos muitos autores que durante o séculoXIX não pouparam diatribes ao domínio inglês sobre Portugal, atribuiàs mesmas causas a diminuirão do valor das exportações para o Brasil:de 84 791 758 cruzados de 1796 até 1808 para 21 919 500 cruzados nosonze anos seguintes (47) .43 Sideri, ob. cit., págs. 123 e segs. Armando Castro, INTRODUÇÃO AO ESTU<strong>DO</strong> DA ECONOMIAPORTUGUESA, Lisboa, 1947, pág. 99.44 Armando Castro, idem, pág. 231.45 J. P. Oliveira Martins, PORTUGAL EM ÁFRICA, Porto, 1891, pág. 117. Acúrsio das Neves, para melhoresclarecer a decadência das manufacturas portuguesas, reporta-se à exportação para o Brasil e maisestabelecimentos ultramarinos «onde elas têm o principal consumo», a partir de 1796, ano em queprincipiou a formar-se a balança do comércio. Assim, os valores exportados para as colónias, demanufacturas portuguesas, foi: de 1796 a 1807, média anual cruzados 7 951979; e de 1808 a 1919,média anual cruzados 1 876 625. In MEMÓRIA..., cit., pág. 45.46 Luiz Augusto Rebello da Silva, VARÕES ILLUSTRES DAS TRÊS EPOCHAS CONSTITUCIONAES,Lisboa, 1870, págs. 85 e segs.47 «Ainda que pareça insignificante a nossa indústria a Estrangeiros superficiais, e que só vêem osobjectos ao través do prisma das suas paixões, os nossos Negociantes estavam no costume de embarcarempara o Brasil grande variedade de artigos da nossa mesma produção e manufacturas, queos nossos Portugueses estabelecidos naqueles climas, decididamente preferiam a essas decantadasmanufacturas estrangeiras. Consistiam principalmente estes artigos em manufacturas de algodão, lã33E-BOOK CEAUP
- Page 1: EDIÇÕESELECTRÓNICASCEAUPAS BURGU
- Page 5 and 6: AS BURGUESIAS PORTUGUESASE A ABOLI
- Page 7: ÍNDICEPREFÁCIO 9INTRODUÇÃO 111.
- Page 12 and 13: José Capela12Estudar, pois, a abol
- Page 15 and 16: As Burguesias Portuguesas e a Aboli
- Page 17 and 18: As Burguesias Portuguesas e a Aboli
- Page 19 and 20: As Burguesias Portuguesas e a Aboli
- Page 22 and 23: José Capela22da tal ordem senhoria
- Page 24 and 25: José CapelaCom a extinção das co
- Page 26 and 27: José Capela26defrontavam em Portug
- Page 28 and 29: José Capelaexpansão que dela se p
- Page 30 and 31: José CapelaOra, a primeira de toda
- Page 34 and 35: José CapelaSe pode aceitar-se como
- Page 36 and 37: José Capelada consideração sober
- Page 38 and 39: José Capela38«Tolos eram os portu
- Page 40 and 41: José Capelapronto, e que era miste
- Page 42 and 43: José Capela42comércio legítimo n
- Page 44 and 45: José Capelaem que este comércio d
- Page 46 and 47: José Capela46Porto do que em Lisbo
- Page 48 and 49: José Capela48metrópole» (81) . M
- Page 50 and 51: José Capela50momentâneo bem da ag
- Page 52 and 53: José Capelado tráfico da escravat
- Page 54 and 55: José Capela54que o tráfico da esc
- Page 56 and 57: José Capela56Mas os brasileiros ta
- Page 58 and 59: José Capela58a sair em navios port
- Page 60 and 61: José Capelaprojecto para proibiç
- Page 62 and 63: José Capelaefeitos da convulsão p
- Page 64 and 65: José Capelaexactamente porque não
- Page 66 and 67: José Capela66milícia, no comérci
- Page 68 and 69: José Capela68extremamente diversif
- Page 70 and 71: José Capela70da proibição que im
- Page 72 and 73: José Capela72desenganar aos comiss
- Page 74 and 75: José Capela74que puderam reduzir a
- Page 76 and 77: José Capela76As posições políti
- Page 78 and 79: José CapelaFoi sugerido que uma da
- Page 80 and 81: José Capela80O próprio Sá da Ban
- Page 82 and 83:
José Capela82limitando a observaç
- Page 84 and 85:
José Capela84se viam pequenos cobe
- Page 86 and 87:
José Capela86netos, e a sua fortun
- Page 88 and 89:
José Capela88de 150 a 200 pessoas,
- Page 90 and 91:
José Capela90medida havia de traze
- Page 92 and 93:
José CapelaOutro índice significa
- Page 94 and 95:
José Capela94senhores. Conquista q
- Page 96 and 97:
José Capela96Como a transmissão d
- Page 98 and 99:
José Capela98com que se divertiam
- Page 100 and 101:
José Capela100de escravos em grand
- Page 102 and 103:
José Capela102populações dominad
- Page 104 and 105:
José Capela104militarmente aqueles
- Page 106 and 107:
José Capela106economicamente. A au
- Page 108 and 109:
José Capela108capitão-general Dav
- Page 110 and 111:
José Capela110O mesmo governador,
- Page 112 and 113:
José Capela112eram dos mais ricos
- Page 114 and 115:
José Capela114Estamos portanto dia
- Page 116 and 117:
José Capela116O que aproveitava, s
- Page 118 and 119:
José Capela118todos os navios da m
- Page 120 and 121:
José Capela120enriquecer rapidamen
- Page 122 and 123:
José Capelatem ido deste país par
- Page 124 and 125:
José Capela124Não há dúvida que
- Page 126 and 127:
José Capela126disso o mesmo govern
- Page 128 and 129:
José Capela128para fazer o contrab
- Page 130 and 131:
José Capela130Ocidental apenas um
- Page 132 and 133:
José Capela132Esta narrativa deixa
- Page 134 and 135:
José Capela134de que Cirne o acusa
- Page 136 and 137:
José Capela136sindicância, porque
- Page 138 and 139:
José Capela138Foi assim que o mini
- Page 140 and 141:
José Capela140atribui às pressõe
- Page 142 and 143:
José Capela142ocaso do capitão Al
- Page 144 and 145:
José Capela144porque em Moçambiqu
- Page 146 and 147:
José Capela146no tráfico da escra
- Page 148 and 149:
José Capela148fronteiro à Ilha de
- Page 150 and 151:
José Capela150artigos adicionais s
- Page 152 and 153:
José Capela152vitória. E quando f
- Page 154 and 155:
José Capela154Os ingleses, que já
- Page 156 and 157:
José Capela156intervir no tráfico
- Page 158 and 159:
José Capela158domínios portuguese
- Page 160 and 161:
José Capela160Inglaterra disposta
- Page 162 and 163:
José Capela162da Bandeira recusou
- Page 164 and 165:
José Capela164negócio nada aprove
- Page 166 and 167:
José Capela166de D. João VI inter
- Page 168 and 169:
José Capelacomércio britânico, a
- Page 170 and 171:
José Capela170nesta verba débitos
- Page 172 and 173:
José Capelaeconómico dos dois pa
- Page 174 and 175:
José Capela174Os projectos, tímid
- Page 176 and 177:
José Capela176em nova era. O que a
- Page 178 and 179:
José Capelaesclavagistas e dadas a
- Page 180 and 181:
José Capela180algodão, para o qua
- Page 182 and 183:
José CapelaANEXOSCOMPRA DE UM ESCR
- Page 184 and 185:
José Capela184CIRNE, Manuel Joaqui
- Page 186 and 187:
José CapelaRESULTADO DOS TRABALHOS
- Page 188 and 189:
José Capela188AZEVEDO, Julião Soa
- Page 190 and 191:
José Capela190GOMES, Marques - LUC
- Page 192:
José Capela192SANCEAU, Elaine - D.