José Capela22da tal ordem senhorial de negócios para a era de domínio da burguesiaindustrial, com breve passagem pelo capitalismo de estado, mas sem quetivesse, de permeio, existido uma opulenta e dominante burguesia mercantilperfeitamente delimitada na sua extracção, actividade e ideologiacorrespondente.Para execução do seu plano, Pombal necessitava de dinheiro e de peritos.E, exactamente, ele que pretendia subtrair o negócio a estrangeiros,quase não os tinha nacionais. Apenas três casas portuguesas se contavamem Lisboa com experiência comercial de mercados estrangeiros, de contabilidadeorganizada e, em qualquer destes casos, em sociedade com cidadãosnão portugueses. Aí foi buscar os três primeiros elementos para o acessorar:José Rodrigues Bandeira, António Caetano Ferreira e Luís José de Brito.Um segundo grupo era constituído por elementos da família Cruz, capitaneadapelo eclesiástico António José da Cruz. Com estes e poucos mais, abreve trecho constituindo uma verdadeira clique realmente no poder, tentouPombal organizar um autêntico monopólio económico de cariz nacional. Daía concluir-se que a burguesia mercantil arrancara o poder à nobreza tradicionalserá verdadeiro, se quiserem, mas de modo nenhum como revoluçãocom expressão estrutural imediata na sociedade portuguesa.Apesar das lutas havidas com a nobreza tradicional, o que é facto é quenão só as companhias onde essa restrita burguesia de novos ricos teve assentoestavam abertas à nobreza e aos magistrados, como os seus estatutosgarantiam aos investidores burgueses isenções e privilégios que não erammais do que prerrogativas da nobreza, como ainda os admitiam nas ordensmilitares. Joaquim Inácio da Cruz recebeu o título de Sobral e o senhoriode antigas possessões dos jesuítas e José Francisco da Cruz o morgadio deAlagoa. Era, afinal, o sistema de sempre e que vinha, de alguma maneira,em recuperação da ordem antiga (21) .21 A enorme influência, fortuna e poderio de Anselmo José da Cruz e de seus irmãos,José Francisco da Cruz e Joaquim Inácio da Cruz, tiveram origem no irmão mais velho,António José da Cruz, padre da Congregação de S. Filipe de Néri, amigo das horas difíceisdo Marquês de Pombal e seu protegido. O António José veio a ser cónego da Sé deLisboa e ficou a dever-se-lhe a reparação do templo, muito danificado com o terramotode 1755. José Francisco começou pelo lugar de deputado da Companhia do Grão-Pará,ascendendo depois a provedor da mesma Companhia, provedor da Junta do Comércio,conselheiro efectivo da Fazenda e administrador da Alfândega Grande. Joaquim Inácioexerceu o cargo de tesoureiro da Mesa da Misericórdia. Casou com uma filha única e2007
As Burguesias Portuguesas e a Abolição do Tráfico de Escravatura, <strong>1810</strong>-<strong>1842</strong>É certo estar a nobreza a ser profundamente convulsionada por essee outros processos, inclusive por conflitos internos. Os grandes postoscoloniais continuavam porém a ser confiados à nobreza tradicional: oMorgado de Mateus foi eleito governador de S. Paulo em 1768 e vice-rei doRio de Janeiro em 1769. E tudo se processava em conexão e sob controlorígido do executor dos interesses da Coroa. Aliás, a burguesia mercantillisboeta, para além da clique restrita favorecida... e enobrecida, foi pura esimplesmente esmagada e destruída por Pombal.A partir de 1761, com a abertura do comércio de Moçambique atodos os portugueses, aparecem mercadores lisboetas a armar barcossobretudo para o Oriente. São estes armadores, em ligação com os jesuítas,que se organizam e se aproveitam da Mesa do Bem Comum dosHomens de Negócios, fundada em 1729, para atacarem o monopólio.Foi o jesuíta padre Bento da Fonseca, que preparou o texto utilizado porJoão Tomás Negreiros contra a Companhia do Grão-Pará, numa representaçãoque o advogado da associação, Nogueira Braga, levou ao rei.Outro jesuíta utilizou o púlpito para apostrofar o monopólio. A reacçãode Pombal foi violenta. A Junta foi dissolvida, os papéis apreendidosdenunciaram o envolvimento jesuíta e o ditador considerou o protestocomo conspiração contra o poder real. Os membros da associaçãoforam desterrados. Entre eles estava o grande comerciante e armadorMartinho Velho da Rocha Oldenburg, filho de Félix Oldenburg, a quemhavia sido concedido o exclusivo de transporte para o Oriente, em 1753,e que ficou arruinado.grande herdeira na Baía, aumentando extraordinariamente a sua fortuna com a tomadade todos os grandes empregos que, em vida, tinham sido do seu irmão José Joaquim.Foi morgado do Sobral de Monteagraço por haver comprado à Coroa aquele senhorio efazenda e que tinham pertencido aos jesuítas. Obteve, ainda, a alcaidaria-mor de Freixode-Espada-à-Cinta.Anselmo José, o mais moço da família, foi mandado pelo irmão JoséFrancisco para Génova, onde aprendeu línguas e operações de comércio. Casou emItália e regressou a Lisboa para ocupar um lugar na indústria do tabaco, tornando-seem breve chefe do Contrato do Tabaco, situação que ocupou enquanto foi vivo. Só pelaadministração do Contrato recebia, anualmente, 40 000$000 réis para despesas secretas,de que não tinha de prestar contas. Como Joaquim Inácio não tivesse deixado filhos, asua fortuna, pela morte da viúva, transitou para Anselmo José da Cruz, que tambémherdara todos os cargos e lugares que seu irmão exercera e entre os quais se contava o deinspector das Obras Públicas. Raul Esteves dos Santos, OS TABACOS - SUA INFLUÊNCIANA VIDA DA NAÇÃO, vol. 1, Lisboa, 1974, págs. 279-80.23E-BOOK CEAUP
- Page 1: EDIÇÕESELECTRÓNICASCEAUPAS BURGU
- Page 5 and 6: AS BURGUESIAS PORTUGUESASE A ABOLI
- Page 7: ÍNDICEPREFÁCIO 9INTRODUÇÃO 111.
- Page 12 and 13: José Capela12Estudar, pois, a abol
- Page 15 and 16: As Burguesias Portuguesas e a Aboli
- Page 17 and 18: As Burguesias Portuguesas e a Aboli
- Page 19 and 20: As Burguesias Portuguesas e a Aboli
- Page 24 and 25: José CapelaCom a extinção das co
- Page 26 and 27: José Capela26defrontavam em Portug
- Page 28 and 29: José Capelaexpansão que dela se p
- Page 30 and 31: José CapelaOra, a primeira de toda
- Page 32 and 33: José Capela32retirada dos monopól
- Page 34 and 35: José CapelaSe pode aceitar-se como
- Page 36 and 37: José Capelada consideração sober
- Page 38 and 39: José Capela38«Tolos eram os portu
- Page 40 and 41: José Capelapronto, e que era miste
- Page 42 and 43: José Capela42comércio legítimo n
- Page 44 and 45: José Capelaem que este comércio d
- Page 46 and 47: José Capela46Porto do que em Lisbo
- Page 48 and 49: José Capela48metrópole» (81) . M
- Page 50 and 51: José Capela50momentâneo bem da ag
- Page 52 and 53: José Capelado tráfico da escravat
- Page 54 and 55: José Capela54que o tráfico da esc
- Page 56 and 57: José Capela56Mas os brasileiros ta
- Page 58 and 59: José Capela58a sair em navios port
- Page 60 and 61: José Capelaprojecto para proibiç
- Page 62 and 63: José Capelaefeitos da convulsão p
- Page 64 and 65: José Capelaexactamente porque não
- Page 66 and 67: José Capela66milícia, no comérci
- Page 68 and 69: José Capela68extremamente diversif
- Page 70 and 71: José Capela70da proibição que im
- Page 72 and 73:
José Capela72desenganar aos comiss
- Page 74 and 75:
José Capela74que puderam reduzir a
- Page 76 and 77:
José Capela76As posições políti
- Page 78 and 79:
José CapelaFoi sugerido que uma da
- Page 80 and 81:
José Capela80O próprio Sá da Ban
- Page 82 and 83:
José Capela82limitando a observaç
- Page 84 and 85:
José Capela84se viam pequenos cobe
- Page 86 and 87:
José Capela86netos, e a sua fortun
- Page 88 and 89:
José Capela88de 150 a 200 pessoas,
- Page 90 and 91:
José Capela90medida havia de traze
- Page 92 and 93:
José CapelaOutro índice significa
- Page 94 and 95:
José Capela94senhores. Conquista q
- Page 96 and 97:
José Capela96Como a transmissão d
- Page 98 and 99:
José Capela98com que se divertiam
- Page 100 and 101:
José Capela100de escravos em grand
- Page 102 and 103:
José Capela102populações dominad
- Page 104 and 105:
José Capela104militarmente aqueles
- Page 106 and 107:
José Capela106economicamente. A au
- Page 108 and 109:
José Capela108capitão-general Dav
- Page 110 and 111:
José Capela110O mesmo governador,
- Page 112 and 113:
José Capela112eram dos mais ricos
- Page 114 and 115:
José Capela114Estamos portanto dia
- Page 116 and 117:
José Capela116O que aproveitava, s
- Page 118 and 119:
José Capela118todos os navios da m
- Page 120 and 121:
José Capela120enriquecer rapidamen
- Page 122 and 123:
José Capelatem ido deste país par
- Page 124 and 125:
José Capela124Não há dúvida que
- Page 126 and 127:
José Capela126disso o mesmo govern
- Page 128 and 129:
José Capela128para fazer o contrab
- Page 130 and 131:
José Capela130Ocidental apenas um
- Page 132 and 133:
José Capela132Esta narrativa deixa
- Page 134 and 135:
José Capela134de que Cirne o acusa
- Page 136 and 137:
José Capela136sindicância, porque
- Page 138 and 139:
José Capela138Foi assim que o mini
- Page 140 and 141:
José Capela140atribui às pressõe
- Page 142 and 143:
José Capela142ocaso do capitão Al
- Page 144 and 145:
José Capela144porque em Moçambiqu
- Page 146 and 147:
José Capela146no tráfico da escra
- Page 148 and 149:
José Capela148fronteiro à Ilha de
- Page 150 and 151:
José Capela150artigos adicionais s
- Page 152 and 153:
José Capela152vitória. E quando f
- Page 154 and 155:
José Capela154Os ingleses, que já
- Page 156 and 157:
José Capela156intervir no tráfico
- Page 158 and 159:
José Capela158domínios portuguese
- Page 160 and 161:
José Capela160Inglaterra disposta
- Page 162 and 163:
José Capela162da Bandeira recusou
- Page 164 and 165:
José Capela164negócio nada aprove
- Page 166 and 167:
José Capela166de D. João VI inter
- Page 168 and 169:
José Capelacomércio britânico, a
- Page 170 and 171:
José Capela170nesta verba débitos
- Page 172 and 173:
José Capelaeconómico dos dois pa
- Page 174 and 175:
José Capela174Os projectos, tímid
- Page 176 and 177:
José Capela176em nova era. O que a
- Page 178 and 179:
José Capelaesclavagistas e dadas a
- Page 180 and 181:
José Capela180algodão, para o qua
- Page 182 and 183:
José CapelaANEXOSCOMPRA DE UM ESCR
- Page 184 and 185:
José Capela184CIRNE, Manuel Joaqui
- Page 186 and 187:
José CapelaRESULTADO DOS TRABALHOS
- Page 188 and 189:
José Capela188AZEVEDO, Julião Soa
- Page 190 and 191:
José Capela190GOMES, Marques - LUC
- Page 192:
José Capela192SANCEAU, Elaine - D.