José Capela68extremamente diversificada dos seus componentes, que ia desde os piorescriminosos degredados até nomes sonantes da nobreza do reino. E heterogeneidadeigualmente proveniente das condições diferentes em que cadaum exercia o mester.Não estava em pé de igualdade um pequeno mercador sem capital, semembarcações próprias, e um governador que facilmente podia dispor degrossas somas, usar da autoridade a favor do negócio e que chegava (comoaconteceu) a armar barcos negreiros.Como quer que seja, a verdade é que se entrou no século XIX com as colóniasde Angola e de Moçambique reduzidas a meros alfobres de mão-de-obraescrava para fornecimento ao exterior. Para os dez anos, de 1780 a 1790, epara Angola, os «direitos e subsídios de escravos» entraram na totalidade dareceita pública, de 490 205 000 réis, com 432 000 000 réis, sendo a diferença,portanto, apenas de 12 % da receita total. Esta devida à cobrança dos dízimos,rendimentos das salinas e da exportação das pontas de marfim (115) . Em1770, o rendimento da exportação de escravos de Angola tinha sido de 150contos; os demais créditos não atingiam, em conjunto, tal soma (116) . Em 1803,o rendimento de Angola e Benguela foi de quase 191 000$000 réis, entrandonesta conta 162 000$000 réis provenientes da exportação de escravos e29 000$000 réis de outras origens (117) . De 1817 a 1819 o número médio anualde escravos de Angola para o Brasil era de 22 000. A receita pública atingia217 000$000 réis, sendo a dos escravos 177 000$000 réis. Antes de 1834, orendimento dos escravos era de 134 contos, enquanto que as outras receitasnão ultrapassavam os 32 contos, moeda fraca (118) . No mesmo ano em que Sáda Bandeira publicou o decreto da abolição, 1936, o total dos rendimentospúblicos do conjunto das colónias portuguesas era de 578 535$000 réis. Paraeste montante contribuíam as colónias onde o tráfico era mais intenso com290 contos. Desta última quantia, duzentos contos provinham do tráfico daescravatura e apenas 90 de outras receitas (119) .Resta saber quem vinha a fazer este negócio.115 Avila de Azevedo, ob. cit., in ACTAS..., cit., págs. 121 e segs.116 Andrade Corvo, ESTU<strong>DO</strong>S SOBRE AS PROVÍNCIAS ULTRAMARINAS, I, Lisboa, 1883, pág. 15.117 Sá da Bandeira, O TRABALHO RURAL E A ADMINISTRAÇÃO COLONIAL, Lisboa, 1873, pág. 18.118 Andrade Corvo, ob. cit., I., pág. 18.119 Idem, pág. 19.2007
As Burguesias Portuguesas e a Abolição do Tráfico de Escravatura, <strong>1810</strong>-<strong>1842</strong>A CLASSE ESCLAVAGISTAANGOLANA.05Recuando no tempo, vemos que logo no período inicial da ocupação doterritório mais tarde conhecido por Angola e durante o qual as intençõesrégias eram, aparentemente, as de transferir para a África o esquemado sistema dominial europeu, tudo ficou prejudicado pelo tráfico dosescravos. E que a doação feita a Paulo Dias de Novais fazia incidir os direitossenhoriais na exportação de escravos. Era a contradição insuperável dentrodo próprio sistema que se pretendia implantar mas nada impediu que otráfico tomasse imediatamente, ainda no século XVI, enormes proporções.O avassalamento forçado dos sobas era traduzido com pesados pagamentosem escravos (120) . O negócio foi em tal aumento e deu lugar a tantos abusose violências que, no Regimento dado ao governador Tristão da Cunha(1666), se proibia que os brancos fossem ao resgate para o sertão por causadas injustiças que aí faziam «recebendo dos governadores, por interesse,uma insígnia de Capitão, para vexarem os Povos mais a seu salvo» (121) .Exigiam carregadores aos povos, assaltavam as caravanas de escravos quese dirigiam às feiras, etc. Os próprios comerciantes negros debandavam,perante tanta violência.Um desses capitães, António José da Costa, foi classificado por Melloe Castro (122) como «tido e havido por um dos maiores ladrões do sertãode Angola». Conseguiu casar a sua filha com João Ribeiro de Sousa. Este,irregularmente, chegou a chefe da secretaria do governo de Angola, nogoverno de José de Almeida e Vasconcelos Soveral Carvalho (Barão deMoçâmedes), que desembarcou em Luanda a 7 de Setembro de 1784 egovernou até Setembro de 1790. Além dos abusos na secretaria, e apesar69120 Alfredo de Albuquerque Felner, ANGOLA, Coimbra, 1933, pág. 209.121 Mello e Castro a Manuel Almeida e Vasconcelos, 7/Agosto/1791, in ANGOLANA (Documentaçãosobre Angola), I, Luanda e Lisboa, 1968, pág. 51.122 Mello e Castro a Almeida e Vasconcelos, idem, págs. 44 e segs.E-BOOK CEAUP
- Page 1:
EDIÇÕESELECTRÓNICASCEAUPAS BURGU
- Page 5 and 6:
AS BURGUESIAS PORTUGUESASE A ABOLI
- Page 7:
ÍNDICEPREFÁCIO 9INTRODUÇÃO 111.
- Page 12 and 13:
José Capela12Estudar, pois, a abol
- Page 15 and 16:
As Burguesias Portuguesas e a Aboli
- Page 17 and 18: As Burguesias Portuguesas e a Aboli
- Page 19 and 20: As Burguesias Portuguesas e a Aboli
- Page 22 and 23: José Capela22da tal ordem senhoria
- Page 24 and 25: José CapelaCom a extinção das co
- Page 26 and 27: José Capela26defrontavam em Portug
- Page 28 and 29: José Capelaexpansão que dela se p
- Page 30 and 31: José CapelaOra, a primeira de toda
- Page 32 and 33: José Capela32retirada dos monopól
- Page 34 and 35: José CapelaSe pode aceitar-se como
- Page 36 and 37: José Capelada consideração sober
- Page 38 and 39: José Capela38«Tolos eram os portu
- Page 40 and 41: José Capelapronto, e que era miste
- Page 42 and 43: José Capela42comércio legítimo n
- Page 44 and 45: José Capelaem que este comércio d
- Page 46 and 47: José Capela46Porto do que em Lisbo
- Page 48 and 49: José Capela48metrópole» (81) . M
- Page 50 and 51: José Capela50momentâneo bem da ag
- Page 52 and 53: José Capelado tráfico da escravat
- Page 54 and 55: José Capela54que o tráfico da esc
- Page 56 and 57: José Capela56Mas os brasileiros ta
- Page 58 and 59: José Capela58a sair em navios port
- Page 60 and 61: José Capelaprojecto para proibiç
- Page 62 and 63: José Capelaefeitos da convulsão p
- Page 64 and 65: José Capelaexactamente porque não
- Page 66 and 67: José Capela66milícia, no comérci
- Page 70 and 71: José Capela70da proibição que im
- Page 72 and 73: José Capela72desenganar aos comiss
- Page 74 and 75: José Capela74que puderam reduzir a
- Page 76 and 77: José Capela76As posições políti
- Page 78 and 79: José CapelaFoi sugerido que uma da
- Page 80 and 81: José Capela80O próprio Sá da Ban
- Page 82 and 83: José Capela82limitando a observaç
- Page 84 and 85: José Capela84se viam pequenos cobe
- Page 86 and 87: José Capela86netos, e a sua fortun
- Page 88 and 89: José Capela88de 150 a 200 pessoas,
- Page 90 and 91: José Capela90medida havia de traze
- Page 92 and 93: José CapelaOutro índice significa
- Page 94 and 95: José Capela94senhores. Conquista q
- Page 96 and 97: José Capela96Como a transmissão d
- Page 98 and 99: José Capela98com que se divertiam
- Page 100 and 101: José Capela100de escravos em grand
- Page 102 and 103: José Capela102populações dominad
- Page 104 and 105: José Capela104militarmente aqueles
- Page 106 and 107: José Capela106economicamente. A au
- Page 108 and 109: José Capela108capitão-general Dav
- Page 110 and 111: José Capela110O mesmo governador,
- Page 112 and 113: José Capela112eram dos mais ricos
- Page 114 and 115: José Capela114Estamos portanto dia
- Page 116 and 117: José Capela116O que aproveitava, s
- Page 118 and 119:
José Capela118todos os navios da m
- Page 120 and 121:
José Capela120enriquecer rapidamen
- Page 122 and 123:
José Capelatem ido deste país par
- Page 124 and 125:
José Capela124Não há dúvida que
- Page 126 and 127:
José Capela126disso o mesmo govern
- Page 128 and 129:
José Capela128para fazer o contrab
- Page 130 and 131:
José Capela130Ocidental apenas um
- Page 132 and 133:
José Capela132Esta narrativa deixa
- Page 134 and 135:
José Capela134de que Cirne o acusa
- Page 136 and 137:
José Capela136sindicância, porque
- Page 138 and 139:
José Capela138Foi assim que o mini
- Page 140 and 141:
José Capela140atribui às pressõe
- Page 142 and 143:
José Capela142ocaso do capitão Al
- Page 144 and 145:
José Capela144porque em Moçambiqu
- Page 146 and 147:
José Capela146no tráfico da escra
- Page 148 and 149:
José Capela148fronteiro à Ilha de
- Page 150 and 151:
José Capela150artigos adicionais s
- Page 152 and 153:
José Capela152vitória. E quando f
- Page 154 and 155:
José Capela154Os ingleses, que já
- Page 156 and 157:
José Capela156intervir no tráfico
- Page 158 and 159:
José Capela158domínios portuguese
- Page 160 and 161:
José Capela160Inglaterra disposta
- Page 162 and 163:
José Capela162da Bandeira recusou
- Page 164 and 165:
José Capela164negócio nada aprove
- Page 166 and 167:
José Capela166de D. João VI inter
- Page 168 and 169:
José Capelacomércio britânico, a
- Page 170 and 171:
José Capela170nesta verba débitos
- Page 172 and 173:
José Capelaeconómico dos dois pa
- Page 174 and 175:
José Capela174Os projectos, tímid
- Page 176 and 177:
José Capela176em nova era. O que a
- Page 178 and 179:
José Capelaesclavagistas e dadas a
- Page 180 and 181:
José Capela180algodão, para o qua
- Page 182 and 183:
José CapelaANEXOSCOMPRA DE UM ESCR
- Page 184 and 185:
José Capela184CIRNE, Manuel Joaqui
- Page 186 and 187:
José CapelaRESULTADO DOS TRABALHOS
- Page 188 and 189:
José Capela188AZEVEDO, Julião Soa
- Page 190 and 191:
José Capela190GOMES, Marques - LUC
- Page 192:
José Capela192SANCEAU, Elaine - D.