Parte 1 - Tribunal Regional Federal da 4ª Região
Parte 1 - Tribunal Regional Federal da 4ª Região
Parte 1 - Tribunal Regional Federal da 4ª Região
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Currículo<br />
_____________________________________________________________________________________________________<br />
Permanente - Módulo IV - Direito Penal - 2008 João Gualberto Garcez Ramos<br />
De acordo com essa maneira de produzir a prova testemunhal, ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s partes, à medi<strong>da</strong> que vai<br />
sustentando a acusação ou a defesa, vai indicando e interrogando testemunhas sobre ca<strong>da</strong> ponto de<br />
sua sustentação. Em segui<strong>da</strong>, passa a testemunha à parte contrária (<strong>da</strong>í o nome: exame cruzado; as<br />
partes se cruzam na argüição <strong>da</strong>s testemunhas) para que esta, por sua vez, interrogue sobre o mesmo<br />
ponto.<br />
Se qualquer <strong>da</strong>s partes entende que uma pergunta é impertinente ou sugestiva, protesta contra ela.<br />
O juiz, que na<strong>da</strong> pergunta, que assiste aos interrogatórios e aos depoimentos passivamente, só<br />
intervém para aceitar ou repelir os protestos <strong>da</strong>s partes. Se admite, a testemunha não precisa ou,<br />
melhor, não deve responder à pergunta. Se rejeita, a testemunha está obriga<strong>da</strong> a responder. 413<br />
Quanto às vantagens e desvantagens desse sistema, HÉLIO TORNAGHI é inconcluso,<br />
ao afirmar que “o sistema tem as mesmas vantagens e os mesmos defeitos do<br />
procedimento acusatório em que nasceu. Por um lado, a orali<strong>da</strong>de, o contacto direto, a<br />
objetivi<strong>da</strong>de, vivificam o depoimento e a sustentação (acusação ou defesa) a que servem<br />
de base. Por outro, entretanto, a possibili<strong>da</strong>de de coação psicológica sobre a testemunha,<br />
a facili<strong>da</strong>de de colusão entre as partes, a inidonei<strong>da</strong>de para atingir a ver<strong>da</strong>de histórica,<br />
<strong>da</strong><strong>da</strong> a disponibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> parte contrária à que está interrogando a testemunha, tudo isso<br />
são defeitos que enfraquecem o método”. 414<br />
Em todo o caso, o sistema de inquirição direta pelas partes <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> fase do<br />
procedimento especial do júri, não é exatamente igual ao exame cruzado do sistema<br />
acusatório.<br />
Com efeito, no exame cruzado do sistema acusatório, há uma prévia classificação <strong>da</strong><br />
idonei<strong>da</strong>de <strong>da</strong> testemunha aos jurados, feita pelo juiz, para que eles tenham condição de<br />
melhor julgar o depoimento que diante deles se desenvolve. 415 Essa classificação prévia,<br />
que taxa a testemunha em diversas categorias (hostil, amistosa etc.) 416 não tem<br />
equivalente no processo penal brasileiro.<br />
Por fim, o sistema não-presidencial do plenário do júri não permite, à semelhança do<br />
sistema cruzado, que as partes argumentem enquanto inquirem a testemunha. Aliás,<br />
413<br />
TORNAGHI, Hélio. Instituições…, v. 4, p. 499.<br />
414<br />
TORNAGHI, Hélio. Instituições…, v. 4, p. 499-500.<br />
415<br />
Cf. RABASA, Oscar. El Derecho…, p. 118.<br />
416<br />
Cf. em passagem já cita<strong>da</strong>, SCAPARONE, Metello. “Common Law”…, p. 118: “Na ‘cross<br />
examination’ a testemunha se presume ‘hostil’ à parte que a interroga, e dessa maneira esta poderá<br />
convidá-la a uma narração continua<strong>da</strong>, seja porque não existe suspeita de colusão entre interrogante e<br />
interrogado, seja porque o constranger a testemunha a repetir o quanto haja declarado na ‘direct<br />
examination’ pode servir para ‘controlar a solidez <strong>da</strong>s suas recor<strong>da</strong>ções’”. Trecho original: “Nella ‘cross<br />
examination’, il testimoni si presume ‘ostile’ alla parte che lo interroga, e quindi questa può invitarlo ad una<br />
narrazione continuata sia perchè non esiste sospetto di colusione tra interrogante ed interrogato, sia perchè<br />
il costringere il testimoni a ripetere di seguito quanto ha poco prima dichiarato nella ‘direct examination’ può<br />
servire a ‘controlare la solidità dei suoi ricordi’”.<br />
148