01.06.2013 Views

Parte 1 - Tribunal Regional Federal da 4ª Região

Parte 1 - Tribunal Regional Federal da 4ª Região

Parte 1 - Tribunal Regional Federal da 4ª Região

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Currículo<br />

_____________________________________________________________________________________________________<br />

Permanente - Módulo IV - Direito Penal - 2008 João Gualberto Garcez Ramos<br />

como enunciado ‘factual’”. 422<br />

Com efeito, a questão <strong>da</strong> sinceri<strong>da</strong>de ou objetivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> testemunha, seja como for<br />

coloca<strong>da</strong>, ou é puramente filosófica, ou é de tratamento científico altamente problemático.<br />

Os homens podem tanto ser verazes como mentirosos, a depender de inúmeros e<br />

incontáveis fatores, como as circunstâncias do depoimento, a personali<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

testemunha, a gravi<strong>da</strong>de do fato, os critérios subjetivos do julgamento que ca<strong>da</strong><br />

testemunha realiza sobre o fato testemunhado, os sentimentos de gratidão, ódio, amor,<br />

amizade e tantos outros. Tratam-se de fatores que poderão quebrar ou ativar, em<br />

intensi<strong>da</strong>de praticamente indeterminável, senão a sinceri<strong>da</strong>de, ao menos a objetivi<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> prova testemunhal. Impossível uma análise não-tópica desses fatores, a ponto de<br />

eleger a veraci<strong>da</strong>de como fun<strong>da</strong>mento político desse meio de prova.<br />

Por outro lado, resolver-se a questão do fun<strong>da</strong>mento político <strong>da</strong> prova testemunhal<br />

com base em sua imprescindibili<strong>da</strong>de configura ver<strong>da</strong>deira redundância. Está claro que a<br />

prova testemunhal é necessária, mas nem por isso possui mérito político.<br />

Esclareça-se que a colocação de FERNANDO DA COSTA TOURINHO FILHO é precisa,<br />

posto que insuficiente; de fato, a prova testemunhal é, no Brasil, imprescindível. E o é por<br />

diversas razões, muitas delas liga<strong>da</strong>s às condições sociais e econômicas do país.<br />

Essas condições, induvidosamente péssimas, impõem o freqüente acirramento de<br />

crises, que levam ao recrudescimento <strong>da</strong> criminali<strong>da</strong>de patrimonial. Além disso, o<br />

desemprego, a piora <strong>da</strong>s condições de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população, o enfavelamento, a exclusão<br />

<strong>da</strong> população <strong>da</strong>s decisões políticas, 423 fazem a criminali<strong>da</strong>de violenta, patrimonial ou<br />

não, também aprofun<strong>da</strong>r-se.<br />

Outrossim, <strong>da</strong>do que a maior parte <strong>da</strong> população não possui suficiente grau de<br />

instrução, as trocas de natureza econômica, mesmo quando opera<strong>da</strong>s pela classe média,<br />

422<br />

CORDERO, Franco. Procedura…, p. 575. Trecho original: “L’obiettività della testimonianza, postulata<br />

<strong>da</strong>lle norme, appare illusoria a chi consideri l’interno neuropsichico: già l’apparato sensorio sceglie i possibili<br />

stimoli; codificate secondo modelli relativi agli individui, le impressioni compongono un’esperienza percettiva<br />

i cui fantasmi variano alquanto nel processo mnemonico, tanto più se la reminiscenza no fosse spontanea<br />

ma sollecitata, come capità ai testimoni; infine, convertito in parole, il manipolatissimo prodotto mentale<br />

emerge come enunciato ‘factual’”.<br />

423<br />

Cf. PELLEGRINO, Hélio. “Psicanálise <strong>da</strong> criminali<strong>da</strong>de brasileira: ricos e pobres”, em FSP,<br />

(7.out.1984), cad. “Folhetim”, p. 6-7: “A criminali<strong>da</strong>de dos miseráveis, dos famintos, dos desesperados, dos<br />

revoltados, exprime uma forma perversa de protesto social, que não conduz a na<strong>da</strong> e, sem dúvi<strong>da</strong>, piora<br />

tudo. O delinqüente, ao cometer o seu crime, não pretende nenhuma transformação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. Ao<br />

contrário, busca identificar-se imaginariamente com o seu inimigo de classe, copiando-lhe caricatamente os<br />

defeitos e deformi<strong>da</strong>des. Quando um ladrão assalta um apartamento na Vieira Souto, não comete ato de<br />

desapropriação socialista. Na ver<strong>da</strong>de, ele quer ocupar o lugar do milionário, usurpando-lhe o status e os<br />

privilégios”.<br />

151

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!