Parte 1 - Tribunal Regional Federal da 4ª Região
Parte 1 - Tribunal Regional Federal da 4ª Região
Parte 1 - Tribunal Regional Federal da 4ª Região
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Currículo<br />
_____________________________________________________________________________________________________<br />
Permanente - Módulo IV - Direito Penal - 2008 João Gualberto Garcez Ramos<br />
Seção D<br />
A audiência processual penal e os “sistemas”<br />
§ 1º Sistema inquisitório (audiência canônica)<br />
a) o processo canônico<br />
O processo canônico representou, conforme dito, um relativo retorno ao sistema<br />
vigente em Roma, na fase imperial, denominado cognitio extra ordinem. 150 Mais do que<br />
um retorno, porém, significou o efetivo aperfeiçoamento do sistema inquisitório.<br />
O processo <strong>da</strong>s jurisdições eclesiásticas, leciona JOÃO MENDES DE ALMEIDA JÚNIOR,<br />
principiou não se afastando muito do processo vigente entre os bárbaros. 151 Assim,<br />
baseava-se em acusação, sua instrução admitia, ao menos em seu início, as provas<br />
irracionais, sendo que as audiências eram caracteriza<strong>da</strong>s pela orali<strong>da</strong>de. Contudo, já se<br />
entremostrava uma preferência do processo canônico pelas formas escritas: Accusatorum<br />
personae nunquam recipiantur sine scripto. 152<br />
No seu início, como dito, o processo canônico admitia os ordálios (purgatio vulgaris)<br />
como a prova <strong>da</strong> água fervente e do ferro em brasa. Contudo, e baseado no princípio de<br />
que Ecclesia abhorret sanguinem, o Papa Estevão V, durante o Século IX, através de um<br />
decreto, proibiu-os. 153<br />
Do clássico de HEINRICH KRAMER e JAMES SPRENGER sobre a persecução penal <strong>da</strong><br />
bruxaria, extraem-se os seguintes trechos sobre os ordálios: “tais provas são ilícitas por<br />
duas razões. Em primeiro lugar, porque o seu propósito é o de julgar coisas ocultas cujo<br />
julgamento só cabe a Deus. Em segundo lugar, por não haver uma autori<strong>da</strong>de Divina para<br />
tais provas, e nem serem elas sanciona<strong>da</strong>s nos escritos dos Santos Padres. (...) Há,<br />
to<strong>da</strong>via, uma diferença entre um duelo e o ordálio pelo ferro em brasa ou por água<br />
fervendo. O duelo se afigura mais humanamente razoável – por serem os combatentes de<br />
força e de habili<strong>da</strong>de semelhante – do que a prova pelo ferro em brasa. Pois embora o<br />
propósito de ambos seja o de descobrir alguma coisa oculta através de um ato humano,<br />
no caso do ordálio pelo ferro em brasa busca-se um efeito miraculoso, o que não<br />
150<br />
MARICONDE, Alfredo Velez. Estudios…, p. 79.<br />
151<br />
ALMEIDA JÚNIOR, João Mendes de. O processo…, p. 64.<br />
152<br />
Decreto de Graciano, Causa II, quaest 8, cap. I, apud ALMEIDA JÚNIOR, João Mendes de. O<br />
processo…, p. 64.<br />
153<br />
Decreto de Graciano, Causa II, quaest 5, cap. XX, apud ALMEIDA JÚNIOR, João Mendes de. O<br />
processo…, p. 65.<br />
48